sexta-feira, 28 de maio de 2010

Segunda Exposição de Pintura no Zambeziana


A Palhota é pequena mas tem a alma grande e eu fico feliz quando recebo Artistas de todos os quadrantes. Não escondo o meu amor pela Pintura… eu que não pinto nada… nem mesmo uma parede!!!

Comecei pelas Aguarelas… Hoje trago Óleos e Acrílicos… Lindíssimos! O DIOGO é outro Amigo que encontrei neste mundo virtual. Espero que gostem e que o passem a visitar no seu blog (http://salvaterrazimbra.blogspot.com/) onde ele expõe as suas pinturas de um modo muito interessante, envolvendo-as com poemas e textos de autores locais.
A ti, DIOGO, obrigada por teres aceite o meu convite e acredita que a Palhota brilha numa explosão de cores e Arte.


Dados Biográficos:
- Joaquim Diogo
- Nascido em Salvaterra do Extremo - Distrito de Castelo Branco
- Morador em Sesimbra
- Actividade profissional: Bancário
- Auto didacta na pintura com várias exposições colectivas e individuais

Exposições:
> Espaço Cultural Junta de Freguesia de Santiago - Dezembro de 1993.
> Espaço Cultural Junta de Freguesia do Castelo - Novembro de 1994.
> Galeria da Cooperativa dos Empregado do B.N.U. - Lisboa, Abril de 1995.
> Espaço Cultural Junta de Freguesia do Castelo - Sesimbra, Junho de 1995.
> Exposição Colectiva do Festival do Mar - Galeria Arte e Mar - Setembro de 1995.
> Restaurante Padaria - Sesimbra, Abril de 1996.
> Junta Freguesia do Castelo - Sesimbra, Abril de 1998.
> Ayuntamiento de Aller – Galiza, Espanha, Novembro de 1998.
> Exposição Colectiva do Rotary Club de Sesimbra - Dezembro de 2003.
> Exposição Colectiva -Liga do Amigos de Sesimbra - Junho de 2005.
> Exposição Colectiva a favor da Igreja Paroquial de Santiago - Janeiro de 2007.
> Exposição Individual a Convite da Junta de Freguesia de Santiago - Sesimbra, Julho de 2007.
> Exposição Colectiva dos 600 anos do Cabo Espichel - 2010
> Representado em diversas colecções particulares e de Instituições várias.


Acrílico - Alma de Sesimbra


Acrílico - Praia da Rocha (Algarve)


Acrílico - Pescadores, Sesimbra


Acrílico sobre tela - Cabo Espichel I


Acrílico sobre tela - Cabo Espichel I


Óleo - Cidade Inventada


Óleo - Castelo de Sesimbra


Óleo - Ir Para a Faina


Óleo - Malmequeres Van Gogh


Óleo - Procissão das Chagas


Óleo - Sesimbra Antiga - Redes ao Sol


Óleo - Sesimbra Antiga I


Óleo - Paisagem, Beira Alta


segunda-feira, 24 de maio de 2010

Mordomias


Em Quelimane e em toda a Zambézia os funcionários públicos administrativos tinham direito a moradia mobilada com o essencial e às vezes, mais do que o essencial.
Isto acontecia porque, como eles afirmavam, e era verdade, andavam sempre com “a casa às costas” e o Governo facilitava-lhes a vida nesse sentido.
Julgo que, no resto do país (Lourenço Marques, Beira, Nampula etc.) também estes tinham direito à habitação mas aqui eram apenas contemplados os mais altos funcionários.
Um dia foi colocado em Quelimane um novo Director da Fazenda. O anterior tinha chegado à idade da aposentação e regressara com a família a Lourenço Marques.
Entretanto o Governo Distrital resolveu aproveitar a ausência temporária do novo morador da casa (casarão) do Director de Fazenda para operar nela várias modificações. Pintá-la, modernizá-la um pouco e até renovar mobiliário e cortinados.
O nosso herói foi avisado por telegrama que só deveria apresentar-se em Quelimane daí a uma semana… Mas, tal como um gato guloso perante um bom prato de leite, ele lambia-se imaginando todas as honrarias que estariam à sua espera. De um desconhecido e vulgar funcionário público, passaria a ter direito a regalias com que nunca sonhara…
Não desconhecia que na Zambézia os funcionários públicos mais graduados eram… pequenos reis! E à medida que pensava em todas essas mordomias, inchava como o sapo da velha história.
Avisou a família:
-Vou mais cedo para preparar tudo para a vossa chegada!
A família achou que era natural pois para além de Director da Fazenda ele era, primeiramente, chefe de família!
Fez um simples telefonema para Quelimane avisando a sua chegada antecipada.
Perguntaram-lhe se vinha só. Disse que sim.
O funcionário responsável do departamento de colocações respirou aliviado e de imediato marcou um quarto no melhor Hotel da cidade.
Encarregou o motorista negro que fosse buscar o senhor Director ao aeroporto no carro do Governo e o levasse directamente para o Hotel uma vez que o Governador e o seu Secretário estavam ausentes em visita Distrital como era habitual todos os meses.
O motorista ainda perguntou:
-Este senhor Director não vai ter carro?
-Claro que sim mas está também a ser alvo de uma revisão para o entregar sem qualquer problema.


No dia seguinte, muito antes da hora de chegada do avião que vinha de Lourenço Marques, o motorista, devidamente fardado, olhava pela vigésima vez o carro do governo, procurando qualquer mancha ou alguma poeira indesejada e gastava as solas dos sapatos do carro para a sala de espera e vice-versa.
Pensava: Como o vou conhecer? Sabia apenas o seu nome.
Mas seria mais fácil do que ele pensava!
Quando começaram a sair os passageiros numa diversidade própria de um aeroporto que ficava a meio de Moçambique e era escala para diversos pontos do Norte, o motorista apercebeu-se logo do personagem que esperava.
Um homem vestido com um bom fato, alto, empertigado, com um olhar vaidoso, foi o último a descer do avião.
Do alto da escada respirou fundo, olhou para todo o lado… talvez à espera da fanfarra e achou que faltava ali alguma coisa. Apertou a pasta de boa pele que trazia na mão e foi descendo devagar talvez à espera que alguém viesse a correr e estendesse a passadeira vermelha…
Entrou na sala de espera um pouco confuso e atordoado.
De repente uma voz junto a si perguntou:
-É o senhor Director de Fazenda?
Olhou espantado a cara negra do motorista.
-Sou… e o senhor Governador onde está?
O motorista ficou surpreendido e não querendo dizer-lhe que era sempre ele, com o Secretário, que vinha buscar as novas individualidades públicas colocadas em Quelimane, pensou rapidamente e esclareceu:
-O senhor Governador e o senhor Secretário estão ausentes visitando o Distrito e pedem muita desculpa de não estarem presentes mas como o senhor Director veio mais cedo….
O VIP acalmou-se um pouco.
-Vamos lá então e leve-me a minha casa.
O motorista engasgou-se…
-A casa do senhor Director ainda não está pronta…só daqui a dois dias…
-O quê? - E o grito foi tão arrepiante que o motorista deixou ir o carro abaixo.
-Desculpe senhor Director mas eu vou levá-lo ao Hotel onde tem quarto marcado e logo irei buscá-lo para se apresentar no Governo.
-O quê? - repetiu outra vez. Também não tenho carro? Em Lourenço Marques, no Governo Geral, vão saber de todas estas deficiências e o modo como recebem a autoridade.


Quem conhece Quelimane sabe que os aeroportos (tanto o antigo como o novo) distam uns quilómetros da cidade. Por isso, o motorista decidiu não abrir mais a boca e carregou no acelerador.
Entretanto, o sapo, isto é, o Director, desfiava todos os adjectivos pejorativos que conhecia.
-É aqui o Hotel, senhor Director – Disse o motorista tirando o boné e abrindo-lhe a porta do carro.
-Não, não! Primeiro quero passar pela minha casa.
O motorista fez-lhe a vontade. Quando passaram pelo casarão, que tinha andaimes, pôde realmente constatar que estava a ser pintado. Os olhos reviraram-se perante a sua nova moradia rodeada de um largo espaço com um jardim bem cuidado. A vaidade encheu-lhe o peito e teve de desapertar o nó da gravata.
O motorista deixou-o no Hotel com algum alívio, perturbado com tanta importância e vaidade que nunca tinha visto em ninguém.
Quando chegou ao Governo avisou que o senhor Director já estava alojado no Hotel mas que não ficara nada satisfeito por não ter a casa pronta para se instalar.
-Deixa lá! Logo, quando se apresentar já terá o seu Mercedes aqui pronto e tenho a certeza que lha passará a azia.
Mas o senhor Director não apareceu.
À noite, uma noite abafada e quente, normal no Chuabo, o passeio em frente ao Jardim Municipal onde havia um velho coreto, estava apinhado de pessoas que se riam sem compreender bem o que se passava.
O senhor Director, no meio do coreto, deitado num “burro”(cama articulada muito usada no interior do mato) de pijama, preparava-se para dormir, tendo ao lado um penico e um relógio despertador.
No gradeamento do coreto lia-se um cartaz:
“É assim que Quelimane recebe as altas individualidades do Distrito, nomeadas pelo Governo Geral de Moçambique.”
Quem não gosta de mordomias? Mas deu resultado…


quarta-feira, 19 de maio de 2010

Lia No Teu Olhar...


Lia no teu olhar noutro tempo. Continuará límpido, brando, sereno como o nosso rio correndo por entre os salgueirais e bebendo o pó da estrada velha para a praia? Foi assim que te conheci e nasceu a amizade. Eu bem sei que os tempos são outros e já não estamos do outro lado do mundo… As águas correram turvas e fortes mas tenho esperança que não te tenhas deixado levar pela corrente. Não queria encontrar-te diferente, preso em cachoeiras de cinismo e indiferença, com um pé quase no abismo. Quando te encontrar, não te quero dizer: Como mudaste! Pode o teu rosto estar sulcado de rugas como as da nossa mangueira, cuja sombra acompanhava o desfiar das nossas confidências… Mas os teus olhos, não! São faróis que olhavam a vida com esperança deitados até à barra quando vislumbrávamos navios entrando pelo rio e nós, debruçados na Pérgula, acenando como loucos… A prata caiu nos teus cabelos. É natural! Passou uma vida, o que querias? Mas não quero encontrar desencanto no teu olhar. Foram muitas as marés pelas quais o teu barco passou e tal como um comandante, saberás olhar com firmeza as ondas do mar alto e aportar com segurança em qualquer lugar. Mas aí, não fujas com o teu olhar. Pega na minha mão e vem comigo retomar as conversas que deixámos ontem, na Marginal, numa roda de amigos. É o passado de todos e por isso o teu olhar tem de ser o mesmo. Não fujas! Já oiço as discussões intermináveis que tínhamos sobre tudo e sobre nada, as apostas por um bolo no Riviera, as decisões sobre o filme a ir ver, conversas simples que teciam momentos maravilhosos em que os dias se tornavam maiores e o sol ficava connosco mais tempo até desaparecer por entre o palmar. Dá-me o teu olhar antigo. Não te peço mais nada… e a vida continuará como um rio, simplesmente…

Aqui, começava a Marginal.
O muro do quartel e do outro lado ficava a
Pérgula onde se vinha dizer adeus até o navio ser apenas
um ponto negro ou então, conversar, conversar e
porque não? Namorar…


sexta-feira, 14 de maio de 2010

No Meu Tempo...



Hoje em dia é difícil ser-se filho em Portugal! No meu tempo os pais andavam atrás de nós para cortarmos o cabelo. Hoje os pais modernos vão á escola buscar os miúdos de rabo – de - cavalo! No meu tempo tínhamos de fumar ás escondidas. Hoje, os miúdos têm de tossir antes de entrar na sala para dar tempo aos pais para esconder o charro.
Sejam compreensivos para com os vossos pobres pais! Estão a atravessar uma fase difícil. Todas as fases da vida são difíceis. A idade do armário não é só aos 11 anos – regressa de 10 em 10 anos, aos 21, 31, 41, 51. O armário pode ir mudando, mas as pessoas fecham-se lá dentro da mesma maneira.
Rapazes e raparigas deste país: não tenham vergonha do rabo-de-cavalo do vosso pobre pai nem da ultramini - saia da vossa pobre mãe. O rabo-de-cavalo é apenas uma retirada estratégica do cabelo pelo pescoço abaixo. Quanto mais careca se fica mais cresce o rabo-de-cavalo. A ultramini -saia é apenas um acto de compensação. Quanto menos giras se sentem as mães, maior superfície têm de mostrar. Há uma relação perversa de qualidade e quantidade.
O pai pensa “Estou careca mas tenho o cabelo comprido”. A mãe pensa “Como estou menos gira, tenho de mostrar mais a giraça que eu ainda sou.”


No meu tempo todas as crianças sonhavam ser como os pais quando crescessem. Hoje, todos os pais querem ser como os filhos. Antigamente nós crescíamos. Hoje, eles decrescem.
As crianças já são adultas aos 9 anos – fanáticas, censuradoras, antitabagistas, ralhadoras – enquanto os adultos readquirem comportamentos infantis. O fenómeno de decrescimento , que ataca a partir dos trinta e tais, é um processo que vós filhos perplexos e embaraçados, tendes de perceber. Até há pouco tempo as pessoas faziam tudo para não envelhecerem. Hoje, esse absurdo desejo já não lhes chega. Nem sequer querem rejuvenescer – querem ser jovens mesmo.
Há qualquer coisa de irritante num pai que se veste igual ao filho – jeans, T-shirts, blusão de cabedal – que anda de mota, que manda postais de James Dean, que “ compreende” sempre o ponto de vista dos putos, que se pode tratar por tu ou até pelo próprio nome. Esse pai, ao reduzir a zero as hipóteses de rebelião dos filhos está a ser mais castrador que o mais autoritário dos velhos pais do antigamente. Hoje, é quase impossível ter um conflito geracional minimamente decente.
Os filhos dos antigos hippies têm poucas alternativas. Alguns ficam iguais aos pais ( há toda uma nova geração de friquezinhos nos liceus.) A maioria torna-se num rebanho de superbetos, de camisa ás riscas e olho na bolsa, para reagir aos calções ou às jardineiras do pai.
Há outros que preferem tornar-se em nazizinhos. O autoritarismo e militarismo dos skinheads de extrema direita são o produto de uma educação hippy, super-tolerante, de pais “tudo bem”, que estão sempre a descartar-se com o “ tu é que sabes”.
Os valores são dados às crianças para lhes dar algo que pensar, contra os quais se possam erguer, que possam rejeitar e um dia substituir ou até reencontrar. Se se diz a uma criança “ tu é que sabes” a criança fica sem saber o que pensar. Ou por outra: fica a pensar que os pais não sabem nada, ou que se estão a borrifar.
As crianças precisam de regras que possam quebrar, ordens às quais possam desobedecer , figuras com as quais possam medir forças. É preciso ralhar com as crianças para elas criarem um saudável sentido de injustiça. É capaz de ser melhor assentar uma chapada numa criança do que mostrar-se independente.
Um pai com um rabo-de-cavalo não consegue dar uma descasca convincente a ninguém. O rabo-de-cavalo abana no ar ou de repente rebenta-se o elástico e o efeito prepotência paternal, que é essencial, não se pode produzir.
Os miúdos portugueses de hoje – vá lá, os que têm entre 8 e 14 anos – são autênticos mártires. Educam-se praticamente sozinhos. Controlam os vícios dos pais, “Ó mãe, não fumes tanto”. “Ó pai, já bebeste sete imperiais!” Desaprovam. Tentam debalde emendar. Dão conselhos acerca do vestuário. “Ó pai, fica mais giro de fato do que essa t-shirt dos Inspiral Carpets”. Julgam. Sentenciam. Só falta emprestarem dinheiro. Na verdade, os miúdos portugueses de hoje são espécies de padrinhos dos próprios pais. Vamos lá: os encarregados de educação.
Do que a mocidade precisa é de algumas indicações básicas acerca do modo de lidar com os pais, quando eles estão a atravessar um período difícil. O pior que se pode fazer é tentar “perceber” ou “ajudar”. O melhor é simplesmente desatinar. Péssimo comportamento é o mais indicado. Pensem. Porque não roubar a quem não tem, destruir só por destruir qualquer objecto de família com “valor sentimental” ou mandar a avó para aquela parte durante um ataque de asma?
O comportamento animalesco é o melhor estimulo que há para desbananar parentes. Filhos de pais bananas, revoltai-vos. Ponham cocó de gato no sítio onde está a pedra de hash. Rapem a cabeça. Peçam asilo político ao Iraque. Peçam dinheiro para comprar uma galinha e expliquem amavelmente que é para uma missa negra. Travem amizades profundas com junkies de meia idade.
Crianças deste país: não desanimem. A coisa está torta mas ainda há esperança. Isto é, por enquanto. Se não agirem já, correm o risco de crescerem demasiado direitinhos, todos bem vestidos e disciplinados, cheios de saúde e de dinheiro. O que não tem mal nenhum. O pior é que depois casam, têm filhinhos e, ao querer-lhes dar uma educação firme e regrada, vão ter o grande desgosto de criar uma nova geração de hippiezinhos. Ainda mais macrobiótica e macrochata do que a dos vossos pais. Como se essa não bastasse já.
E quanto ao rabo-de-cavalo do pai, a única arma eficaz é dizer-lhe, assim como quem não quer a coisa, que é “giro” apesar de fazê-lo parecer mais velho. E um bocadinho mais gordo. E bastante mais careca. Aproveite para lhe implorar que não apareça mais na escola, porque os seus colegas “nunca iriam compreender”. Comprem-lhe uma rede para o cabelo no dia dos anos. Daquelas que também dão para ir ás compras. Ou um laço de veludo preto para poder aparecer na “Olá”. Ou um lenço de senhora, daqueles enormes, com desenhos de hortênsias e abelhas em delírio. Melhor ainda: uma boa bandelette em tartaruga.
Mocidade de Portugal, filhos de Alex, crianças a quem trocaram o berço por uma mochila, deixo-vos com uma última palavrinha, passada por quem tem consciência do problema ,a quem pode ainda resolvê-lo: SOCORRO!

- Miguel Esteves Cardoso

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Zambeziana Convida... Babette!


Neste mundo virtual, irrigado por tantos blogues, como se fossem rios levando e trazendo riqueza cultural, descubro verdadeiros tesouros. No momento da história em que o homem dispõe de tantos meios de comunicação, esta auto-estrada leva-me, em segundos, a um circuito pelo mundo…
Entre os meus Amigos e seguidores (gosto mais de dizer “os que frequentam a minha palhota”) há um vasto leque de Arte: escritores, poetas, cronistas, fotógrafos, pintores de aguarelas, óleos e até lápis de cores, historiadores, decoradores, artistas de artesanato, bijutaria, costura e culinária, entre muitos outros campos onde a imaginação nunca se esgota.

Hoje… convidei uma jovem que se destaca no mundo da Culinária onde reúne, com arte, a confecção da receita, os ingredientes, as suas calorias, a apresentação e o bom gosto de uma mesa em festa, posta com dedicação e amor, sem esquecer o pormenor. É Babette!!
E muito teremos a aprender com ela… Senão, reparem….


O Que Diz Babette:

Quanta honra, o meu blog culinário, um mero “recém-nascido de 4 meses”, figurar aqui no Zambeziana!... Obrigada, Graça!


Os antecedentes
Até me casar o meu pé não entrava na cozinha!... Entretanto, e já na minha casa, fui descobrindo o prazer de misturar sabores e percebendo que um cozinhado feito com amor pode confortar um nosso amigo, abrilhantar uma ocasião especial, criar afectos quando se junta a família em torno da mesa… Um pouco como o Livro (de Karen Blixen) e posterior Filme “A Festa de Babette”, que retrata de forma sublime como os sabores podem despertar afectos e emoções.

Compota de Morango


A sinopse do filme descreve-o bem: "Babette (Stéphane Audran) refugia-se da guerra que assombra a França, na casa das recatadas solteironas Martina e Philippa (Brigitte Federspiel e Bodil Kjer), filhas do então falecido pastor e mentor do lugarejo. Aos poucos, os seus dotes culinários invadem a alimentação insípida que caracteriza a rotina dos habitantes, até que um facto inesperado lhe propicia oferecer um jantar, que subtilmente vai conquistando o paladar dos convidados. A maestria com que é preparado o jantar e o requinte com que é servido, na eloquência dos detalhes, compõe um ritual de criar água na boca, ao mesmo tempo que desinibe o espírito. O vinho não só é degustado com prazer como também identificado pelo general Lorenzo (Jarl Kulle), que neste momento do filme funciona como uma ponte entre as duas culturas. A Festa de Babette é o desabrochar da alma, na descoberta do prazer sem culpa".

Quando eu preparava um qualquer jantar de festa, era usual a minha mãe e irmã, dizerem-me, em tom de brincadeira: “Bravo Babette”, numa alusão clara ao filme de que também são apreciadoras. E por isso quando surgiu o momento de criar o blog, o nome já estava há muito escolhido. Só podia ser “A Festa de Babette”…


Ementa e Mesa do Almoço de Páscoa

O blog
É apenas mais um blog sobre culinária…. Nem sei mesmo se a blogosfera precisava dele, mas a mim dá-me um enorme prazer partilhar estes tais afectos e sabores! Para além das receitas, sempre acompanhadas por fotos tiradas por mim, publico também as ementas e a decoração dos momentos especiais que vou vivendo ao longo do ano. É que gosto muito de cozinhar, de facto. Mas também gosto muito de pensar na decoração da mesa, na elaboração da ementa, na conjugação de cores e sabores... Uma ocasião especial, para mim, é sempre cinematográfica: exige produção, maquilhagem, guião e claro está, actores. Tudo faz parte do todo que se celebra! Costumo por isso, acompanhar as refeições especiais com uma ementa impressa. Faz parte da tal cinematografia… Como uma fotografia, ajuda a criar memórias, além de que se torna um belo souvenir para os convidados levarem, como uma recordação de um convívio que se deseja bem passado!


Folhadinhos de Farinheira e Espinafres / Caril de Frango


Para abrir o apetite!...
Para abrir o apetite, fica o registo de uns salgados e de alguns doces, que a vida é também feita de sal e açúcar…e de algumas ementas e mesas, imagens que, qual trailer, anunciam o filme longo, que pode ser visitado em http://afestadebabette.blogspot.com/


Tarte de Pescada e Camarão / Bolo Chiffon de Limão com Cobertura de Queijo-Creme


Ementa do Jantar do Dia do Pai


quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Sombra das Recordações


Hoje, o sol voltou a fugir. Tem feito no céu, por estes dias, um ballet de Primavera. O verde do meu quintal está molhado e as árvores da minha rua despejam grossas lágrimas pelo asfalto. Nada convidativo para sair. Resolvi continuar as minhas arrumações do passado. Alguma vez estarão arrumadas? Não creio. Peguei numa caixa grande de cartão onde há tempos enfiei tudo o que um dia me interessaria ver: cartas, bilhetinhos, postais, recortes de tudo e mais alguma coisa e fotos ainda não organizadas. É que o tempo não dá para tudo! Chamo-lhe a caixa da ternura. Tem dentro sorrisos, fios de sol, venturas, lágrimas, beijos e saudades. Não é uma caixa qualquer. Tem margaridas pintadas por fora que colheram noutro tempo todo o ouro do sol. Pego primeiro nas cartas. Há gente que já partiu mas continua a falar-me de tanta coisa que, ainda hoje, preciso dessas palavras para caminhar. Não é uma questão de insegurança ou de solidão. O que dizem é tudo tão actual que pareceria um conselho para cada dia da minha vida de hoje. A amizade não tem um tempo, não cheira a bafio e não fica nunca fora de moda. Eis a primeira carta: “Numa palavra amiga se encontra, tantas vezes, o tal atalho na busca do ideal…” Sempre guardei as tuas cartas por mil razões. A nossa amizade já vem da geração dos nossos pais, somos mulheres fortes, de fé, mas tantas vezes aos pés de uma cruz… Embrulhamos a nossa dor num papel chamado alegria e dos nossos trapos ainda conseguimos fazer mantas para tapar o frio dos outros. Ainda bem que continuas no meu caminho. E esta? Não é uma letra familiar. Uma folha de bom papel, num tom cinzento claro: ”Nós assustamo-nos com as dificuldades mas, depois, verificamos que as coisas se resolveram melhor do que temíamos. Claro que em nós tudo se interliga: a fé com a saúde, a disposição com a meteorologia e a sensibilidade com a inteligência”. Tem vinte anos esta carta e não me lembro nada da pessoa que a escreveu. Contudo, sei que nessa altura passava por uma depressão pela morte da minha mãe. Outra: “A felicidade está dentro de nós. Somos muito mais importantes do que aquilo que nos acontece”. Esta é muito, mas mesmo muito mais antiga. De alguém que me conhece desde a minha juventude e que me viu crescer por dentro e por fora. E o que é isto? Papel grosseiro, quase de embrulho… São umas quantas! ”Comadra: Aqui estamos a passar bons, não há nada do mal. Sua afilhada continua com a 4ª classe. Este ano era para passar para a 5ª mas não passou. Peço à comadra para comprar um livro pequeno, dicionário, para ela. Chuva aqui não pára desde o dia 24 de Dezembro até hoje, não tem um dia de não chuver. No ano passado passei todo de miséria visto andei a receber sempre falecimentos das famílias… Cumprimentos senhora grande. Um forte abraço sua afilhada e outro sempre seu compadre, Zacarias”. Penso no meu compadre negro, tão educado, sempre tão honesto… Recordo o dia em que ele me foi convidar para ser madrinha da pequena Esperança. Estava numa aflição e eu não entendia o motivo da tanta atrapalhação:
- Vá Zacarias, há algum problema?
- É que padrinho vai ser Zé Manel.
Entendi logo o dilema. O Zé Manuel era também negro e motorista dos serviços.
- E daí? Acho muito bem a escolha. Ele é seu amigo, seu vizinho e bom homem, não podia ter escolhido melhor.
Respirou fundo como se um peso tivesse saído de cima dele e voltasse à vida. Mas… ainda havia um mas:
- É que, como o baptizado é na Igreja da Sagrada família o almoço vai ser na minha palhota.
- Ah, na sua casa, tudo bem.
Não, ainda não estava tudo bem. O Zacarias torcia as mãos e pensava que a menina não percebia nada da vida nos arredores mais necessitados da cidade. Como se enganava! Foram cinco anos intensivos a trabalhar em grupos nos aldeamentos indígenas. Decidi abrir o jogo:
- Zacarias, vamos fazer assim. O vestido da minha afilhada, as despesas do baptizado e o Bolo mais o champanhe, pago eu. Amanhã vou a sua casa para vermos como organizar a festa; e diga ao Zé Manel para aparecer também.
Nem por nada queria deixar o padrinho de fora de toda esta movimentação. O suspiro foi mais forte ainda, finalmente a menina entendera tudo. Ainda que por caminhos diferentes, procuramos todos o mesmo: sermos felizes. E havia felicidade no rosto do Zacarias. Quando o visitei no dia seguinte vi logo a exiguidade da pequena palhota e as fracas condições. Ele olhava-me de soslaio a estudar as minhas reacções. Disse-lhe:
- Vai ser muito bom!
Espanto, espanto, espanto na cara dele e do padrinho. A menina devia estar louca…
- Vamos fazer assim, como está muito calor e bom tempo pomos a mesa aqui fora debaixo destas sombras bem boas. Eu trago as toalhas que têm de ser branquinhas e o Zé Manuel vai ao Refeba alugar a loiça e os talheres, é a sua prenda.
E o padrinho acrescentava:
- Também posso trazer o vinho e as laranjadas.
Mas o Zacarias ainda tinha uma última questão a pôr:
- E o que faço de almoço?
- Isso é que não custa mesmo nada. Tem tudo à volta da sua casa.
E olhava a pequena horta, farta e bem cuidada e os galináceos que andavam por ali à solta debicando tudo o que encontravam:
- Galinha assada à cafreal, arroz de coco e salada de alface com tomate, quer melhor?
Sorriu, num sorriso que tocava a sinos de catedrais submersas nas suas necessidades.
- Então, posso convidar o senhor padre? - perguntou a medo.
- Pode e deve!
Explosão total. Ia ter uma festa em grande na sua casa, como toda a gente.
Foi um dia lindo Zacarias! Estava tudo tão bonito… A pequena Esperança dormiu a sesta no meu colo, embalada pela aragem que passava pelas velhas árvores onde ela cresceria e se faria mulher.


Não pude acompanhar todo o seu crescimento, você sabe Zacarias… a história, os tempos, a distância… mas não deixei de ser a sua “comadra” e muito menos a madrinha da pequena Esperança. E quando as notícias me chegaram assim de chofre uma atrás da outra, eu pensei que a vida tinha sido injusta consigo, Zacarias: ”Não sei se sabes, morreu o Zacarias e também a tua afilhada ao dar à luz um filho”. Parei diante desta memória. Já passaram uns anos sobre esta notícia mas é sempre como se a tivesse recebido hoje. Num minuto descubro que passou uma vida e na lucidez deste momento penso que algumas vezes vivi a correr. Queria ser apenas a água de um rio que corre lentamente por entre lírios e ser, de vez em quando, uma ave que abre asas e num instante encontra o sabor dos dias que passaram. Para tudo é preciso tempo. Mas às vezes descobrimos, se calhar demasiado tarde, que houve um tempo em que esquecemos as causas que nos confiaram. Zacarias, não é chuva que cai nesta sua última carta… são lágrimas de quem podia ter feito mais e não fez! Um dia, Zacarias, havemo-nos de encontrar, sem preocupações do sítio onde vai ser a festa e qual a ementa que havemos de escolher. Certamente nesse dia descobriremos que afinal fomos fiéis à amizade, à alegria daquele dia em que a Esperança se baptizou, ao abraço da despedida e acredito então que haverá outro tempo para nós no qual colheremos todos os sonhos semeados, como as margaridas da caixa que fecho neste momento.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Lourenço Marques (fotos históricas)

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Em Lourenço Marques (hoje Maputo), na prodigiosa cidade do então Portugal ultramarino, capital de Moçambique, os portugueses de todas as cores foram generosos no seu trabalho, esforço, interesse em construir a cidade maravilhosa que hoje é… ali, debruçada sobre o Índico, na Baía do Espírito Santo. A coragem norteou sempre os residentes e os metropolitanos que iam chegando aos poucos. O entusiasmo foi a sua bandeira de luta, denunciador duma consciência colectiva pro forma de uma realização corajosa onde todos se reviam na Princesa do Índico.
Conheci Lourenço Marques já moderna, cosmopolita, atractiva, cheia de predicados das grandes urbes de todo o mundo… mas hoje, as fotos aqui editadas, falam-nos de uma cidade a começar a nascer, a ganhar contornos daquela cidade que levou quase oitenta anos a erguer-se sob o céu azul de Moçambique.


Fotos que nos chegam do Canadá, através de um antigo colega e amigo de sempre, JORGE CAMPOS (JOCA) que, desta forma, colabora com o ZAMBEZIANA.
Poderíamos dar-lhe o título: HISTÓRIA DE UMA CIDADE!
A ti, Joca, o meu KANIMAMBO a que se juntará, por certo, o de muitos outros… de todos aqueles que gostarem desta história…

Graça