Pelas ruas da cidade Que grande azáfama vai!!... Só se respira ansiedade Nesse contínuo entre e sai Em lojas, portas abertas Expondo muitas ofertas…
Na montra, bordada a luz Há todo um mundo risonho: É o brinquedo que seduz É o computador de sonho De grande capacidade Reclamando: Novidade!
E no Centro Comercial Há gente em inundação… Tudo nos grita Natal Com desconto e promoção E o convite repetido: Compra, que vai bem servido! Respira a nossa cidade, Com o Natal a poucos dias, Ânsias de felicidade Pois quer achar o Messias Mas aponta só um rumo: O caminho do consumo.
Somos Magos, de passagem, Na grande Jerusalém, Queremos prosseguir viagem Mas não atinamos quem Saiba da estrela perdida Que dará sentido à vida.
Todos trazemos gravada, No fundo do coração Essa pergunta sagrada Dos Magos em aflição, À procura do Divino: Onde nasceu o Menino ??
Era um rapaz alto, magro, meio aloirado, muito tímido! Sempre que o via (ria-me por dentro...), de imediato, associava-o a um espinafre ou talvez a um espargo, tão linha recta que ele era da cabeça aos pés. Éramos amigos e gostava da sua conversa onde sempre aprendia alguma coisa. Tinha uma vasta cultura geral o que o tornava diferente de todos os outros rapazes dessa época, preocupados com o último LP ou single do seu cantor preferido, o filme em cartaz no cinema mais frequentado, as festas da semana, o namorico com A ou B… Por isso estranhei quando ele me disse: - Quero falar-te de uma rapariga. Estou apaixonado! Pensaria eu que os menos dotados pela natureza não teriam um coração de carne como todos, sujeito a “estas coisas” do amor? Passado o primeiro momento de espanto, perguntei-lhe: - Quem é ela? Conheço-a? Como supunha não era ninguém do nosso grupo de convívio. De cigarro em cigarro, foi-me fazendo o seu retrato, onde morava, a que família pertencia, onde trabalhava… É claro que, numa cidade pequena como a nossa, eu conhecia pelo menos de vista a amada do meu amigo. - Estás à espera que ela adivinhe? Já deste algum passo no sentido de tornar esse amor em concreto? - Não, tenho-a seguido apenas de carro… - Ri-me! - Em que século vives tu rapaz?! Esperas por ela à saída do emprego e aborda-la… - Assim sem mais nem menos? - Perguntou indeciso. - Claro, não a vais morder! Ou então encontras alguém que a conheça para vos fazer as apresentações… - Não sei, sabes que no nosso grupo ninguém se dá com ela… eu estava a pensar de outra forma… - Já vinha com ela fisgada… - Queria pedir-te um favor, se tu me escrevias cartas para lhe enviar, será mais fácil para mim. - Pois, mas mais difícil para o meu lado… eu sei lá como pensam os rapazes! Esqueceste que sou uma rapariga? - Pronto, já vi que não me queres ajudar… - Não, nada disso! Escrevo-te as cartas, passas com a tua letra e mandas entregá-las ao emprego dela… - Não, não, envio-as pelo correio que é mais seguro… Inseguro por natureza, procurava caminhos que não fugissem ao seu domínio. Durante três meses (que me pareceram longos anos…) vesti a pele masculina, mantendo um monólogo e esperando que, do fundo do lago, viesse uma bolha à superfície, dando sinais de correspondência para o meu amigo. Começava a fartar-me de “amar” tanto uma rapariga… Surgiram então uns telefonemas, uns bilhetinhos, uns olhares mais demorados… e todos estes sinais me deixavam aliviada e, ao mesmo tempo, feliz pelo meu amigo… Mas, contrariamente ao que eu podia imaginar, ele estava mais calado, ensimesmado, fumando cada vez mais… De repente diz-me meio brusco: - Pára com as cartas, já não preciso mais delas! - Ah, finalmente ela correspondeu-te! - Não… - continuou ele no mesmo tom - Há outra mulher! - Por favor, não me vais pôr a escrever cartas de amor para as raparigas todas da cidade! - Não, quem eu amo está na minha frente! O silêncio caiu entre nós… incomodativo, difícil de lidar com uma palavra sequer. Olhei-o pela primeira vez como homem e, decididamente pensei, em segundos, que seria incapaz de amar um homem que precisasse da ajuda de outra mulher para declarar o seu amor… Já não me lembra como foi a nossa despedida… mas sei que, deste desencontro, nasceu uma das melhores amizades da minha vida.
É suposto todos nós termos um anjo da guarda – pelo menos foi sempre essa a minha crença. Nunca me importei se ele estaria bem colocado na hierarquia celestial e muito menos qual o seu nome. Que desde criança rezo diariamente a singela oração ao meu anjo da guarda, é um facto.
Naquele sábado de férias num convento mariano do norte – por sinal lindíssimo – decidi assistir logo pela manhãzinha à primeira missa do dia. Mesmo em tempo de descanso, algum sacrifício fortalece o corpo e o espírito. Na homilia, o sacerdote (polaco) no seu português quase perfeito, meditava na passagem do Evangelho quando Jesus acolhe as crianças enquanto os apóstolos, talvez pelo ruído expansivo próprio dos inocentes, procuravam afastá-los do Mestre que, sempre atento os repreendeu: “Deixai vir a mim as criancinhas...”.
Chamava-se Emanuel e tinha oito anos. Por gostar tanto daquele convento onde ia muitas vezes com os pais, decidiu que seria ali onde faria a primeira comunhão. Amava a natureza e tudo o que rodeava aquele local porque era obra de Jesus. Ralhava com este sacerdote quando passeavam juntos, alertando-o: - Padre, tens de ter cuidado ao andar, há bichinhos que podes pisar e matá-los...
- Ó Emanuel, então como queres que eu faça? Não tenho asinhas para andar com os pés no ar.
Prepararam desta maneira inocente mas enternecedora o seu coração para receber o Mestre. À noite, ao jantar, depois de tantas emoções vividas, Emanuel perguntou ao seu amigo Padre:
- Padre, tu queres ser meu amigo? Tu és meu amigo...
- Sabes Emanuel, duas pessoas para serem amigas têm de se conhecer melhor, por mais tempo.
- Mas eu sou teu amigo!
De repente tudo aconteceu. Emanuel foi atacado de doença súbita e partia para o céu poucos minutos depois. Como gostava muito daquele local, os pais decidiram que Emanuel ficaria para sempre no humilde e singelo cemitério do convento.
Antes do meu regresso, visitei esse pequeno espaço quase encravado nas rochas, onde um portão de ferro apenas encostado o separa das veredas que Emanuel tanto gostava de percorrer... senti uma paz indescritível. Numa campa rasa, pobre, apenas uma lápide com a foto de Emanuel – lindo como devem ser todos os anjos. Curiosamente, aquela foto está impecavelmente conservada, como se tivessem passado dias e não vinte e seis anos!
Como recordação, para além dos livros que adquiri e a que não consigo resistir em lugar algum, tinha comprado na véspera um pequenino anjo com uma lanterna na mão e pensei: ficará na minha mesinha de cabeceira iluminando o meu caminho. Ao tirá-lo da minha mala para o sítio a que o destinara, veio-me à cabeça um nome: Emanuel! Deduzi que afinal os anjos têm nome, o que importa é estar atento ao momento da sua revelação.
A história que vamos narrar aconteceu na localidade de M........, na Zambézia, há já muitos anos, no tempo em que os leões faziam as suas “excursões” através das povoações para desenfastiarem e variarem de menu... saboreando um pouco de carne humana. Diz-se que o leão só caça as pessoas quando já velho e sem forças para perseguir os bichos, no mato. Então, cansado e esfomeado, pela sombra da noite se aproxima dos povoados e fica de atalaia espreitando o incauto viandante que lhe passe por perto, ou chegando mesmo a entrar nas palhotas, como no caso que vamos narrar. A história é verdadeira (embora pareça um tanto caricata) e, quanto antigo zambeziano – como eu – a não ouviu por lá contar? Não posso no entanto garantir se o assalto do leão tinha por finalidade desenfastiar e variar de menu ou se foi mesmo para matar a fominha que ele fez a sua “excursão” a M..........., bem perto do Posto Administrativo e da única casa comercial ali existente ao tempo desta ocorrência.
Certa noite, - ou madrugada – fortes pancadas soaram na porta da casa do Snr. D............ - Quem é? O que querem a estas horas?!... - Cença patrro,... cença patrrão.... vem depressa, depressa... Podagoma entrou no palhota de um metiana e qué comê ela... Vem depressa trazê fute p’ra matá ele! - Mestre D......... não pediu mais explicações, salta da cama, enfia os chinelos, agarra a velha “karapochek” e mesmo em pijama se dirige para o local indicado de arma empunhado..., pronto a fuzilar o atrevido leão comedor de humanos... - Onde está o leão? - Ali, patrrão! Ali, olha... O branco salvador olha naquela direcção e vê... Vê o quê? – Vê o esquelético animal trancado debaixo dos paus que serviam de cama à preta e estava sendo amarrado pelo rabo... por um homem! Como fazer? Disparar a arma? E se mata alguém naquele espaço tão apertado? No entanto, à queima-roupa puxou o gatilho mas... tchaque, tchaque... a velha espingarda, do tempo da ocupação, não faz fogo. Que fazer! Que chatice... De repente – tinha de ser mesmo de repente! – Ideia luminosa! É que não havia tempo a perder... Como o leão estava a ser seguro pelo rabo, olhou... e viu o buraco! Não é tarde nem é cedo! E vai de enfiar o cano da espingarda por ali dentro até que, após desesperadas contorções... o malandro morreu! Por essa altura – ou pouco tempo depois – passava por ali um inspector administrativo em serviço. Este senhor, nas suas andanças pelo mato ia escrevendo umas crónicas para o jornal “Notícias”, de Lourenço Marques. Tendo conhecimento deste facto, escreveu-o e enviou-o ao jornal, terminando a narração mais ou menos neste termos: - ...e o Sr. D............., não encontrando outra alternativa, meteu-lhe o cano da espingarda por um buraco que a Natureza a todos deixa...
"Então Almitra falou novamente e disse, e quanto ao Casamento, Mestre? E ele respondeu, dizendo:
Nascestes juntos, e juntos ficareis para sempre. Estareis juntos Quando as asas brancas da morte acabarem com os vossos dias. Ah, estareis juntos mesmo na memória silenciosa de Deus.
Mas que haja espaços na vossa união. E que os ventos celestiais possam dançar entre vós.
Amai-vos um ao outro, Mas não façais do amor uma prisão;Deixai antes que seja um mar ondulante Entre as margens das vossas almas.
Enchei a taça um do outro mas não bebais da mesma taça. Parti o vosso pão ao meio mas não comais do mesmo pão.
Cantai e dançai juntos, Mas deixai que cada um de vós fique sozinho. Como as cordas de uma lira estão sozinhas Embora vibrem ao som da mesma música.
Entregai os vossos corações Mas não ao cuidado um do outro. Pois só a mão da Vida pode conter os vossos corações. E ficai juntos mas não demasiado juntos: Pois os pilares do templo estão afastados, E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro."