Gosto de poesia. Daquela cujas palavras deixam perfume nas nossas mãos e, sobretudo, na nossa alma. Poesia que se entenda como as coisas simples da vida. Sem grandes adjectivos e substantivos “eruditíssimos”. Não daquela que até espremida, como um limão, não deita nada a não ser, talvez, uma gota amarga do tempo que se perdeu ao lê-la. Não gosto da poesia carregada com um bom sobretudo de marca mas que ao tirá-lo deixa à mostra uma nudez inglória ou então uma roupa de feira de muito mau gosto. Não gosto de um desfile de palavras caras, que ficam bem, a mostrar uma cultura com pouca arte. Lembra-me os quadros que não dizem ou não representam nada mas são bons pelo nome de quem os pintou. E os livros? Alguns enfadonhos, maçudos, cansativos, mas é de bom tom dizer que se leu este ou aquele autor… Gosto de poesia que fale de sentimentos, de amor, de abraços e beijos… essas lamechices que tão bem cantou Florbela Espanca. Gosto de poesia embora a minha área de expressão literária preferencial seja, sem dúvida, a prosa. Por vezes peço desculpa aos verdadeiros poetas e “alinhavo” uns versos, simples, como eu.
Sigo o blogue Moçambicanto onde há uma verdadeira montra de poetas da minha terra. Entre eles está Jorge Viegas, meu conterrâneo, amigo e antigo colega. Juntos contracenamos na peça de teatro “A Muralha” de Calvo Sotelo, juntos trabalhamos como membros activos no Centro juvenil de Quelimane, juntos dissemos poesia. O seu primeiro livro, publicado ainda em Quelimane, foi um sucesso! Os poemas que hoje escolhi são de um outro livro, editado já em Portugal, intitulado “Novelo de Chamas”.
Um beijo para ti, Jorge!
Os Que Temem
Os que temem as palavras e as policiam
Devem saber que as máscaras cairão,
Sejam elas de lata ou papelão
ou de engodos fáceis que aliciam.
Os que temem as palavras e as esvaziam
Do seu conteúdo verdadeiro e são
E nas verdades suas se extasiam,
Usem as máscaras que usarem, são
O brilho de astros que há muito esfriam,
E o espaço morto de uma revolução.
Ao Escreveres Um Poema
Ao escreveres um poema
Não dês demasiada importância às palavras.
No poema, as palavras
Não existem verdadeiramente,
Não têm existência de facto.
No poema, as palavras
Não têm consistência.
Nem são sensíveis ao tacto.
No poema, as palavras serão simplesmente
As imagens que habitam
O mais profundo do teu ser.
E o teu poema violará o espaço aéreo
No bico das pombas
E será levado
Na franja marítima das ondas.