Há muitos, muitos anos, quando apenas tinham passado uns quarenta anos depois da morte de Cristo, um jovem romano das terras da MAIA, de nome Caio Carpo Palantiano, cumpria os rituais da festa do seu noivado.
Era costume, nesse tempo, o noivo, antes de se ligar à sua amada, ir a cavalo pelo mar dentro com as vestes de guerreiro, talvez como forma de purificação ou gosto de exibir a valentia diante dos amigos e da noiva.
Mas aconteceu o inesperado. Porventura, ferido por algum pressentimento o cavalo de Caio arrasta o noivo para longe da praia. Entre os convidados alastra o medo. Espera-se o pior. O jovem será engolido pelas ondas revoltas. Mas não! Como que possuído de asas ou força misteriosa, o cavalo conduz o jovem até junto de uma nau que passa no horizonte. São os discípulos de São Tiago que levam o corpo do apóstolo, martirizado em Jerusalém. Vão a caminho de um refúgio na Galiza.
Perante o sucedido, aqueles homens interrompem o recolhimento em que iam. Com surpresa e alegria recebem o cavaleiro. Depressa entendem que é um milagre do apóstolo, um sinal de Deus. Ali mesmo Caio Palantiano recebe o baptismo na fé cristã.
De regresso à praia, o noivo parece um outro. Todo ele é um reflexo do fogo interior. E o seu corpo não vem molhado, mas apenas matisadinho de conchas, o que deu muita alegria àqueles que o esperavam. Maravilhados, também eles receberam o dom da fé. E ao pequeno rio que perto desagua, chamaram-lhe LAETITIA, isto é, alegria, e que hoje tem o nome de LEÇA, enquanto o lugar ficou a chamar-se Matisadinho e que hoje, conhecemos como MATOSINHOS.
Entretanto, muito longe daqui, em Jerusalém, continuava a perseguição aos cristãos. Havia um que se chamava Nicodemos e que era escultor. Em madeira esculpia a imagem do Senhor Jesus. E, para não ver a sua obra piedosa destruída ou consumida pela fogueira dos perseguidores, atirou-a ao mar. Assim, as calmas águas do Mediterrâneo a levariam a paragens seguras.
E facto curioso, aonde é que a imagem foi encontrar abrigo, depois de tanto tempo à deriva no mar? Na praia do Matisadinho.
O povo que havia aderido à fé cristã, começou a venerá-la. Era muito bela mas vinha incompleta. O escultor, com a pressa de a querer livrar do fogo, não lhe fez um dos braços. Incapaz de desistir, mesmo na prisão, Nicodemos esculpiu o braço que faltava. Em segredo pediu a um amigo que o lançasse ao mar dizendo:
- Braço, vai unir-te ao corpo a que pertences.
Decorriam anos e a imagem do Bom Jesus era venerada sem um braço. Por mais braços que se fizessem, nenhum servia.
Até que um dia, uma pobre, andando pela praia de Matisadinho a apanhar algas secas para o lume, viu um pedaço de madeira e levou-o para casa. À noite, quando acendeu o lume, deitou nele o que trouxera da praia. Mas aquele pedaço de madeira saltou fora.
Então a filha, muda de nascença, ao ver o sucedido, falou pela primeira vez:
- Mãe, não queime esse pedacinho de madeira, porque é o braço que falta ao Senhor Bom Jesus.
E logo a notícia correu veloz. Não havia dúvida. O braço unia perfeitamente à imagem, tal e qual, como se dela nunca tivesse saído.
E deste milagre que levou muitos anos a acontecer, porque a vontade de Deus não é igual à dos homens, nasceu a festa do SENHOR DE MATOSINHOS.