sábado, 26 de junho de 2010

São Pedro - As Sandálias do Pescador


Gosto de Pedro, rectificando, gosto de São Pedro! Sempre me encantou pela sua humanidade e enorme coração! Era um pescador da Galileia, como tantos outros que Jesus chamou. Mas Pedro foi o primeiro! Era extremamente dedicado a Jesus a ponto de O querer defender com a sua espada. Era um homem simples, quase analfabeto e demasiado impulsivo e pecador como qualquer homem pode ser. Cai na tentação e renega o Mestre três vezes: “Não, não O conheço; nunca vi esse Homem”. Chorou lágrimas amargas sobre a sua ingratidão mas levanta-se pelo arrependimento.


Um dia, Jesus perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem que Eu sou?” Responderam: “ Uns dizem que és João Baptista, outros, Elias, outros que és algum dos antigos profetas.” E vós quem dizeis que Eu sou?” E Pedro responde sem a menor hesitação: “ Tu és o Cristo de Deus”. E é a primeira vez que alguém chama “Cristo” a Jesus!
Na última Ceia, Pedro nega-se terminantemente a que o Mestre lhe lave os pés. A sua impulsividade saltava sempre primeiro. Jesus disse-lhe: “ Se não me deixares lavar-te os pés, não entrarás comigo no paraíso”. E logo Pedro: Então se é assim… não só os pés, mas a cabeça e o corpo todo. Este é Pedro, igual a nós nas atitudes e sentimentos.
O Mestre tinha vários discípulos, alguns até mais inseparáveis da sua figura e vida do que Pedro. Talvez porque Pedro fosse casado e tivesse a sua família também para cuidar.
João, o discípulo predilecto, esteve sempre mais presente na vida de Jesus, permanecendo aos pés da cruz onde o Senhor morreu.
No entanto quando Jesus pensa na fundação da sua Igreja, testa Pedro:
-Simão, filho de Jonas, amas-me mais que estes?
-Sim, Senhor, sabeis que Vos amo!
-Apascenta as minhas ovelhas.
E mais insistentemente, Jesus voltou a inquirir:
-Simão Pedro, tu amas-me?
-Ó Senhor, Tu sabes que sim – provavelmente Pedro começava a perder a paciência…
E pela terceira vez, Jesus interrogou?
-Simão Pedro, tu amas-me?
-Ó Senhor, Tu que sabes tudo, bem sabes que eu te amo – respondeu possivelmente já aborrecido com tanta dúvida.
-Então apascenta as minhas ovelhas. Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do rei no dos céus. Tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.
E nascia o primeiro Pastor da Igreja, um homem como nós, cheio de faltas, pescador com cujo trabalho alimentava a sua família, quase iletrado mas grande, muito grande no amor ao seu Mestre.


Pedro foi preso depois de ter percorrido toda a Palestina pregando e fazendo milagres; na prisão converteu os seus carcereiros e outros prisioneiros que privavam com ele.
Foi condenado à morte na cruz como o seu Mestre mas suplicou:
-Então que seja de cabeça para baixo pois não sou digno de ter a mesma morte gloriosa do meu Senhor.


Quem duvidar dos alicerces da Igreja católica, estude Pedro, este homem rude, de mãos gastas pelas redes pesadas mais pelas intempéries do que pela pescaria.

Pedro é conhecido com as chaves nas mãos porque o Senhor lhe entregou as chaves do reino dos céus e da sua Igreja.




Pedro é o protector dos pescadores. É ele que vai sempre nas barcas destes homens do mar.






Fotos dos festejos de São Pedro na Afurada (Gaia) e da procissão em sua honra. É levado até ao mar para abençoar os barcos dos pescadores.


segunda-feira, 21 de junho de 2010

São João Baptista




João Baptista é o único Santo cuja comemoração se festeja no próprio dia do seu nascimento (24 de Junho) ao contrário dos outros santos que são festejados no dia da sua morte.
Talvez porque seja o Precursor do Messias, o que vem à frente a preparar os caminhos para a chegada de Jesus.
É um homem simples, amigo do deserto e imbuído de uma missão importantíssima. É aquele cuja “ voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”.
Maria (mãe de Jesus) e sua prima Isabel, estavam ambas grávidas e é interessante ver nestas duas mulheres, uma (Isabel) já muito idosa que, só é mãe por vontade do Senhor (Antigo Testamento), e uma jovem, muito jovem mesmo, escolhida para ser mãe do Salvador (Novo Testamento). João Baptista é pois o último profeta do A.T. e o primeiro apóstolo do N.T. Ele faz a ponte! João Baptista era primo de Jesus Cristo.
Na idade madura começa as suas pregações e era intransigente na hipocrisia e na imoralidade.
É muitas vezes duro naquilo que diz. Começa a baptizar nas margens do Rio Jordão, onde aí, baptiza também o próprio Jesus a mando Deste, pois João achava-se indigno de o fazer.
Mais tarde é decapitado por capricho de Salomé, enteada de Herodes e por João ter denunciado a mancebia entre o Rei Herodes e a mãe de Salomé.
Salomé dançou muito bem numa festa e Herodes satisfeito perguntou-lhe o que ela queria em troca e aconselhada pela mãe, que queria vingança, pediu a cabeça de João Baptista!


É noite de São João
E em cada rua modesta
Cada pedaço de chão
É um pedaço de festa!



Que importa haver queimado
Meu coração, vida além?
As cinzas têm um passado
Que a lenha verde não tem…


- As fogueiras são acesas na tarde de 24 de Junho, acompanhadas de foguetório, jogos, prendas e bailaricos. A fogueira mais tradicional tem a base redonda, como se fosse uma pirâmide.
João Baptista do signo Carneiro (do fogo) dá início ao ano astrológico, no qual o “Sol Espiritual” traz benefícios palpáveis: as sementeiras, as colheitas, para além da alegria, do bom tempo, do convívio…


Em namoro e atrás dela
A rusga do amor é assim.
Casámos, agora é ela
Sempre em rusga atrás de mim!

- São João, o fogo e o solstício de Verão, no hemisfério Norte, estão, então, indissoluvelmente ligados com uma acção, um trabalho essencialmente transformador pelo “Fogo Sagrado”.
O nascimento do Precursor, seis meses antes de Jesus, participa da grandeza do mistério da Encarnação que ele anuncia. Isto se deve à Missão única que na história da Salvação foi confiada a este homem de quem o Salvador dirá mais tarde ”Que foste ver ao deserto? Um Profeta? Sim, eu vos digo, é mais do que um profeta. Este é aquele a que foi dito: Eis que envio à tua frente o meu anjo que preparará o Teu Caminho diante de Ti; pois Eu vos digo que, entre os nascidos de mulheres, não há ninguém maior do que João”.



Três fotos de fogo de artifício sobre a ponte D. Luís no Porto.

Fogo de artifício sobre o rio Douro visto a partir de um dos vários barcos de recreio atracados no cais de Miragaia.



- A imagem de João Baptista é apresentada geralmente com um menino com um carneirinho ao colo. É que foi ele quem anunciou o Cordeiro de Deus.
Apesar de descrito como homem solitário, o povo se encarregou de criar o mito de que João Baptista adora festa barulhenta. No entanto, ele costumava dormir na noite da sua festa.
Mas… se o estrondo do fogo-de-artifício for alto e forte o clarão das fogueiras, o Santo acorda e festeiro como é, desce à terra para comemorar com os homens, principalmente os TRIPEIROS:

São João no Porto:

Arraial, rusgas e marchas:

Recriação de São João com o cordeiro de Deus (Agnus Dei)



Decorações variadas nas ruas do Porto.



Que importa que eu seja pobre!
Sou como a fonte cantante;
Tenho alegria que sobre
Para dar ao caminhante!



Exemplos vários de rusgas de São João.


Decoração e fogo:


A ideia da ingratidão
Pode-se assim exprimir:
Foguete que queima a mão
Que o ajudou a subir…




O fogo-de-artifício de São João centra-se normalmente sobre o rio Douro, lançado das pontes que o transpõe para ser visto em toda a zona ribeirinha de Porto e Gaia (e mais além claro...)


Os foliões:

Muitas rusgas formam-se de improviso pelas ruas da Cidade Invicta.


Ainda há que tente fugir às marteladas... sem grande sucesso!


As ruas enchem-se de gente de todas as idades. Na idade da informação não pode faltar a cobertura televisiva deste que é já um dos grandes eventos populares portugueses e uma entrada em cheio no verão.


Cabe mais alguém? Claro, venha que é bem vindo!


Ias na marcha contente
Nem me viste no caminho…
O Porto era um mar de gente
- E eu, sem ti, tão sozinho.


Onde há espaço dança-se à volta das fogueiras...


Deixas-me tão perturbado
Quando saltas à fogueira
Que até chega a ser pecado
Não pecar á tua beira…


As tradições:



Dum sonho, nasce o desejo
Da promessa, a oração.
Dum abraço, nasce um beijo
E do amor, um balão!....


De todo o lado lançam-se balões de papel, mais ou menos coloridos, que levam o fogo sagrado pelo mundo fora. Há registos de balões que viajaram muitos quilómetros até finalmente se apagarem ou serem consumidos pelo fogo. Um céu de São João atravessado por pequenas estrelas movendo-se agilmente é um espectáculo único, a não perder.



As pessoas muniam-se de alhos pôrros e molhos de cidreira, actualmente as armassão outras, mudaram para martelos de plástico, duros e ruidosos, mas que acabaram por ser bem aceites e hoje já fazem parte da tradição. A festa já na altura juntava mais de meio milhão de pessoas, que tornavam as ruas pejadas de gente, e onde não há atropelos, as zaragatas são de imediato sustidas pelos populares, os beligerantes rapidamente selam a paz com mais um copo e uma pancada de alho pôrro de amizade. O S. João do Porto é uma festa onde ricos e pobres convivem uma noite de inteira fraternidade e onde a festa é constante. Nos bairros, a festa continua e as comissões organizadoras de cada uma mantém o baile animado até altas horas da madrugada. No tempo áureo do alho pôrro quem chegasse ao Porto vindo de fora estranharia o odor espalhado pela cidade... efectivamente ela cheirava a alho.


Nem Mário Soares escapou às marteladas (e algumas parece dadas com vontade eh! eh!)

O martelo de S. João terá sido inventado em 1963 por Manuel António Boaventura que tirou a ideia de um saleiro/pimenteiro que viu numa das suas viagens ao estrangeiro. O conjunto de sal e pimenta tinha o aspecto de um fole ao qual adicionou um apito e um cabo vindo a incorporar tudo no mesmo conjunto e dando-lhe a forma de um martelo. O objectivo inicial era criar mais um brinquedo a adicionar à gama de que dispunha...






A tradição das cascatas de S. João já é antiga e continua a fazer parte das comemorações da cidade.
Dois séculos depois, a tradição mantém-se. Apesar de existirem em menor número, as cascatas continuam a fazer parte das comemorações do S. João, no Porto, para além do indispensável alho-porro e do manjerico.

Ó meu S. João do Porto,
quando chegas está tudo morto pra nas fogueiras saltar!
Ai, meu S. João do Bolhão e Fontainhas,
das cascatas enfeitadinhas e dos balões pelo ar!…





A cidade:
Toda a cidade é inundada pela cor...

Nenhuma rua, grande ou pequena, escapa ao espírito, à cor e à luz que o São João representa.

Eu quisera ser o vento
Fosse na serra ou na praia,
Que fazes no movimento
Do teu andar com a saia…


Ando no são João, a rodar
Sozinha, desiludida…
Por ter perdido o meu par
Na contradança da vida!

Na Ribeira do Porto, onde parece não caber mais ninguém, o povo junta a cidade ao rio, numa enorme maré de alegria, cor e simplicidade...


Visto de Gaia, o Porto, engalanado, abre as suas portas ao mundo, às gentes... Venha quem vier será por uma noite portuense, tripeiro...

Que não tenho coração
Dizes por aí… bem sei!
Como queres que eu ainda tenha
Uma coisa que já te dei?

Hoje em dia a festa tradicional, popular, beneficia já de forte apelo turístico e do consequente apoio à organização prestado pelo município e outras instituições públicas e privadas.


A gastronomia:

Tradicional é a sardinha a pingar no pão!!! Ou com batata cozida e pimentos assados! Hmmm...



Mas cada vez mais o tripeiro reverte a outras tradições na noite de São João. Seja porque a crise fez subir o preço da sardinha ou porque a Comunidade Europeia fez reduzir as quotas de pesca, vê-se mais e mais a francesinha e as tripas a entrarem na ementa do São João. Até porque dão aquela força extra para um grande noite de cada folião!

Tripas à moda do Porto.


Francesinha..............................................................

A Francesinha é um prato típico da cidade do Porto, baseado numa tosta francesa, supostamente recriado por um cozinheiro emigrante retornado de França. É constituída recheada com carnes várias, coberta com queijo (posteriormente derretido). É normalmente guarnecida com um molho cuja receita é suposta ser o seu maior segredo de confecção. Ovos estrelados (no topo da sanduíche) e batatas fritas são facultativos.
Uma das teorias sobre a origem da francesinha remonta aos tempos das invasões francesas: Os soldados franceses costumavam comer umas sandes com pão de forma e onde colocavam toda a espécie de carnes e muito queijo. Mas faltava a tal coisa importantíssima que os portuenses imediatamente passaram a colocar nas ditas sandes – o molho.


Olhei…olhaste…depois
Fomos dançar deslumbrados!
Ficámos cegos os dois
Por mal dos nossos pecados!


O Culto:
Igreja de São João Baptista, Foz do Douro, Porto.


Altar de culto e homanagem ao santo.


Figura "popular" e artesanal de São João.



Santo António já sa acabou
O são Pedro está-se a acabar
São João dá-me cá um balão
Para eu brincar…