sábado, 27 de agosto de 2011

As Aldeias Históricas de Portugal


As Aldeias Históricas são absolutamente singulares e convidam à descoberta! Foi o que eu fiz no “vá para fora cá dentro” nestas férias.
Enquadradas em paisagens monumentais, as “Aldeias Históricas” são testemunhos mágicos da passagem dos séculos.
Feitas de granito e xisto, guardam histórias de conquistas e tradições antigas. Mantêm nas pedras das ruas e das casas o que Portugal tem de mais genuíno: a autenticidade do seu povo e o orgulho de uma História com mais de 900 anos.
Assentes no alto das serras, das suas torres e muralhas se vigiavam as terras em redor. É por isso que estão estrategicamente alinhadas ao longo da fronteira. Reis e senhores da terra sabiam que assim podiam dormir sossegados.

Comecemos por CASTELO MENDO – Edificada no alto de um morro, rodeada de muralhas, as suas portas medievais introduzem-nos pelo caminho da História, onde é possível viajar no tempo e interiorizar na flor da pele vivências tão simples do quotidiano medieval.
São emoções indescritíveis que absorvem qualquer um e não deixam ninguém indiferente.
O nome Castelo Mendo, pensa-se, teria sido o nome do seu primeiro alcaide “Meenedus Menendi” que foi o último a assinar o primeiro foral concedido por D. Sancho I em 1229.
A 1ª Feira Medieval ocorreu em CASTELO MENDO.



CASTELO NOVO - Enquadrada num soberbo anfiteatro que forma a serra da Gardunha, surpreende pelos belos exemplares de casas senhoriais das famílias mais nobres do local.



CASTELO RODRIGO - Na memória fica a beleza do lugar, a comovente imagem de Santiago Matamouros, histórias de guerras antigas e de muitos peregrinos.




LINHARES DA BEIRA- Situada na vertente ocidental da Serra da Estrela, vêem-se de muito longe as imponentes torres do seu vigoroso castelo. É uma antiga vila medieval, já habitada desde a época dos romanos; como marcas desse tempo existem muitas sepulturas, um trecho da calçada e parte do edifício actualmente chamado “Forúm de Linhares”.
O seu castelo reconstruído em 1291, durante o reinado de D. Dinis, desempenhou um papel importante na defesa da Beira Alta durante os primórdios da nacionalidade.




IDANHA-A-VELHA – É uma pequena vila que parece adormecida entre os olivais mas cujo passado histórico teve uma importância testemunhada pela catedral e pelas inúmeras ruínas, transformando-a num museu vivo. Elevada a cidade episcopal em 534, diz-se que foi aí que nasceu um rei visigodo e a velha catedral, restaurada no início do séc. XVI, ainda conserva pedras esculpidas e inscritas do tempo dos romanos. Vale a pena admirar a Igreja Matriz, renascentista, o pelourinho do século XVII e as ruínas da Torre dos Templários.




MARIALVA - Pela sua esplêndida situação sobre um monte de penhascos de difícil acesso, a aldeia de Marialva foi uma importante praça militar na idade média.




MONSANTO - Numa alta penedia onde a geografia e o clima marcam a transição entre o Norte e Sul de Portugal, é “a aldeia mais portuguesa de Portugal”, mantendo intactas as suas raízes.




PIÓDÃO - Lembra um presépio pela forma harmoniosa como as suas casas estão dispostas em anfiteatro e que se integram perfeitamente na paisagem.




SORTELHA - Coroada por um castelo assente num formidável conjunto rochoso, Sortelha mantém intacta a sua feição medieval, na arquitectura das suas casas rurais em granito.




TRANCOSO - Centro histórico com 5 torres e cubelos entre os quais se abriam 4 portas e 3 postigos, são os mais importantes e mais antigos monumentos do concelho de Trancoso. A fortaleza é anterior à nacionalidade, foi reforçada por D. Dinis com 7 torres amuralhadas, quatro das quais vãs. As actuais muralhas foram restauradas em 1173,1282, 1530 e 1940.
A Torre de Menagem, que não ocupa o centro da cidadela, é de configuração rara, com forma de pirâmide truncada, possui uma janela árabe, com arco de volta de ferradura. Esta torre, no tempo do domínio árabe, seria a torre albarrã, onde se guardava o tesouro do califado e o resultado das pilhagens efectuadas. O castelo possui restos de uma torre que foi capela da cidadela sob a invocação da Santa Maria Madalena.




BELMONTE - A história da vila remonta ao século XII quando o concelho recebeu o foral de D. Sancho I em 1199. Está conotada com os Descobrimentos Marítimos: Pedro Alvares Cabral, o descobridor do Brasil em 1500, nasceu em Belmonte.
A comunidade judaica abriga um facto histórico importante da sua vida, relacionada com a resistência dos judeus à intolerância religiosa na Península Ibérica.
O seu castelo foi construído no séc. XII em cima do monte mais rochoso, juntamente com os castelos de Sortelha e Vila de Touro formaram até à assinatura do Tratado de Alcanizes (1297) a linha defensiva do Alto Côa, apoiada na retaguarda pela muralha natural da serra da Estrela e pelo vale do Zêzere.




ALMEIDA – Costuma-se dizer-se”Alma até Almeida”! Esta expressão teve a sua história: um sobrinho de Junot foi gravemente ferido. A ordenança tentou conduzi-lo ao hospital mais próximo que era na praça de Almeida, ocupada, está-se a ver, pelos franceses em 1807. Sempre que o esforçado tenente desanimava pelo caminho, o soldado que o acompanhava dizia-lhe para o animar: “ Alma até Almeida, meu tenente”.
Se veio a falecer ou não a história não diz. O que é certo é que a expressão ficou, primeiro na região, depois em todo o lado sempre que se quisesse animar alguém.
Por outro lado também se diz que o castelo de Almeida é hoje um dos marcos da arquitectura militar em Portugal. Em muitas ocasiões, foi a população de Almeida que incutiu “Alma até Almeida” aos portugueses na defesa da sua nacionalidade.




Felizmente existem muitas outras povoações em Portugal que poderíamos considerar “históricas”. Estas doze foram alvo de um programa de recuperação comum que as une sob esta bandeira, apenas isso. Só nesta zona do país, a actual Beira Interior, visitei algumas fora deste contexto, Sabugal será o exemplo mais óbvio, mas há outros como Longroiva, Sernancelhe, Castelo Melhor, etc. Tive a felicidade de ter por base deste périplo a bonita vila de Penedono que alberga aquele que será, certamente, um dos mais belos castelos de Portugal. Nestes pontos a história mistura-se com o misticismo e com as lendas. As princesas encantadas, os castelos dos mouros (que nunca o foram), entrelaçam-se com os factos reais da nossa rica história. Em Penedono conta-se a lenda, entre muitas outras, de uma bela e rica princesa moura que querendo proteger o seu tesouro o escondeu na muralha do castelo, mas deixou uma artimanha. Assim, ainda hoje, se vêm duas pedras brancas a meio da muralha. Terá sido aí que a princesa guardou o seu tesouro, mas apenas atrás de uma dessas pedras, a outra encerra um terrível segredo que trará a morte a quem se atrever a o desvendar. Como ninguém sabe qual é qual as pedras perduram, até hoje, intocadas.




E foi assim, entre a bruma do tempo, a beleza da lenda e da paisagem, e o calor beirão, que passei as minhas férias.

(Este texto foi compilado com recurso a várias pesquisas na internet. Fotos, a maioria, de Nuno Machado)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

O Prémio


- História contada pelo António, posteriormente meu colega de Colégio.


Ah! A terra vermelha da Morrumbala… Pegava-se à pele, à alma e à nossa vida!
O que mais gostava, nas nossas férias, era aquela liberdade de horas, de horizontes e de paz.
Ao lusco-fusco, as montanhas à volta tornavam-se lilases e à medida que o sol se escondia por detrás delas eram de um roxo forte, próprio para a despedida do dia.
A vila era pequena mas simpática. Na selva farta que servia de moldura, existiam várias clareiras onde se arrumavam a Missão, a Igreja, posteriormente o Colégio das Irmãs do Sagrado Coração de Maria e muitas cantinas (lojas do mato) que prosperavam no seu negócio muito variado. Os campos arroteados para as sementeiras mostravam pomares abrigados e um mundozito de coisas. Naquelas solidões de África era preciso ter à mão o indispensável para o dia-a-dia e para qualquer imprevisto. Os vizinhos ajudavam-se mutuamente e havia sempre alguém com uma bicicleta para ir levar o recado quando o telefone não funcionava ou até nem existia.
António, filho único do administrador da terra, andava na 4ª classe e sempre com bons resultados. Sua mãe era professora e continuava em casa aquilo que dera nas aulas.
Filho tardio de um casal que andara sempre em bolandas pelo interior da Zambézia, era cuidado como uma flor de estufa, principalmente pelo lado maternal.


Todos os anos, após os bons resultados escolares, António pedia como prenda uma bicicleta que lhe era prometida mas sempre negada a sua concretização.
A mãe conjecturava com o marido:
- Tu já viste o perigo que é o nosso filho numa bicicleta? Morrumbala não é plana… ele voaria por cima das descidas e subidas da estrada…
- Então não lhe devias ter prometido nada! Todos os anos é uma tortura para o rapaz!
António gostava de ir ter com o pai à Administração e este nem sonhava o que acontecia com o filho enquanto trabalhava no expediente do dia.
Um cipaio negro, amigo de António, emprestava-lhe de vez em quando uma velha bicicleta para ele fazer o gosto ao dedo. A bicicleta não tinha guarda-lamas, as rodas torciam-se num oito numa dança maluca e o selim afundava-se todas as vezes que havia um salto!
Uma bela manhã, António foi para a estrada de saída, estrada nacional que ligava a vila a Quelimane, cheia de subidas e descidas. Numa dessas descidas, António tirou as mãos do guiador, deixou de dar aos pedais e abrindo os braços gritou:
-Vou voar! Vou voar!
O cipaio correndo atrás dele esbaforido dizia-lhe:
- Menino pára, pára… Menino vai é para o hospital!
Quando chegaram os dois ao fim da extensa lomba, caíram exaustos.
O cipaio atreveu-se:
- E agora para subir? Olharam a vila muito altaneira, quase inatingível…
- Esperamos um pouco. - disse a António a arfar mas feliz da vida.
Tiveram sorte. Ouviram o roncar de um motor de carro e puseram-se atentos.
Era a camioneta de um dos indianos lá da vila. O homem parou e perguntou:
-Querem boleia? - Doces palavras! Num instante estavam em cima de uma montanha de mercadoria que o indiano fora buscar à capital.
Ronceiramente foram subindo a encosta e a cada solavanco quase voavam os três: António, o cipaio e a ginga!
Quando chegaram à Administração era hora de almoço e o pai já andava num desassossego olhando o relógio e a estrada.
António contou tudo ao pai. À noite, o marido teve uma conversa com a mulher:
- O nosso filho vai para o ano para Quelimane para continuar os estudos… Com certeza que não vais atrás dele! É um jovem responsável, precisa de crescer e de preparar o seu espaço, por isso, este ano, vamos dar-lhe uma bicicleta que bem a merece!
Quando António viu a sua nova bicicleta, estourou de alegria e, claro, preparou-se para um passeio!
A mãe gritou-lhe:
- Só aqui à volta do jardim! - O pai acudiu:
- Podes andar pela vila toda mas com cuidado!
António passou a fazer esse circuito, várias vezes ao dia mas controlado pelo relógio da mãe que quase desmaiava quando o filho chegava a casa com uns minutinhos de atraso!
Aquela mãe manipuladora sofria também com estes cuidados excessivos.
Um dia o pai chegou a casa e perguntou ao primeiro empregado que encontrou:
- O menino não saiu de casa? O empregado baixou a cabeça e respondeu:
- Xi, menino está muito triste… passou todo o dia na varanda e nem comeu!
O pai aflito dirigiu-se logo para a varanda para saber o que se passava com o filho e o que viu deixou-o atónito.
António sentado numa cadeira de palha olhava nostalgicamente para a bicicleta pendurada no tecto com umas cordas e suspirando imaginava as voltas que podia dar ou poderia ter dado num tempo de férias e num dia em que o sol, espreitando por entre as árvores, se ria dele.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Meus Queridos


Meus Queridos,


Quando abri o Pc e li tantos comentários, mesmo na minha ausência, fiquei feliz! Irei a “casa” de cada um agradecer!

“Esbanja o amor às mãos cheias!
Oferece-o
Atira-o pela janela,
Espalha-o aos quatro ventos
Esvazia os bolsos
E ficarás a ter mais do que tinhas.”

- STº Agostinho

Férias Terminadas


Hoje, O Primeiro Dia

Fizemos as nossas casas
E com portas e janelas abrimo-nos ao mundo…
Visitados pelo sol e pelo vento,
Mantivemos algum tempo a unidade vital.
Depois, inventámos portas para fechar portas
E janelas para fechar janelas.
Hoje, chamamos portas e janelas não àquilo que nos une
Mas ao que nos separa. Por isso, de quando em quando
aquele choro que não sabemos de onde vem,
nem porque vem.
Hoje, o primeiro dia
Com a promessa de tantos outros,
Peço a frescura da manhã e o perfume
Da tua presença nas minhas palavras,
Que elas sejam aqui, janelas a criar laços,
A despertar a amizade, para que, juntos


Eu e todos os que as ouvem, aprendamos a celebrar a vida.
E cada manhã, no lavar do rosto,
No alinhar dos cabelos,
No abrir sempre novo dos olhos,
Deixemos, na água corrente da torneira,
O passado preso às mãos,
Para continuar a construir com liberdade;
Para soltar as rédeas do tempo,
E domar os segundos em deveres diários,
Em labores de rotina, em trabalhos continuados.
Mas, sempre em cada manhã, diante do espelho,
Sorrir para ti e agradecer-te a vida
E aprender que és maior que todas as lutas.
E que és TU, connosco, que vences os dias,
Nas curvas dos nossos caminhos.


- Henrique Manuel

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Férias


Vou ausentar-me por uns dias do computador e da vossa companhia… mas irão comigo no coração!
Espero regressar com novas energias e ideias para o Zambeziana! Procurarei fazer uma reportagem fotográfica pelos sítios por onde passar se a tanto me ajudar o engenho e a arte!
Na minha ausência deixo-vos este poema de alguém que me é muito querido e que ecoará pelas paredes da palhota.


FOGO

Relembro o fogo perdido
Das madrugadas esquecidas no tempo,
Suaves, sem som, nas margens do prazer.

Horas sem minutos, olhos nos olhos,
No mundo fechado da paixão,
Onde pouco é tudo e nada o que resta.

Perdido para sempre está o saber
De construir essas paredes de espuma e sonho.

E quando, olhos nos olhos,
Ainda te encontro nas curvas da madrugada,
Sinto o frio das frinchas entreabertas
Na casa velha da paixão feita ternura.

- José de Almeida, in “PALAVRAS DE OUTONO”