quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Ano Novo

E um novo tempo prepara-se para marcar o seu compasso! Quem consegue fugir ao tempo? Nem os anos. Dentro de poucos dias fechamos as portas de 2011, talvez empurrado pela pujança de um novo que chega ao bater das doze badaladas do dia 31!
Carregamos aos ombros, como um feixe de espigas, mais um ano e abrimos os braços para um novo que avança… Que nos trará? Para Portugal e Europa advinha-se um tempo conturbado… Será assim?
Durante este ano os nossos passos andaram por caminhos diversos. As alegrias pareceram-nos sempre muito breves e lentas foram as lágrimas da dor e solidão.
Ultrapassamos medos, combatemos infinitas lutas, desfizeram-se alguns sonhos, tropeçamos mais vezes do que desejaríamos mas…vivemos! A dor abriu-nos caminhos em brasa no coração mas, ao olharmos agora para trás, descobrimos que os tempos que passamos a lutar pelas nossas pequenas felicidades foram os melhores dias vividos em 2011!
Há quem faça por esta altura uma lista de projectos, propósitos e sonhos! Actualmente não é meu costume fazê-lo talvez porque a experiência já me tenha ensinado que a vida baralha tudo parte e dá de acordo com um conceito que nunca entenderemos muito bem! Às vezes é parca para uns e esbanjadora para outros! E não adianta protestar!
Contudo, há coisas a riscar do nosso dia-a-dia que, foram lições que aprendi:
- A solidão não tem flor, nem fruto. É estéril! Portanto, risquemo-la… Venham os amigos mas bons!
-A nossa força faz frente a todos que nos queiram derrubar. Então, é preciso revestirmo-nos de coragem!
-O nosso sorriso desarma qualquer inimigo. Enfeitemo-nos de girassóis…
-A partilha é o melhor depósito que fazemos no cofre da Vida! Partilhemos então…


Ano Novo, vida Nova… diz o povo! Com propósitos ou sem eles, ousamos esperar com muita fé e lucidez o futuro que 2012 nos trará, pleno de caminhos, como a espiga farta de grãos!
Juntos acenderemos sempre e muita vez, a candeia da esperança!
Nas mãos do CRIADOR colocamos estes 366 dias, diluindo nas nossas preocupações todo o seu Amor que fecunda as horas que hão-de vir.
A todos os Amigos que passaram e passam pelo Zambeziana, alguns sem rosto, mas que geraram em mim momentos de fraternidade e carinho, deixo o meu Obrigada e a promessa de rezar por todos, em particular por alguns com problemas que conheço, na certeza que estaremos juntos num imenso abraço no dealbar de um tempo Novo que todos queremos que seja na verdade, mesmo NOVO, em Amor, Paz e Justiça!

FELIZ 2012!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Prenda de Natal


A Acácia do quintal tinha começado já a florir e como estavam lindos os seus ramos!
Os mais pequenos batiam palmas de contentes ao descobrir cada dia, na velha acácia, mais uns botõezinhos vermelhos!


- Mamã quando ela estiver toda florida será Natal e falta tão pouco tempo… que bom! O Menino Deus vai nascer outra vez para nós.
Beatriz escutava distraída as vozes dos seus filhos, preocupada em procurar, na sua pobreza material, um tesouro escondido com o qual pudesse realizar os sonhos infantis… mas não encontrava nada… tão pouca coisa havia em casa! Mas era preciso inventar, criar qualquer coisa que os satisfizesse, que os fizesse sentir como os outros meninos, os meninos ricos como o Joãozinho do prédio bonito da esquina.
-Mamã, o que nos darás neste Natal? É verdade que o Menino Jesus ainda não to disse?
Decididamente não deixavam pensar Beatriz mas ela ria-se com a alegria dos seus cinco filhos.
-Não meus queridos nada vos posso dizer… é surpresa porque, de outra forma, deixaria de ser prenda de Natal. Pronto, não falamos mais nisso e vamos arrumar a cozinha que o pai está a chegar. E todos deitam mãos à obra. Beatriz adorava quando o marido chegava a casa e era atacado pelo bando dos filhos e estendendo os braços para a mulher dizia: Cheguei ao paraíso!
Beatriz era feliz apesar das paredes nuas da sua casa, do mobiliário pobre, das dificuldades monetárias; era rica de calor humano, de compreensão e de amor.
A acácia acabou por florir toda e o Natal bateu-lhes à porta. Os pequenos cochichavam com risadas felizes. Beatriz pensava que as prendas não seriam o que desejava… havia o impossível financeiro. Rebuscou numa velha mala onde guardava coisas da sua juventude à procura do que pudesse transformar, com a sua habilidade, em prendas bonitas.


Encontrou um tecido colorido e moderno. Dali faria um boné muito simpático destes que os miúdos gostam de levar para a escola. Seria para o João Paulo que gosta sempre de parecer bem. De um seu vestido já antigo faria dois bem juvenis para as duas mais novas. Para o Luis Manuel encontrou a capa de um livro em cabedal, já usada, mas com o seu jeito para o desenho, criaria uma capa que ele iria adorar. Trabalhada ficaria como nova.
Para o mais velho é que não encontrava nada que a pudesse encantar. De repente caiu-lhe nas mãos um livro de poemas do seu tempo de estudante e não pensou mais. Seria a melhor prenda que poderia dar ao filho mais sensível que sentia já uma irresistível atracção pela poesia.
Beatriz dispôs-se então a resolver outro problema: o da ementa. Andou à procura de todas receitas mais económicas que lhe permitisse consolar a sua gente com pouca coisa. Serviu-se da sua criatividade e imaginação e de todo o amor para realizar uma ceia de Natal condigna daquilo que a sua família dela esperava.
-Mamã, fazemos também o presépio?
-Com certeza meus filhos.
E à noite, depois do jantar reuniram-se no “cantinho da mãe” como todos chamavam ao local onde Beatriz se sentava para cozer e até mesmo, quando as lides da casa o permitiam, para pensar e sonhar.
Com bocaditos de trapos e de cartão fizeram as figuras que o pai com paciência ia colando João Paulo pintava expressões faciais e que bem que elas ficavam!


Ao desenhar o rosto da Virgem, uma ruga vincou-lhe a testa e a mãe sentiu esta preocupação:
-Que há meu filho?
-Mamã, como hei-de pintar o rosto de Maria? Não o posso pôr a sorrir pois com tantas necessidades que havia na gruta como podia ela sorrir? Eu bem vejo a tua tristeza quando te pedimos pão e tu não tens para nos dar. É a mesma coisa, não é mamã?
-Sim, é a mesma coisa mas, sabes, penso que podes pôr a Virgem a sorrir porque no presépio havia o calor do grande amor entre os três.
Os dias correram e o calendário mostrou a folhinha de 24 de Dezembro, de uma manhã linda e quente com o céu muito azul e um ar perfumado. Em casa, os risos das crianças e a sua alegria faziam daquela manhã a mais sedutora de todas. Mas nem todos riam. Pedro, o filho mais velho, apresentava um rosto fechado e triste. Beatriz entendeu aquele olhar inquieto.
-Queres vir com a mãe ao quintal apanhar uns raminhos de salsa? Pronto! Era o que ele queria ouvir. Seguiu a mãe com as mãos nos bolsos, como um homem grande, com problemas profundos.
-Mamã, já tens a minha prenda de Natal? É que eu queria pedir-te uma coisa…
-Diz, meu filho, se for possível…
-Olha, não sei se conheces o Carlitos, ele é meu colega da escola. Vive só com a mãe porque o pai abandonou-os.
Beatriz entristece-se pelo drama em si e por não poder evitar ao filho os choques que a vida lhe daria.
-Eles não têm nada em casa. São muito mais pobres do que nós e falta-lhes o calor do amor que tu falavas ao João Paulo. Eles vão ter muito frio este Natal, mamã. E sabes… tive uma ideia que não sei se tu e o pai aprovarão.
-Fala meu filho, se for boa com certeza que não diremos que não.
-Eu posso convidar o Carlitos e a mãe a passarem o Natal connosco? Era esta a prenda que eu queria que me dessem.
Beatriz comovida abraçou o filho que tinha entendido bem a mensagem de amor que um Natal sempre traz.
-Sim, podes convidá-los. Ficaremos todos contentes por tê-los connosco nessa noite santa. Vai pois, a correr, dizer-lhes.
Cantando, com um sorriso a bailar-lhe nos lábios e no coração, Pedro saiu a correr de junto da mãe. Beatriz à entrada de casa acompanha-o com o olhar até o ver desaparecer na curva do caminho.
Erguendo os olhos ao céu, Beatriz agradece a Deus aquele Natal pleno de amor e de alegria que toda a sua família iria viver!



terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Desiderata

No meio do barulho e da agitação, caminha tranquilo, pensando na paz que podes encontrar no silêncio. Procura viver em harmonia com as pessoas que estão em teu redor, sem abrir mão da tua dignidade.
Fala a tua verdade, clara e mansamente. Escuta a verdade dos outros, pois eles também têm a sua própria história. Evita as pessoas agitadas e agressivas: elas afligem o nosso espírito.
Não te compares aos demais, olhando as pessoas como superiores ou inferiores a ti.
Vive intensamente os teus ideais e aquilo que já conseguiste realizar.
Mantém o interesse no teu trabalho, por mais humilde que ele seja: ele é um verdadeiro tesouro na contínua mudança dos tempos.
Sê prudente em tudo o que fizeres, porque o mundo está cheio de armadilhas. Mas não fiques cego pelo bem que sempre existirá. Há muita gente lutando por nobres causas. Em toda a parte a vida está cheia de heroísmo.


Sê tu mesmo. Sobretudo não simules afeição e não transformes o amor numa brincadeira, pois no meio de tanta aridez, ele é perene como a relva.
Aceita com carinho o conselho dos mais velhos e sê compreensivo com os impulsos inovadores da juventude.
Cultiva a força do espírito e estarás preparado para enfrentar as surpresas da sorte adversa.
Não te desesperes com perigos imaginários: muitos terrores têm origem no cansaço e solidão. Ao lado de uma sadia disciplina, conserva para contigo mesmo, uma imensa bondade.
Tu és filho do Universo, irmão das estrelas e das árvores e mereces estar aqui!
E, mesmo sem perceberes, a Terra e o Universo vão cumprindo o seu destino.
Procura, pois estar em paz com Deus. Seja qual for o nome que lhe deres.
No meio do teu trabalho e aspirações, na fatigante jornada da vida, conserva no mais profundo do teu ser, a harmonia e a paz.
Acima de toda a mesquinhez, falsidade e desengano, o mundo ainda é bonito.
Caminha com cuidado e faz tudo para seres feliz e partilha com os outros, a tua FELICIDADE!

(A lenda conta que este texto foi encontrado em Baltimore, na antiga Igreja de Saint-Paul, em 1962. Na realidade foi escrito pelo poeta americano Max Ehrmann falecido em 1945)