quarta-feira, 31 de março de 2010

Abril


Abril, etimologicamente significa “Abrir”. A Primavera já se instalou e vai começar a sua pujança. O sol aquece mais, os dias tornam-se maiores e o céu é mais azul, embora o povo diga “Abril, de águas mil”… também acontece! As horas tornam-se mais redondas propícias ao convívio e á intimidade.
Gosto de ABRIL, não só por ser o meu mês, mas por tudo o que ele nos oferece. Apetece-me ser o jardineiro deste mês. Planto aqui, alguns sonhos, ali uns sorrisos, num gesto largo e profundo, como quem planta braçadas de flores e colhe pequeninas gotas de felicidade.
O 1º dia d Abril é considerado o DIA DAS MENTIRAS e há muitas explicações porque ficou assim determinado. Mas a que eu sempre li foi devido a uma alteração sobre o primeiro dia do ano Novo que se comemorava no primeiro dia de Abril, precisamente porque era o “abrir” do primeiro signo do Zodíaco, logo após ao começo da Primavera. Em 1564,D. Carlos, Rei de França, influenciado pelo calendário Gregoriano, determinou que o primeiro dia do Ano Novo, passasse a ser o 1º de Janeiro. Alguns franceses então por troça, fizeram do 1º de Abril o Dia das Mentiras, pregando partidas, anunciando coisas que não eram verdade para debocharem, de certa forma, a alteração que o Rei fizera e que, pelos vistos não era do agrado de todos.
Mas a mentira sempre existiu e há algumas históricas e famosas. Tenho um livro “HISTÓRIA DA MENTIRA ATRAVÉS DOS TEMPOS” que relata algumas delas e que já as vimos até em filmes… Os seus autores (Cristiano Lima e Almeida e Sousa) afirmam no seu Prefácio:
…”Não tivemos tão pouco o propósito de condenar uma mentira, por ser mentira, ou de enaltecer uma verdade, por ser verdade. Mente-se com intenção ou sem ela; mente-se, por amor ou por ódio. Mente-se, julgando que se fala verdade; mente-se por patriotismo; mente-se por falta dele…. Muitas histórias começam por ser verdade, acabando em mentiras. Há verdades eternas porque estão acima da nossa razão, da nossa inteligência.
Não há uma linha divisória que separe decisiva e definitivamente, o que é mentira e o que é verdade…há mentiras que algo encerram de verdade e, verdades que encerram parcela ou mesmo parcelas de mentira. “


Logo a seguir, parece-me que nos penitenciamos das mentiras através do tríodo Pascal. Gosto da Semana Santa e da Festa da Páscoa que é, a meu ver, uma festa pessoal. Enquanto no Natal festejamos colectivamente o Nascimento de Jesus, agora eu festejo com Cristo a minha ressurreição. “Adquiro” o meu passaporte, o meu bilhete de entrada na Casa do Pai. Como cristã, diz-me muito este Domingo!
Páscoa significa passagem para uma VIDA NOVA e toda a espiritualidade Pascal passa por uma Liturgia com vários elementos buscando aí razões para a vivência de cada dia.
A Bênção do Lume Novo – Cristo é a Luz do mundo e que essa Luz ilumine sempre os nossos caminhos. O Círio Pascal: Nele se grava uma cruz: Cristo ontem e hoje, princípio e fim, Alfa e Ómega. A Ele pertence o Tempo e a Eternidade.
A Liturgia da Palavra – recorda os factos mais importantes da salvação.
O Evangelho: Primeiro dia da semana, as mulheres como protagonistas, a pedra removida, o anúncio da ressurreição com a recordação do que Jesus tinha dito enquanto viveu no meio deles. Não deixa de ser interessante para nós, mulheres, o facto de serem elas as primeiras a receber a Boa Nova da ressurreição e terem sido constituídas como Apóstolos dessa verdade.
Liturgia Baptismal, se for caso disso, ou renovação das promessas baptismais.
Como Antífona da Comunhão é-nos apresentado um texto de S. Paulo (1 Cor 5, 7-8):
“Cristo, nossa Páscoa, foi imolado; celebremos a festa com o pão sem fermento, o pão da pureza e da verdade”. Cristo nossa Páscoa, nossa passagem da morte para a vida…foi imolado: imolou-se por vontade própria, em nosso lugar…
A celebração da Páscoa deve ser uma celebração de autêntica purificação da nossa vida.
Para quem crê, a Páscoa é a passagem de um modo de viver para outro: é a saída do Egipto do pecado e da idolatria, passagem baptismal pelo mar vermelho do sangue redentor de Jesus, caminho pelo deserto das provações da vida terrena e entrada na terra da promessa.



VIDA E RESSURREIÇÃO

Nasceste,
Envolvido em pobreza,
Diluída pela pureza
Da santa humildade!
Deste
À frágil humanidade
Ao contemplar essa imagem,
Verdade, força e coragem!
Cresceste,
Em graça, ciência e sabedoria,
União e harmonia!
Teus pais carinhosos,
Atentos, cuidadosos,
Afagaram teus sonhos reais,
Divinos, celestiais…
Mas, com maldade
Da mesma humanidade,
Sofreste,
Nesse corpo imaculado,
Maus tratos, flagelação!
No teu espírito iluminado,
Escárnio, humilhação!
Tu, luz da eternidade
Morreste,
Às mãos da impiedade,
Do ódio, inveja, traição!
E…para todos, pediste, ao Pai, Perdão!
Revolveste
A terra, mar, o céu…
Uma luz intensa, desceu
Para arrebatar o Cristo humanizado,
O próprio Deus exaltado,
O Espírito unificado!
É festa da Alegria,
Jesus ressuscitado!
Aleluia! Aleluia!
(Alda Matos)




domingo, 28 de março de 2010

Exposição de Pintura no Zambeziana


Nas visitas que faço aos meus amigos blogueiros, tenho notado que há um número razoável de gente com verdadeira arte no pincel. Resolvi pois abrir uma Galeria de Pintura aqui na Palhota. Já todos sabem que ela é exígua e, por isso, terei de apresentar apenas um artista em cada Exposição.

Hoje, trago-vos o Pintor JOÃO PINTO PEREIRA.

Dados Biográficos:
- Nasceu em Moçambique a 28 de Março de 1944
- Licenciou-se em Medicina pela Universidade do Porto. É especialista em Pediatria.
- Autodidacta, pinta aguarela desde os tempos de estudante, embora só desde 1993 o faça com carácter regular. Foi orientado pelo Mestre Jaime Isidoro.
- Pediatra graduado em chefe de Serviços do Hospital Pedro Hispano de Matosinhos (aposentado).

Exposições:
> V Exposição Arte Médica – Ordem dos Médicos – Porto, 6 de Junho de 2007 a 5 de Julho de20 07.
> 10º Aniversário do Hospital Pedro Hispano – 19 a 23 de Março de 2007.
> IV Exposição Arte Médica – Ordem dos Médicos – Porto, 1 a 30 de Junho de 2006.
> III Exposição Arte Médica – Ordem dos Médicos – Porto, Setembro de 2005.
> II Exposição Arte Médica – Ordem dos Médicos – Porto, Junho de 2004.
> Exposição Colectiva “A Luta da Criatividade”. Leilão de obras para a ajuda da luta contra a SIDA. Ordem dos Médicos – Porto, Dezembro de 2004.
> I Exposição Arte Médica – Ordem dos Médicos – Porto, Junho de 2003.
> Exposição/Leilão de Obras de Arte – “Solidariedade a favor da Vila de Manhiça, Moçambique” – Auditório Municipal de Gaia, 13 a 17 de Março de 2001.
> Exposição Colectiva de Pintura e Escultura – São Mamede de Infesta, Novembro de 1997.
> I Simpósio de Geriatria – Hospital Pedro Hispano – Maio de 1997.
> “Exposição de Pintura da Primavera” - Hospital Pedro Hispano - Março de 1997.
> “Exposição de Pintores Pediatras” – XVIII Jornadas Nacionais de Pediatria – Carvoeiro, Algarve – 1996.
> Exposição intitulada “Porto: a luz e as sombras”. Escola Diogo de Macedo – Olival, Vila Nova de Gaia, 1996.
> Exposição comemorativa da pré-inauguração do Hospital Pedro Hispano, 1994.
> “Workshop” do Interno – Fórum da Maia – 1994.
> “Diálogo entre as Artes” – Estúdio 400 – Porto, 1993.
> Exposição no Colégio do Rosário - Porto, 1993.
> A BIAL, em face do valor destes seus trabalhos, editou serigrafias de aguarelas da sua autoria para serem oferecidas à classe médica.
> Cerca de oitenta aguarelas suas figuram em diversas colecções particulares, no Porto, Lisboa, Madrid, Bordéus, Genebra e Lourenço Marques (Maputo).

Opiniões:
“O Pediatra fez-se Pintor… Podemos compreender que esta opção seja o começo de um caminho que conduzirá a novos desafios e novas descobertas. Luta promissora a travar com aquilo em que acredita e porque se está apaixonado.
Assim, o pintor encontra-se e as suas convicções pessoais traduzem-se em manifestações enriquecedoras.
Em confronto com a cidade e a natureza a obra ganha dimensão adquirindo uma visão muito pessoal de ritmos de cor e atmosferas conseguidas através de desinibidas transparências de aguadas.
Cada pincelada tem uma intenção, cada quadro está pintado numa coerência expressiva de formas e cor.
É então de observar a certeza e descontracção com que a existente técnica da disciplina da aguarela é conseguida na sua plenitude.
A caminhada foi iniciada, o caminho está aberto no sentido de se compreenderem e desfrutarem novos horizontes. Parabéns!”
Mota e Claro (ESPAB) - Porto, Maio 1994

“… Vou mostrar-te umas aguarelas que estou a pintar – disse-me um dia João Pinto Pereira.
Confesso que fiquei surpreendido. Dentro da nossa convivência familiar e amiga, via-o mais vocacionado para a Música – quantas vezes nos deliciava a tocar piano.
Algumas vezes mostrava-me novas aguarelas e eu reparava no entusiasmo, na dedicação e na sua sensibilidade de artista.
São os homens da Medicina que mais se dedicam à Pintura. Lembro, como exemplo, Abel Salazar que conheci pessoalmente e nos deixou obra preciosa.
Não é frequente no âmbito das Artes Plásticas, o aparecimento de casos a surpreender e a suscitar as atenções como este de João Pinto Pereira, que apresenta, pela primeira vez, uma exposição de aguarelas – técnica nada fácil – com domínio da aguada, liberdade da mancha, utilizando muito bem o branco no papel.
Também não se fica pela objectividade, mas sim pela criação de quadros de efeitos subtis, a partir de diversos sentidos (expressivas harmonias) dominados pelo toque de pintor “
Jaime Isidoro (1994)

“A Galeria “Diogo de Macedo” prossegue o seu percurso com a Exposição de JOÃO PINTO PEREIRA, intitulada “Porto: a Luz e as Sombras”, cumprindo (entre vários outros) um dos objectivos iniciais que se prende com a abordagem às múltiplas técnicas do Mundo das Artes Plásticas.
Utilizando a aguarela (Técnica nada fácil como nos diz e muito bem o especialista oficial deste ramo, Jaime Isidoro) o pintor J.P.P. cria um conjunto de imagens onde a construção arquitectural amparada pela cor, pela luz e pelas sombras, assim como a profundidade dos espaços e a leve materialidade textural, convergem numa rara sensibilidade, na qualidade expressiva de que parece ser mais testemunha do que autor. Tudo isto se debruça sobre uma referência objectiva – a cidade do Porto – mas o jogo (ritmado) que o Pintor constrói, eleva-se com evidência ao plano da Arte, quando vemos que nestes quadros há uma visão pessoal e única a remeter-nos para as obscuras transparências com que nos confrontamos todos os dias – tantas vezes com o lado distraído da consciência a negar-nos esta pequena incerteza de Bohumil Hrabal :”...sou culto independentemente da minha vontade”.
Como é de Pintura que se trata, olhemos."
José Alberto Mar – 1996


Porto - Ribeira


Porto - Ribeira, Bairro da Sé


Porto - Ribeira


Porto - Vista a partir da Foz do Douro, Ponte da Arrábida


Porto - Barcos no Douro


Porto - Praça dos Leões


Porto - Douro até à Foz


Porto - Vista Nocturna


Porto - Avenida dos Aliados


Vila Nova de Gaia - Serra do Pilar


Vila Nova de Gaia - Barcos em São Pedro da Afurada


Viana do Castelo - Porto


Douro Vinhateiro


Matosinhos - Porto de Leixões


Matosinhos - Embarcações de Pesca


Amarante - Ponte e Igreja de São Gonçalo


Barcos na Ria de Aveiro


Sintra - Palácio Nacional



Veneza - Ponte Di Rialto


Veneza - Gôndolas


Áustria - Festung Hohensalzburg



Flores


Costa


Pois este Pintor é também, entre outras coisas, Irmão e Tio e… faz hoje anos! Somos admiradores incondicionais da tua Arte. Se soubéssemos, pintaríamos um quadro com emoções e sentimentos… mas essas já tu as conheces por demais.
Hoje, no dia do teu Aniversário, queremos ser construtores do sorriso, livres de qualquer sombra, com palavras mais adivinhadas do que ditas, e acender aquele sol interior que sempre houve entre nós. Costumo dizer que a Amizade é a pátria da verdade, de céu azul, onde se cruzam mãos abertas na generosidade e no amor. Foi sempre assim nas nossas vidas.
Hoje, celebramos mais um encontro, berço de um eterno nascimento onde corre a seiva que nos une. Acrescentamos mais um fio no tapete da vida que vimos tecendo em conjunto com tantas cores…algumas já gastas … mas, pacientemente trabalhado, cuidado e renascido.
Mais um ano, mais um ponto neste tapete imenso – com direito e avesso – Perfeito, dos dois lados.
Um grande beijo de Parabéns!
Graça (Migá) e Nuno, 28 de Março de 2010.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Sombras


Sempre me despertara curiosidade e, ao mesmo tempo, admiração. Chegara a Moçambique através de um concurso público do Ministério da Educação com muitas vagas em aberto para as então ex-colónias portuguesas e para o lugar de professora primária. Não tinha ninguém conhecido do outro lado do mundo e muito menos alguém a esperá-la no movimentado aeroporto de Lourenço Marques.
Apresentou-se na Direcção dos Serviços de Educação e foi-lhe dito que não ficaria na capital, tinha uma vaga para preencher na cidade de Quelimane para onde já tinha passagem marcada.
Não tenho presente o dia em que a conheci mas sei que foi numa reunião de formação de jovens católicos. Não era dada a lamúrias, a resignações e muito menos cruzara os braços com suspiros de vencida. Fez o que lhe parecia melhor: foi ter com o pároco da cidade que lhe indicou o Lar Feminino, sob a alçada de um pequeno grupo de professoras primárias, muito bem conceituado na cidade e onde ficou hospedada. O mesmo sacerdote apresentou-a ao nosso grupo Juvenil pedindo que a inseríssemos no ambiente citadino.
Viver bem ou mal, melhor ou pior, ser vencedor ou derrotado, depende muitas vezes da perspectiva com que encaramos a vida e Maria Inês não tinha vindo de tão longe para ensarilhar a vida ou embrulhá-la em demasiados problemas.
Pareceu-me pois que arrumara o passado, fosse ele qual fosse e que se preparava para dar um novo rumo à sua trajectória de vida. Não era uma jovem muito sorridente e nem sequer simpática. Aparentava ter menos idade do que a real devido à sua figura frágil, muito simples, sem pinturas. Os pequenos caracóis da sua cabeça, davam-lhe um ar angelical contrariado pelo seu olhar cheio de determinação. Contudo, Maria Inês fora bem acolhida e todos se mostraram solidários com a sua solidão. Ninguém fizera perguntas mas também ela não se mostrara aberta para responder ao que quer que fosse. Esperávamos com paciência que ela, um dia, nos contasse a história da sua vida. Afinal a paciência é a arte de esperar embora nós com a nossa ansiedade a confundíssemos com lentidão. Mas a nossa (im)paciência chocava com a persistência de Maria Inês em conceder à sua vida um tom misterioso quase inacessível.
E o tempo passou depressa. Maria Inês não faltava a nenhuma das nossas reuniões e tinha escolhido para amigos mais chegados, dois ou três elementos do Grupo com quem habitualmente andava pela cidade. Participava pouco nas discussões dos temas propostos para cada sábado. Parecia que tinha medo de mostrar fraquezas e dizer aos outros que começava a duvidar do sentido da sua caminhada.
Um dia, inesperadamente, comunicou-nos que aceitara uma vaga para uma vila no interior da Zambézia. Pareceu-me mais magra e até que perdera aquele entusiasmo de quando chegara há poucos meses atrás. Mais uma vez não explicou as razões do seu pedido de transferência e, também, mais uma vez, ninguém ousara perguntar nada.
Maria Inês fez as suas despedidas com promessas de algumas visitas, com um ar distante e impenetrável. Há pessoas com tal força que parecem de cortiça: apesar de todas as tempestades, nunca vão ao fundo.
A vila onde fora colocada era paradisíaca com as suas grandes plantações de chá. Maria Inês sentia-se bem por lá e até arranjara um namorado. Estas notícias chegavam-nos através dos tais amigos mais chegados para quem ela telefonava amiudadas vezes.
Um dia, apareceu na cidade acompanhada do seu namorado que, nas últimas semanas já se tornara seu noivo. Parecia feliz, embora com o olhar perdido em qualquer bruma que ficara para trás. Apresentou-nos. O apelido dele era por demais conhecido, tratava-se do filho do dono das maiores plantações de chá da vila onde agora trabalhava Maria Inês.
Achamos estranho um casamento tão apressado mas ela explicou que devido à sua situação de mulher sozinha, numa terra pequena e como se amavam tanto não havia porque atrasar o acto que acabaria por acontecer mais cedo ou mais tarde. A antecipação por amor, vale tudo, pensávamos nós.
A minha admiração por Maria Inês continuava. Como é que ela conseguia manter à tona de tudo, não desistindo como se o mundo começasse de novo e ela estivesse mais forte a cada desafio.
Poucos dias depois foi-nos anunciado o seu casamento que se efectuaria em Quelimane ao contrário do que todos supúnhamos. Os amigos (únicos convidados do grupo) explicaram:
- Vêem convidados de Lourenço Marques e da Beira, altas figuras com quem o pai do noivo se relaciona, inclusivamente governantes. São para cima de seiscentas pessoas que ele teria dificuldade em alojar na pequena vila.
Mais que justificada a razão até porque o dinheiro não faltava.
Fomos espreitar a Maria Inês à Igreja. A sua palidez confundia-se com o seu traje de noiva.
Levou-a ao altar o Inspector dos Serviços de Educação o que tinha certa lógica por ela não ter ninguém de família. O noivo, esse sim, era a imagem da felicidade.
Mas não me interessa alargar a história por este caminho.
A lua-de-mel seria passada na Beira onde a família do noivo tinha casa própria. Mas, como o copo de água deitou para horas tardias, os recém-casados passariam a sua primeira noite na cidade de Quelimane. Recolheram-se tarde ao Hotel para estarem mais tempo com convidados tão ilustres.
Mal chegaram aos seus aposentos Maria Inês sentiu-se mal, com muitas dores de barriga. O marido pensou que alguma coisa no banquete caíra mal à sua esposa e decidiu levá-la ao Hospital. Maria Inês resistia: - Não, não é preciso. Isto passa já.
A noite (quase madrugada…) estava quente por demais. O calor, a emoção de uma jovem como Maria Inês, a ausência de familiares, foram somatórios que provocaram o mal-estar da sua esposa. Estava decidido e firme em acreditar nestas razões.
Quando chegaram ao Hospital estava de serviço um médico que também estivera no banquete.
- Por aqui? - perguntou admirado.
- A minha mulher (com que orgulho dissera esta palavra…) sentiu-se mal. Deve ter sido qualquer coisa que comeu.
O médico simpaticamente convidou Maria Inês a segui-lo pedindo ao noivo que o aguardasse na sala de esperas.
Não demorou muito a vir ter com ele. Trazia um ar feliz preparado a dar-lhe a notícia:
- Então parabéns ao Papá! Isto de ser Pai no dia do casamento não é para todos…
- Pai?! Eu nunca fiz nada com ela….
A verdade algumas vezes abre brechas, mas a mentira faz sempre muitas ruínas.


A cidade ainda despertava deslumbrada com o acontecimento social do dia anterior e já um fogo cruzado disparava em todos os sentidos com a notícia estrondosa:
- A noiva ia grávida, deu à luz na noite de núpcias e o noivo não é o pai!
Era mais ou menos neste teor, na certeza porém de que quem conta um conto acrescenta um ponto, que o escândalo se propagava.
Curiosamente não me surpreendia. Numa fracção de segundos a ponta do iceberg começava a emergir do mar profundo onde estivera submerso. Quanto ao seu real tamanho ainda não o sabíamos.
Começava a entender a atitude de Maria Inês. Jogara uma cartada alta e perdera.
Quem se sentia mais perdido era o noivo que amava deveras Maria Inês e estava disposto a aceitar todas as explicações e razões da sua noiva, aperfilhando o filho alheio e continuando com o casamento em frente.
Mas o pai do noivo não se silenciou, sentia-se lesado em tudo, principalmente na sua honorabilidade. Mandou chamar o filho e foi peremptório:
- Partes hoje mesmo para a Beira, não vês mais essa mulher e começamos já a tratar da anulação deste casamento fantoche.
- Mas pai, eu amo-a, está sozinha com um filho nos braços…
- O pai que cuide dele… eu cuido de ti. Caso contrário, deserdo-te e fica o caso encerrado.
Foi num fim de tarde. Sem horas. Foi num momento de grande intimidade que Maria Inês desabafou com o seu noivo.
Nunca soubemos o que realmente acontecera. Líamos nas entrelinhas à procura de respostas para aquele absurdo enigma.
Pedíamos explicações aos padrinhos que andavam murchos também eles sentindo que tinham sido enganados.
- Ela não sabia que estava grávida… foi violada por alguém com quem ela trabalhava na Metrópole… tinha sido fruto de um antigo namoro que não quis assumir a sua paternidade… - eram algumas das explicações que nos eram dadas.
Olhávamos para aquele trio completamente desarticulado e perguntávamos:
- Mas vocês são bonzinhos demais ou são burros de todo?
Eu pensava que, naquele caso, em nada diferia o ser bom do ser burro. Era apenas a diferença de um olhar. Mas enganei-me! A bondade foi mais forte que a decepção.
Maria Inês foi amparada, acarinhada quando saiu do Hospital, e não só pelos paladinos. Todo o grupo ajudou no enxoval do Bebé, afinal o único que não tinha culpa de nada.
Soubemos depois que o noivo, secretamente, voltara a Quelimane para propor a Maria Inês uma fuga para qualquer ponto desconhecido de Moçambique. Era preciso recomeçar porque o seu amor por ela continuava a ser o mesmo.
Maria Inês assumiu as suas responsabilidades e negou-se a segui-lo. Dizia-se que, por detrás desta atitude, andaria a mão do ex-sogro e algumas notas à mistura.
Verdades absolutas sobre este assunto nunca ninguém as teve. Ou se, porventura, alguém teve direito a elas, remeteu-se a um profundo silêncio.


Voltei a ver Maria Inês uma única vez, depois do baptizado do filho em que os padrinhos de casamento foram também padrinhos da criança. Veio a uma reunião para se despedir e agradecer o que fizéramos pelo filho. Ia para Lourenço Marques e, possivelmente daí regressaria à Metrópole. Não explicou mais nada e, tal como da primeira vez, ninguém ousou perguntar nada.
Maria Inês ergueu a sua cabecita cheia de caracóis e, pela primeira vez, notava que o seu olhar já não tinha brumas. Admirei-a uma vez mais.
Ao darmos as mãos para rezarmos o Pai-Nosso tive noção de como o perdoar era tão difícil. Desconfiamos sempre de quem errou. Mas aceitamos correr o risco.
Tinha a certeza que Maria Inês já se tinha perdoado a si própria e a quem lhe armara a maior cilada da sua vida.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O Coração da Primavera

.
A PRIMAVERA entrou no meu corpo
Com suas folhas e flores.
Durante toda a manhã
As abelhas estão zumbindo em mim,
E os ventos ociosos
Não se cansam de jogar
Com as minhas sombras.


Uma doce fonte
Corre do coração do meu coração;
A alegria lava os meus olhos
Com o orvalho da manhã,
E a vida vibra em todo o meu ser,
Como a corda de um alaúde.

Amor dos meus dias sem fim,
Solitário vagabundo das coisas da vida,
Por onde se espraia o mar alto!
Não dançam à tua volta
As borboletas de mil cores
Dos meus sonhos?
Não é este o eco das minhas escuras cavernas
E o eco das tuas canções?



Quem melhor do que tu
Poderá ouvir este cacho das horas
Que hoje palpita nas minhas veias;
Estes pés alegres
Que bailam no meu coração,
Este clamor de vida
Que bate as asas inquietas
No meu corpo?


- R. Tagore

.
Ser escolhida num número tão restrito, entre tantos blogues, sensibilizou-me muito! Agradeço de todo o coração!

Devo responder a 3 questões e passar a 3 blogues que considere merecedores.

Porque acha que mereceu este selo?
R: Pura generosidade do SEARAS DE VERSOS.

Na sua opinião, qual o post do seu blogue que acha mais merecedor de um prémio?
R: Os merecedores do prémio são todos os amigos que me visitam e comentam.

Do blogue que o indicou, o que mais lhe agrada? Ele merecia o blogue de ouro?
R:Na minha opinião é o melhor blogue sobre Poesia que conheço e leio. Merece o blog de ouro e muitos mais seguidores que venham conhecer a sua autora e obra.

Escolher apenas três blogues entre tantos, tão bons, é dificílimo...
Aqui vão:

Histórias Com Mar Ao Fundo - Intemporal - O Momento Certo

sábado, 13 de março de 2010

Dar e Receber


Era uma vez uma mão…

Uma mão como a minha, a tua, talvez.
Uma mão como tantas outras
Que só sabia dar.
Tinha um formigueiro à flor da pele
Que lhe dizia: dá, dá.
Era uma mão sempre estendida
Apenas para dar…coisas e mais coisas.
Dava e logo se escondia:
Não gostava nada de receber.
Era uma mão quase mecânica.
Era dura, parecia insensível, sem nervos, sem sangue…
Não se deixava tocar…
Um dia, alguém tocou essa mão
Tão generosa para dar.
Foi um calor tão forte, uma sensação tão agradável.
Parecia que todo o sangue do coração tivesse acorrido ali,
Para dar vida àquela mão.
O coração já estava ali.
A ânsia era enorme.
Agora sim.
Já podia participar
Em cada gesto, em cada toque daquela mão
Que era sua.
Agora já não era um dar sem mais.
Era um dar com o coração…
Dar e dar-se confundiam-se;
E aquela mão já se estendia para receber…
Já todo o corpo acompanhava aquela mão
A dar e receber.
O coração depressa envolveu todo o corpo
Naqueles movimentos de solidariedade, de encontro.
Já não eram mãos e coisas que se trocavam
Eram pessoas que se davam e recebiam…
Com o coração!

terça-feira, 9 de março de 2010

Um Principezinho


O meu principezinho chamava-se Calhambeque.
Apareceu um dia em nossa casa:
- Senhora, precisa miúdo?
- E tu sabes fazer o quê?
- Varrer o chão e brincar c’os minino!
Está bem, podes ficar. Qual é o teu nome?
- É mesmo Jerónimo.
Sim, nessa altura era mesmo Jerónimo mas depois, por influência do Roberto Carlos, dum calhambeque estampado na camisola do Rui e de um calhambeque brinquedo que o Pai Natal trouxera ao Joãozinho, passou a ser “Calhambeque”.
Quando às vezes, por brincadeira, alguém o chamava: “Jerónimo, anda cá…”, ele voltava as costas, amuado, e não respondia.
Era muito engraçado o meu Principezinho – corpo pequeno mas bem proporcionado, pele escura, cabelo encaracolado e curto, mas olhos muito vivos, amendoados e em constante movimento, um ar de permanente interrogação.
Levantava-se cedíssimo, antes do sol nascer; conhecia todos os frutos silvestres, todos os pássaros, todos os bichitos pequenos que se escondiam no capim; sabia sempre qual o caminho para voltar para casa.
Grande amizade o unia ao Boby, o nosso cão; todas as tardes tinham grandes conciliábulos encostados ao tronco da goiabeira do quintal.
Às vezes não se lembrava de varrer o pátio, mas a casota do Boby estava sempre impecável.
No entanto, estas longas conversas eram-nos sempre interditas e tínhamos de ficar na escada de pedra a olhar, admirados e um tudo ou nada invejosos pelo franco entendimento dos dois.
Acontecia até que, quando o Calhambeque via o Boby, parecia rir-se também. Era demais!
- Calhambeque, vamos jogar à bola. E a tarde acabava num movimentado desafio com muitos golos.
… e agora rematava o Eusébio: golo! – O Eusébio rematava sempre dos lados!
Nunca nenhum de nós tinha visto jogar um clube metropolitano e os nomes quase nada nos diziam – Sporting, Benfica, Ferroviário – era tudo o mesmo. Mas o Eusébio, não; esse era o maior.
- Qual é o maior jogador do mundo, Calhambeque?
- É mesmo Eusébio.
- Então, tu és do Benfica?
- Sim, do Benfica daqui.. o único que tínhamos visto jogar.
- Calhambeque, amanhã o Joãozinho vai para a Escola. Vem fazer as contas com ele.
Mas os números eram demasiado abstractos.
- Mas ouve, Calhambeque, se não aprenderes os algarismos e a tabuada, nunca saberás fazer uma conta. Precisas de saber contar.
- Mas contar para quê?
Sim, para quê se ele tinha tudo – todos os pássaros, todos os frutos, todas as estrelas, todos os grilos do jardim, todos os raminhos duros para fazer fisgas – tudo.
- Ora, contar dinheiro, por exemplo. Quando ganhares muito dinheiro…
- Eu não precisa dinheiro.
E sorria, feliz, de braços abertos pelo quintal cheio de sol. Todos invejávamos a sua liberdade e a sua sabedoria de pequeno feiticeiro.


O planeta do meu Principezinho não era lá muito distante.
- Quantos quilómetros, não sabe.
- Mas é muito longe?
- Não, é só um dia…
E assim, a um dia de caminho ficava esse planeta misterioso que nós imaginávamos cheio de palhotas e coqueiros, talvez uma grande mangueira, á volta da qual correriam crianças e cães, galinhas e algum cabritito. Um planeta cheio de vida, com noites de luar e batuques, cujo ritmo avinhávamos no corpito ágil do Calhambeque.
Uma lata de azeite era o tambor. Nunca as nossas mãos tiraram de lá aqueles sons, nunca os nossos pés desenharam no chão batido e seco arabescos tão rápidos e confusos, nunca compreendemos o prazer com que se entregava à música, nem a exaltação que punha em todas as suas danças.
Mas, um dia, o meu Principezinho foi-se embora… Tal como viera, desapareceu. Os dias continuaram iguais, talvez depois, um pouco monótonos. Alguma coisa o chamava do seu planeta. Uma fogueira acesa na noite, uma palhota cheia de fumo e vozes… um cãozito rafeiro ladrando à Lua… sei lá! Nunca esqueci o meu Principezinho de pele escura e, quando olho a lua das minhas recordações, interrogo-me se ele ainda se lembrará de nós…

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher

Foi num dia 8 de Março que partiste
E deixaste tão só a tua “Miúda” mas sabias que ela se tornaria verdadeiramente MULHER!


Não Morreu!...

Levanta o olhar para lá das nuvens
Da tristeza e da saudade e solidão…
Verás que aquele que amas continua teu,
Porque está vivo!..
Adormeceu…

Rasga o nevoeiro denso da amargura
Com os faróis da Fé e da Esperança,
E verás que aquele que amas continua
Teu,
Porque está vivo!...
Adormeceu…

E quando transpuseres a curva da morte
Na caminhada veloz para os céus,
Reencontrarás aquele que partiu e amas
Eternamente vivo
Na vida de Deus.


- Mário Salgueirinho

sexta-feira, 5 de março de 2010

Homenagem às Mulheres


De madrugada, quando o sol é ainda uma estilha cor-de-rosa e as acácias arranham o céu com silhuetas grotescas, o canto dos galos – um no assento de um tractor, outro numa lata de gasolina caída, outro no telhado de colmo do celeiro – acorda as mulheres nas terras áridas de África. Como um só corpo, levantam-se, amarram os lenços à cabeça e os bebés às costas, põe lenha a
arder sob os caldeirões, separam comida para as galinhas e porcos, amontoam papa de aveia em tigelas, amaldiçoam o cão e fazem fila para a bomba de água. Quando o sol nasce - um malévolo olho laranja – metem-se pelo trilho traçado no mato por gerações de pés endurecidos pelo trabalho, e dirigem-se ao campo para passar o dia.
Nas planícies húmidas da Ásia, a madrugada põe também as mulheres em movimento: rastejam para fora dos seus mosquiteiros, enrolam firmemente os seus saris, sopram o braseiro para o avivar, desfazem-se em meiguices para convencer os filhos a comer arroz e os bezerros a comer papa de aveia, conduzem o búfalo para os arrozais envoltos em nevoeiro, e depois avançam para a tépida água castanha e vergam-se, assim permanecendo durante todo o dia.
Nos Andes é o sino da Igreja e os cães a ladrar que acordam as mulheres. Murmuram uma oração, apertam uma saia, arrastam baldes de água desde o poço na praça da aldeia, prendem as cabras e ordenham-nas para um velho balde de alumínio, aquecem feijões e despejam-nos em pratos de latão.
Depois, fechando uma porta raquítica, avançam pelo trilho íngreme e pedregoso que vai das suas casas até aos campos.
Outras são acordadas pelos chamamentos para a oração do alto dos minaretes das mesquitas; por macacos a zurrar pendurados em oliveiras; por vacas a mugir, com as tetas intumescidas e cheias de leite.
Estas mulheres, que vivem nas zonas rurais de todo o mundo, são agricultoras em tudo menos no nome. E a sua labuta produz metade da alimentação mundial.
Para sermos iguais temos que assumir o que realmente somos; e nós, mulheres, nunca seremos mulheres iguais se não nos amarmos umas às outras.

quinta-feira, 4 de março de 2010

POSSO TOCAR NO NARIZ DO TEU BLOGUE???


Este é um selo que recebi do FRANCISCO do blog VALE DOS SENTIDOS e ainda do famosíssimo NAMORADO DA RIA.



Tal como ele, não gosto muito de selos com JOGUINHOS porque o espaço na PALHOTA é pequeno como sabem… Só os selos (que adoro) pois lá os vou encaixando numa varandita que dá sobre o palmar. E em noite de luar… como brilham. Obrigada pela vossa AMIZADE!
Mas pronto, vou fazer a vontade ao FRANCISCO, porque, aqui que ninguém nos ouve, ele é perito em arranjar-me que fazer!!! Não estou a brincar… Para comprovar o que vos DIGO, leiam JÁ o post a seguir onde está TODA A VERDADE…

Vamos lá então às perguntas e respostas:
1- Dizer uma coisa que gosto em mim: Força de vontade!
2- Dizer uma coisa sobre o blog de onde recebeu o selo: É um blog VARIADO como eu gosto, com boa escrita, histórias maravilhosas e com SINCERIDADE total.
3- Desafiar 5 blogues para responderem a este Desafio, explicando o motivo da escolha (Vou falar antes dos autores como fez o Francisco):

1-CASA DO RAU (NÁ) - Pelo seu carinho e AMIZADE altruísta, disponibilizando-se SEMPRE a fazer o OUTRO feliz. (Eu que o diga…)

2-INFINITO PARTICULAR (MALÚ) - Porque toda ela é doçura, expressividade e de uma delicadeza única. Amo esta BRASILEIRA.


3-MARIA CUSCA (LINA) - É uma AMIGA! Já não passo sem as suas VISITAS e o seu CARINHO Depois…tem umas mãos de fada…Visitem o seu blog para verem maravilhas…


4-CONSTÂNCIA (VILA POEMA) (MANUEL MARQUES) - Porque é dos AMIGOS quase da PRIMEIRA HORA. Deu-me sempre APOIO e visita-me ASSIDUAMENTE. Adoro o seu BLOG sempre com ÓPTIMAS postagens.

5-PERFUME DE JACARANDÁ (LIS) - Pela suavidade das suas postagens que deixam ADVINHAR (E SENTIR) uma alma SENSÍVEL e BONITA. Quando venho de LÁ, até o meu coração vem PERFUMADO.


4- Dizer uma coisa que goste nos blogues escolhidos: Se os escolhi, é porque GOSTO de TUDO o que eles nos OFERECEM. Fico só com uma MÁGOA: não poder escolher TODOS os meus SEGUIDORES e AMIGOS porque são eles TODOS JUNTOS (sem excepção) o SOL dos meus DIAS. A minha AMIZADE é TODA VOSSA. -GRAÇA


PRIMEIRO DESAFIO DO “ NAMORADO DA RIA”
O Francisco propôs um DESAFIO INTERESSANTE a que TODOS podemos, e devemos, ADERIR. Mas vou deixá-lo falar:

“”“Convido-vos a TODOS a participar nesta INICIATIVA, enviando um texto INÉDITO e que aborde um tema que normalmente não publicariam nos vossos blogs. Algo que SURPRENDA a todos, por acharem que não tem nada a ver com a pessoa que julgam conhecer,mesmo que virtualmente. Encarem-no como um DESAFIO PESSOAL, que vos obrigue a mudar de estilo. Ou algo que sempre tiveram vontade de DIZER ou de CONTAR e que nunca se atreveram por qualquer motivo.

ATREVAM-SE a participar e DIVULGUEM este desafio nos VOSSOS blogues.

Vai ser ENGRAÇADO!!

REGULAMENTO

1-Os textos deverão ser enviados para o email disponível no meu perfil.

2-Os textos serão postados neste blog (do Francisco) TODOS de uma vez.

3-Os textos deverão ser enviados até à meia-noite do dia 14 de Março.

4-Poderão participar TODOS os visitantes REGISTADOS neste blog ( do Francisco).
5-Poderão votar TODOS os VISITANTES REGISTADOS neste blog (do Francisco) através de comentário, considerando-se VÁLIDO apenas UM voto por PERFIL.
6-Todos os textos serão publicados sem ASSINATURA, sendo IDENTIFICADOS pelo TÍTULO. A sua autoria só será divulgada DEPOIS do final do Concurso.

7-A AUTORIA nunca será divulgada se o AUTOR assim DESEJAR. ESSA INFORMAÇÃO DEVE ACOMPANHAR O TEXTO.
8-Não serão permitidos textos de índole insultuosos ou caluniosos que visem atingir terceiros.
9-Os VOTOS serão aceites até ao DIA 21 de MARÇO, sendo o RESULTADO anunciado à MEIA-NOITE do mesmo DIA.

10-Será SELECCIONADO apenas UM TEXTO. O que for publicamente MAIS VOTADO.

11-O CONTEMPLADO receberá de PRÉMIO o direito de ter o seu blog em DESTAQUE ali na BARRA LATERAL, pelo período de UM ANO, e ainda…Bem, depois se vê…”””

E mais não vos digo… porque mais não me disseram!!! CONCORRAM!!!

Poderão participar TODOS os visitantes REGISTADOS no blog do Francisco.



segunda-feira, 1 de março de 2010

Recado


Para além da filatelia, a minha paixão desde garota e que é o coleccionismo mesmo a sério na minha vida, faço colecção de postais dos meus aniversários, Natal e Páscoa, organizados desde os meus quinze anos em mais de vinte álbuns. Aqui, em Portugal, nasceram mais duas paixões: a colecção das caixinhas (tenho-as de todos os tamanhos) e, mais recentemente, de canecas…
A minha última caneca foi-me oferecida por uma amiga muito querida. Não sei bem porquê mas resolvi tirá-la do sítio onde estão as outras e é nela que tomo o meu café da manhã. Não tem nenhum atributo especial. É de barro como muitas outras, tem umas rosas, em relevo, bem pintadas, que a torna muito bonita. Por baixo das mesmas uma frase que leio e releio enquanto bebo o leite: “O amor que dás aos outros / todos os dias e ao longo do ano inteiro / multiplicar-se-á numa centena de pétalas / e retornará a ti”. Parece-me um recado. Analiso a minha vida e convenço-me que há muito de verdade nestas palavras. Claro que nem tudo são rosas como as da minha caneca que não têm espinhos. Eu já os tive de desilusões, de ingratidões e de esquecimento… ainda assim, não dá para cobrar juros daquilo que não retornou a mim.
Volto à frase da minha caneca e penso que, antes de a ter todos os dias nas minhas mãos, nunca me tinha preocupado com esta contabilidade de retorno… A rectidão da dádiva está precisamente, penso eu, em não se esperar recompensa…
O capital das minhas acções e atitudes, não sei se renderam alguns juros e não me importa saber. Estão depositados no banco da amizade onde não há perigo de assaltos, cheiro a bafio nem manchas de bolor. Também não pretendo com ele comprar a eternidade embora agora me lembre do cêntuplo prometido no Evangelho.
Prefiro antes que o amor que dou aos outros seja um eco que, repetido, beneficiará o mundo inteiro. Olho as estrelas, que costumo contar nas noites em que são mais visíveis, que continuam a brilhar de um modo extraordinário, a comover poetas ou a iluminar sonhadores enamorados… se dependessem dos agradecimentos dos homens, há muito se teriam apagado.
Penso na minha amiga que me ofereceu esta caneca com um recado junto às rosas em relevo e acredito, sem nenhuma dúvida, que o perfume fica sempre na mão de quem oferece a rosa…