quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Abrir as Portas a 2011



Há qualquer coisa de solene na despedida de um ano…
Não é apenas mais um, é também um a menos. Procuro tomar-lhe o peso… E, feitas as contas do deve e haver, dou-te graças Senhor da Vida, que me susténs e conduzes.
Nem sequer te pergunto por quantos anos continuarei a contar os passos do sol.
Sei que um dia, como meus pais, partirei num pequeno navio e que me fundirei no corpo da terra. Peço-te apenas que possa então dormir o sono vertical das árvores.
A luz dói à sombra. Retira-lhe a máscara. Descobre-lhe o olhar inquieto, a ambiguidade dos gestos, a mentira das raízes. Por isso, a sombra em bicos de pés e com subtis artimanhas, repele a luz.
É esta a nossa dialéctica quotidiana. Por isso, neste novo Ano, queria ser como essas plantas que fogem da sombra e à procura da luz erguem os caules, perseguem um sol que não conhecem, mas a seiva é dele sinal e memória.
Somos tão grandes, Senhor, quando capazes de proclamar o dia em plena noite, de sofrer sem chamar pela morte, quando capazes de ouvir cantar as galáxias e celebrar a beleza, a tanta beleza que há no mundo.
Senhor, a tua bênção para nós neste novo Ano…


UM FELIZ ANO NOVO PARA TODOS OS MEUS AMIGOS, SEGUIDORES E… PARA AQUELES QUE PASSAM E DESCANSAM NA PALHOTA!
QUE EM CADA DIA DOS 365 DIAS DE 2011, SAIBAMOS REINVENTAR O SONHO E O ENTUSIASMO!

GRAÇA

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Uma Prenda de Natal

A minha amiga Estela, do blog Guardados e Achados, surpreendeu-me com esta bela prenda de Natal:

O Zambeziana, da Graça Pereira, como o que melhor contou histórias.
Graça vem nos presenteando com histórias muito bonitas, vindas do coração, e contando-as de uma maneira contagiante e muito própria. Ao terminarmos uma leitura, já ficamos na expectativa da próxima. Quero destacar Josafat como personagem do ano.
PARABÉNS.


Obrigada pelo teu carinho...


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Postal de Boas Festas



























É Natal
Bendita seja a data que une todo o mundo numa conspiração de amor.

Festas Felizes.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A Casuarina




O cheiro forte a resina que a casuarina exalava enchia a casa toda! Os odores faziam também parte do ciclo natalício… Tudo começava quando as acácias do outro lado da rua rebentavam no sangue vermelho das suas flores… Quase num murmúrio dizíamos: O Natal está próximo!


Mas o ritual não se ficava por aqui… Quinze dias antes íamos, pelo calor da noite, à praia do Zalala escolher a nossa árvore de Natal. O que em princípio era um passeio familiar passou de repente, a ser uma peregrinação! Várias famílias com o pretexto da casuarina, juntavam-se na praia, faziam uma grande fogueira e partilhavam os petiscos que levavam. A garotada banhava-se nas águas do Índico não só para afugentar o calor mas e sobretudo, porque é mágico tomar um banho nocturno no mar e olhar as estrelas e a lua que, acredito, se riam de nós…
O que me impressionava era o respeito pela casuarina que o amigo tinha escolhido… Cada um marcava a sua apenas com um fio ou um cordel diferente e os mais brincalhões, enfiavam uma garrafa de cerveja vazia ou uma lata de coca-cola e respeitava-se! Durante a semana e sempre à noite, cada um ia buscar a “sua” casuarina e não havia cá trocas…
Nós, ainda miúdos, ficávamos deslumbrados quando a casuarina nos entrava pela porta dentro…
Por nós, queríamos logo enfeitá-la mas o meu Pai acalmava-nos com sensatez:
-É muito tarde! A árvore ficará mais bonita à luz do dia, escolhendo os enfeites apropriados…
E nós concordávamos!
No dia seguinte até os empregados ajudavam… Havia dois momentos grandiosos neste trabalho: quando se colocava a estrela no alto da casuarina e quando os meus pais abriam muito bem o algodão comum e espalhavam a “neve” pela árvore…
Os empregados ficavam espantados:
- Xi, patrão, a árvore está doente?
Nós ríamos.
- Não, isto é neve…
-Neve? Mas a senhora mandou buscar o algodão à casa de banho… agora mudou?
-Não, é só para fingir e fazer de conta que estamos em Portugal onde agora faz frio e a neve cobre os pinheiros…
- Xi, mas cabeça de branco é muito engraçada…
Um dia, quando um dos empregados fazia a limpeza da sala, tocou na casuarina e logo, pedaços de algodão se espalharam pelo chão e ele gritando chamou pela minha mãe:
-Senhora, vem cá depressa, está a nevar na sala...



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Josafat


(Uma história para crianças…..ou não!)

Chamava-se Josafat e era o mais novo dos três camelos que partiram do Oriente levando os Magos até Belém. Estava excitado e ao mesmo tempo curioso. Era a primeira vez que se metia (ou metiam-no) numa aventura tão extraordinária. Pensava como é que os seus amos, uns verdadeiros sábios, tão atentos à Ciência, sempre de binóculos na mão, mapas e outras coisas que tais… se tinham deixado guiar por uma estrela.
-Era diferente das outras, maior, e caminhava pelo céu como se indicasse um caminho. Depois as Escrituras falavam no nascimento de um Rei e num sinal pouco vulgar que daria conta do acontecimento… - explicavam os mais velhos!
Josafat abriu muito os olhos e batia com as fartas pestanas a ver se entendera bem:
-Um Rei? De que país? Jerusalém tem o Rei Herodes… de onde poderá ser?
- Como é que tu sabes todas essas coisas?
- Oiço tudo e muito bem…
A noite caía sobre eles. Uma noite gélida mas com um céu brilhante mais claro que o dia.
Josafat encolheu-se um pouco… O manto do Mago não o cobria totalmente e ele sentia frio. Durante o dia fora a tempestade de areia e aquele calor infernal que parecia assá-los a todos.
De repente Baltasar gritou:
-Olhem!
A estrela tinha parado no firmamento e incidia raios fortes sobre a terra.
- Deve ser aqui - dizia Melchior.
Josafat pensava que os Magos deviam estar doidos… Ali, como? Não era um Rei que tinha nascido? Onde estava o palácio?
Num minuto, a estrela desceu tanto que quase esmagou um pobre pardieiro que parecia conter ouro que faiscava.
-Aproximemo-nos mais… Vocês ficam aqui mais afastados - informou Gaspar.
Descendo dos camelos dirigiram-se com as suas ofertas para o novo Rei, entrando na pequena gruta.
Josafat, curioso, avançou mais um pouco e o que viu espantou-o: um Rei… mas é apenas um Menino! Não entendo nada… E aquela jovem, tão jovem, será a sua Mãe? E aquele velho que remexe a palha com muito cuidado… quem será?
Josafat esticou o pescoço e, tropeçando numa pedra, ficou quase à entrada da gruta e o que viu fê-lo bater com mais força as largas pestanas.
Os sábios com a cabeça encostada ao chão diziam louvores enquanto faziam as suas ofertas: Ouro, incenso e mirra, apresentados em cofres valiosos. O Menino com os bracitos estendidos olhava-os com uma certa curiosidade mas… não se ria!
Josafat queria ver mais. De um pulo esparramou-se diante do Menino, mesmo em frente dos seus amos. Pensou, é agora que eu vou ser despedido!
Mas, espanto dos espantos: O menino ria às gargalhadas e estendendo as mãozitas passou-as pela cabeça de Josafat que se sentia o mais feliz dos camelos.
Olhando para os amos pensou que eles não entendiam nada de crianças… Para que quereria aquele Menino os disparatados presentes?
Afinal aquele menino era igual a todas as crianças do mundo: gostava de brincadeiras, de se rir e de sentir amor à sua volta!


Não! Josafat pensava que, quando voltasse para o Oriente, a sua vida já não seria a mesma…
Tinha conhecido um Rei que não ligava às riquezas e que se divertia com as tropelias de um camelo… Nunca o esqueceria e era a palavra de Josafat.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Amanheceu Nos Céus Aquela Estrela



…Amanheceu nos céus aquela estrela.
Que veio donde?
Na longa noite fria e bela,
O silêncio responde.

Astrónomos e astrólogos,
Assestando os seus óculos sobre ela,
Perdem-se em vãos monólogos…
…Que amanheceu nos céus aquela estrela.

…Amanheceu nos céus aquela estrela.
E outros, mais loucos ou mais sábios,
Vindo, lá das lonjuras, atrás dela,
Abrindo os olhos, cerram bem os lábios.

Também das gentes chãs
Muitos seus pobres bens deixam por ela.
Riquezas, ambições, glórias, são vãs.
…Que amanheceu no céu aquela estrela.

…Amanheceu no céu aquela estrela.
Nas suas aventuras tragicómicas
Que podem contra ela
Virotes, trons, canhões, bombas atómicas?

Desfaz-te, se te apraz, em sangue e lama,
Terra, tu que puderas ser tão bela!
Na própria morte a imensa esp’rança clama.
…Que amanheceu nos céus aquela estrela.

- José Régio