domingo, 24 de junho de 2012

Versos Para a Minha Alma



Se vires os teus sonhos derrubados
Porque a mão da esperança os não levanta
E pelo chão caídos e pisados,
Apesar disso, canta!
Canta a tua cantiga singular
Nos tons mais joviais e mais erguidos,
Até que um dia Deus faça cantar
Os teus sonhos pisados e caídos.
Se o trigo que lançaste à terra dura
À custa do suor que te quebranta
Na terra achou apenas sepultura,
Apesar disso, canta!
Canta num esforço de alma ou muscular,
Muito embora te chore o coração,
Até que um dia Deus faça cantar
Tuas espigas túmidas de pão.
Se tiveres no peito negro e frio
Um mal que de hora a hora se agiganta.
Deixa correr as lágrimas a fio
E apesar disso, canta!



Canta sempre mais forte e sem cansar,
Que neste mundo não há voz que baste,
Até que um dia Deus faça cantar
As lágrimas que em fio tu choraste.
Se em tuas mãos serenas, sem pecado,
Mãos esmoleres de rainha Santa,
Só existir a cinza do passado,
Apesar disso, canta!
Canta com voz igual à voz do mar
Num ritmo sem compasso, mal seguro,
Até que um dia Deus faça cantar
As tuas mãos pejadas de futuro.
Canta canções de guerra ou de acalanto
Sem recear enfado nem castigo.
Canta com fé, com risos ou com pranto,
Que, ouvindo a insistência do teu canto
Um dia o próprio Deus canta contigo!


In “Para além da Vida”

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Edelweiss - A Lenda


A edelweiss, a mais conhecida e poética flor das montanhas e da neve, é originária das estepes da Ásia Central. É uma pequena flor, com o centro de um amarelo acinzentado, rodeada de pétalas brancas e aveludadas. Floresce de Julho a Setembro. A edelweiss tem uma lenda…
Conta-se que há milhares e milhares de anos – quem poderia contá-los? – surgiu uma montanha num planalto coberto de neve.
Todas as suas vertentes eram escarpas cobertas de neve e gelo, como se fosse uma cobertura rendada. E lá no cimo da montanha, num píncaro inacessível de brancuras imaculadas, encontrava-se a Dama Branca sobre o seu trono de gelo. Vítima de um sortilégio, ali ficara prisioneira das neves eternas, até que um ser humano chegasse até ela e lhe beijasse a mão.
A aventura era considerada impossível porque, ainda que algum audacioso pudesse escalar a alta e íngreme montanha, pequenos gnomos armados de flechas trespassá-lo-iam.
No entanto, um dia, um belo e jovem príncipe quis tentar a escalada perigosa. Chamava-se Dourado. Insensível às súplicas e lágrimas do seu povo, partiu.
Ao atingir o planalto, despediu-se dos seus soldados e começou a subir a montanha.
Quando estava prestes a atingir o pico onde se encontrava a Dama Branca, uma enorme massa do rochedo desprendeu-se e arrastou-o. A Dama Branca que ansiosa e trémula tinha seguido os seus esforços, desatou a chorar quando viu o seu príncipe precipitar-se no abismo.
E cada uma das suas lágrimas, ao tocarem a neve, transformava-se numa estranha flor, desconhecida até ali. As pétalas dispostas em auréola em volta de um chapelinho de flores amarelo acinzentado, eram brancas e como que recobertas de uma delicada penugem para as proteger do frio.
Pareciam recortadas num tecido suave e irreal, duma beleza delicadíssima, mas severa. Eram os filhos da dor e do rochedo. O vento, acariciando estas flores, levou para longe sementes que foram cair sobre montanhas vizinhas e dessas, passaram depois de novas flores, para outras montanhas… E foi assim que de montanha em montanha chegaram aos Alpes e lembram para sempre a Dama Branca e o seu príncipe Dourado.



quarta-feira, 6 de junho de 2012

Diálogos com a Natureza






Juntei a poesia e a Fé e, de mãos dadas, descobri na cidade, ao entardecer, a riqueza da sua diversidade, a doçura do seu sofrimento.



Só via pedras no meu caminho, mas eis que, de repente, entre elas, descobri uma pequenina flor perdida que nessa noite havia desabrochado pensando só em mim. Não tive mais o direito de ficar triste.



Fala-se em Ecologia, em defesa do planeta. Já reparaste que se tiveres respeito por ti próprio e pelos outros, ela acontece naturalmente?



Coragem é pegar nos cacos de uma vida, juntá-los com persistência, aceitar a derrota com humildade, e partir de novo confiante no seu objectivo.



O mundo tem demasiadas barreiras a transpor e poucos ancoradouros seguros aonde ficar.



Quando me falam de ciência, lembro-me dos imensamente pequenos - os átomos - e admiro a força que eles têm.



A dor vivida em silêncio engrandece-se e quase chega a ser virtude para quem a vive.




As flores são mensagens de amor que Deus nos manda.



À medida que caminho na vida, parece que me faltam horas. Será que o tempo correu depressa demais ou fui eu quem se atrasou? Terei sabido que as horas são feitas de minutos e segundos e que tudo tem de ser aproveitado para que não fique cá dentro a sensação de vazio?


Texto de Graça Machado
Fotos de Nuno Machado