segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Zambeziana Convida...


Quando iniciei esta rubrica, comecei com chave de ouro com duas convidadas excepcionais neste nosso mundo virtual, duas escritoras bem reais que usam a palavra de um modo diferente porém grandioso, cada uma na sua área!

Maria Manuela Baptista com o seu Blog “HISTÓRIAS COM O MAR AO FUNDO” (histórias-com-mar-ao-fundo.blogspot.com) é uma contadora nata de histórias com criatividade, fantasia e muita imaginação, ilustrando-as com desenhos da sua autoria… Vale a pena visitá-la e trazer as suas histórias dentro de um bolso.
“Se eu pegar num fio de luar, trago comigo este mar… Encho um cesto de peixes e faço com eles rosas de palavras e conto-as pelos dedos… como quem as desfolha para tas oferecer” (comentário no blog de Manuela Baptista)

Maria Elisa Ribeiro e o seu blog, “LUSIBERO” (lusibero.blogspot.com)
É a palavra brilhante na sua portugalidade, nos problemas sociais, na poesia e na Literatura.
É vasto o seu campo de actuação.
“ A flor de Lótus ou o jasmim? Qual escolher? Uma, tem o mistério do amor e a outra, a candura do seu perfume…Fico com as duas para que possa “roubar” o teu poema por inteiro.” (comentário no blog de Maria Elisa)

A minha convidada de hoje, fui buscá-la ao outro lado do oceano, a terras de Vera Cruz, ao blog “FUNDO DE MIM” (jurigoni.blogspot.com)!

Chama-se JU RIGONI e define-se desta forma:
“ Mais me conheço/ mais me estranho! De certo só a certeza… /Ninguém conhece ninguém…
Conhecer-me?..Que pretensão…a minha!”
Sou sua seguidora e leitora assídua, porque cada poema seu tem sempre algo de vivencial, forte, diferente na sua verdade! Escolhi (e foi difícil) para a postagem de hoje, o poema:

“NO RISCO DA TRAVESSIA”


Vejo tantas coisas
que (dizem) não existem...
Ainda assim, vejo-as de muito perto.
E são tão substantivas,
tão concretas,
tão tangíveis...

Mas,... (dizem),
está tudo na minha cabeça;
(insistem:) não existem!

Devo procurar um oftalmologista?
Um parapsicólogo?
Um psicanalista?...
Ao me procurar
avanço todos os sinais,
e atravesso, correndo,
para um outro lado...

Estabanada,
não ouço alertas de buzinas...
E sou atropelada pelos pensamentos
no cruzamento das mesmas esquinas
em que olhando o nada
tudo vejo...

Ao fazer o caminho de volta,
o que vi vem comigo.

Tudo aquilo que está
para além do meu além,
que, insistem,
está muito aquém...

Nem existe.

Atravessam-me
porque atravesso;
porque há,
na luz,
um lado obscuro
que me delicia;
que propicia o encontro.

Bem ou mal,
juro!,
quando estou comigo
nunca estou sozinha...

Ju Rigoni (2005)


Obrigada JU por teres aceite o meu convite, enriquecendo o Zambeziana desta forma!

Beijo

Graça


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Segundo Aniversário do Blog "Zambeziana"



O tempo rolou como só ele o sabe fazer… Passaram dois anos desde o começo do meu blog com uma pequeníssima pausa para pensar no modo como as minhas palavras se alastravam…
E é desta forma que eu chego a cada um de vós! Não nos conhecíamos… Hoje, utilizo este espaço para estar com AMIGOS!


Pensar eu que teria hoje mais de seiscentos seguidores, outros amigos assíduos sem estarem inscritos e ainda outros que passam esporadicamente por este carreiro, pernoitam na palhota e deixam também o seu comentário… Isto é, conversamos!
Entramos assim na intimidade uns dos outros! Somos também companheiros na crise, nas interrogações, na solidão, nas angústias e nas alegrias. O simples encontro com uma companhia fiel e de um olhar amigo sobre o que escrevemos, abre diques e ilumina todos os fundos mais escuros. A um amigo, confessamos as coisas mais ínfimas e até corriqueiras do nosso dia-a-dia. Se calhar, até nos é permitido chorar – afinal, estamos entre amigos!
O que é certo é que há intranquilidades que se acalmam apenas porque alguém nos entende, nos recebe, nos valoriza e suaviza aquele dia que começara cinzento.
Há muitas feridas que se fecham quando as mostramos e, do outro lado, encontramos, compreensão. E à medida que o tempo passa e são sempre os mesmos amigos a estarem presentes, o afecto vai-se tornando mais profundo, cresce a confiança nas comunicações, nasce um vínculo que une vidas e liberta as forças mais sagradas do coração humano.
Um aniversário é sempre um aniversário, seja do que for! Por isso, queria encher esta página com palavras de vida que fossem comunicação, sim, mas mais: a secreta biogénese dessa coisa estranha a que se chama comunhão de corações.


Que tudo fosse bom e inédito! Que a solidão terminasse, que a saudade fosse redondo presente, apenas no que de bom teve o passado.
Um aniversário deve ser um dia diferente: partilho convosco o dom da vida, estendo o meu coração agradecido a cada um de vós pela vossa presença amiga ao longo deste tempo, os meuslábios cantam uma canção e digo-vos com toda a sinceridade: Este Aniversário ficaria mais pobre se vós não existísseis!!


BEM- HAJAM!



Venham todos comer uma fatia, a festa está aberta!

O blog também recebe prendinhas...


Querida Ná, tu nunca te esqueces, obrigada pela tua amizade.

Obrigada Livinha pelo teu carinho. Beijo.


Obrigada por todo o teu carinho e cuidado que utilizas com todos os teus amigos. Estás sempre presente.


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Emoções


As minhas emoções mais remotas estão ligadas à minha terra, quente e farta. Aos meus irmãos negros, trabalhadores no palmar, nos arrozais, nos campos de sisal e algodão… Vejo nas aldeias indígenas, junto às grandes mangueiras, uma profunda sugestão de pobreza e amo a pobreza acima de todas as coisas; não a pobreza sórdida e famélica mas a pobreza que é abençoada: simples, humilde como o pão escuro ou como os “tarragos” cheios de mangas que trazíamos das visitas às “tembas”. Vínhamos sempre mais ricos do meio de tanta pobreza… Era uma alegria serena que nos inundava o coração. Alegria plena, vida interior com sentido. Queria rever as mesmas coisas, a velha mangueira onde debaixo da sua sombra, eu falava de Deus às crianças… os nenúfares espalhados pelo verde dos arrozais, ali no quilómetro cinco; aquela casa distante no meio do nada e que sempre me encantou falando do tempo, de histórias imaginadas; aquele pequeníssimo cemitério indígena junto à estrada para Nicoadala que, no princípio, me metia medo por causa da sombra e do mistério mas que depois, reduzido à sua dimensão, me falava de pombas e de cantos de pássaros… Queria rever tudo e queria-o nos lugares de sempre.


Os nenúfares, tantos… nunca me cansavam!



CHUABO
De luar de prata…
CHUABO
Ai, a saudade mata…

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Antes do Grito

Antes do Grito

Foi a mão sem anéis, antes da luva
Sorriso breve, antes do beijo lento.
Foi a rosa ,entreaberta antes da chuva.
Foi a brisa, encontrada antes do vento.


Foi a noite, a inocência na demora.
Foi a manhã-verde janela aberta:
Dois corpos lisos que se vão embora
Como acordar a praia, ainda deserta.


Foi a paz, o silêncio antes do grito.
Foi a nudez, antes de ser brocado…
E foi o cântico interdito
E todo o meu poema recusado!


- PEDRO HOMEM DE MELLO



(Pedro Homem de Mello nasceu no Porto a 6.9.1904 e faleceu em 5.3.1984. Foi poeta, professor e folclorista português. Formou-se em Direito na Faculdade de Coimbra. Escreveu vários poemas para fados de Amália Rodrigues. O último foi gravado em 1991 e musicado por Alain Oulman)