terça-feira, 21 de agosto de 2012

Aquela Rosa Vermelha



Para além da vidraça da janela,
Aquela rosa, de um vermelho vivo,
Tão fresca e tão divinamente bela,
Lembrava um sonho, luminoso e esquivo.

Lá fora, esvoaçava,
Presa de tal encanto e de tal graça,
Uma abelha que, tonta, se chocava
Na muralha invisível da vidraça.

No jardim, a brilhar,
Brincava o sol, ao longo dos canteiros
E subia no ar
O aroma dos craveiros.

Mas a abelha, coitada, porfiava
No desejo ideal daquela rosa,
E de todas as outras desdenhosa
Sempre contra a vidraça se chocava.

 

E nem sentia as asas doridas,
E nem sentia o tempo que passava.
Tivesse ela mil vidas
Que todas mil decerto ali gastava.

Enfim, passadas horas, por acaso,
Alguém abriu essa fatal janela.
-O sol aproximava-se do ocaso,
Tinha mais brilho a rosa, era mais bela_

Mas quando a pobre abelha enlouquecida,
Entrou veloz…que decepção cruel!
A tal rosa vermelha, apetecida
…era feita de seda e papel!

Muita gente, como esta abelha,
Gasta uma vida inteira, hora após hora,
Presos de uma aparência enganadora
Como a bela rosa vermelha!

domingo, 19 de agosto de 2012

O FAROL DA AMIZADE Iluminou o Meu Dia



Zambeziana
O nosso convidado de hoje é o blog Zambeziana, da amiga Graça Pereira, de Vila Nova de Gaia, Portugal.
 
Zambeziana é um espaço onde a nostalgia e a magia de África caminham de mãos dadas.

Nele, a Graça partilha connosco vivências, saudades e textos da sua autoria que são pedaços de si transformados em palavras. Estados de alma envoltos naquele encantamento que só Africa consegue gerar em nós.

Serão precisas mais palavras para descrever a autora que tem como interesses a leitura, a escrita e a fotografia? Interesses esses bem patentes nesse cantinho multi-cultural!

 Pelo que foi acima evidenciado, a equipa do Farol convida todos os amigos a iniciar uma viagem inesquecível a esse blog, apanhando boleia no simpático automóvel vermelho que nos dá as boas vindas no início da página “Zambeziana”.

Boa viagem desde Chuabo!

 À Graça Pereira atribuímos este Diploma de Mérito pelo importante papel que o seu blog desempenha na blogosfera.
 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Férias (parte 1)



Voltei esta manhã de férias… fui numa rota de emoções, saudade e amor…  ao encontro das minhas raízes.
Poder-se-á então encontrar por toda a parte a “nossa casa”?
Ouvi cantar o cuco numa estrofe de boas vindas.
O céu muito azul, demasiado azul comparado com outros, tornava as recordações mais suaves… A aldeia expandira-se por todos os lados.

Quase a não reconheço… se não fora as rosas espalhadas em cachos festivos por cima dos muros, a velha árvore torcida cheia de ramos brilhantes e a casa amarela (onde passámos férias felizes) bem campesina aninhada entre rochedos fortes, ali bem perto da igreja… poucas referências encontraria.

Mas a casa amarela está fechada! Por detrás das vidraças vêem-se ainda as cortinas com entremeios de crochet feitos pela mãe Isabel… A cancela aos pés das pequenas escadas onde nos sentávamos a ouvir e a contar histórias e que estava sempre aberta… agora chora na sua solidão.
Apesar de tudo, sinto as almas de todos por ali, e a minha respira livremente e arejou-se. Então, as recordações, tantas, achando espaço livre, precipitaram-se todas ao mesmo tempo.
 E eu acolhi-as. Quis contemplá-las uma por uma… recordações felizes deixadas ali pelos caminhos, pelos campos loiros a perder de vista, pelas vinhas pesadas de tanta fartura.
Fiquei no Solar. Um antigo casarão também ele depositário de muitas façanhas de antepassados ilustres e hoje, um moderno hotel com traços rústicos, como eu gosto.
À noite (noites quentes como outrora…) da varanda do meu quarto, fiz a ronda pelo casario até perder de vista, escutei o canto dos grilos, contei as estrelas onde, numa delas, mora o meu querido ausente e senti que as boas recordações devem ser preservadas e aceites como elos da nossa vida.
No campo nenhum dia que nasce é igual ao anterior porque a vida germina, floresce durante a comprida noite silenciosa e, todas as manhãs, dá à terra novo aspecto.
Trouxe comigo o belo e bom pão redondo que a mãe Isabel nos dava sempre à partida (com outros mimos) e aquele folar de azeite tão saboroso. Hoje feito numa moderna padaria.



“Já deveria ter regressado há mais tempo…” - pensava ao olhar as cepas carregadas de cachos a amadurecerem sob aquele sol generoso e o feno enrolado para ser comida dos animais no inverno rigoroso daqueles montes.
Na última noite, olhando a lua quase vermelha pelos 40 graus do dia, prometi a mim mesma:
“Hei-de voltar!”

Além do pão e do folar, trouxe um coração com mais vida e com uma paz bordada de esperança.