sábado, 26 de dezembro de 2009

Acção de Graças


Foi outra vez Natal e o ano chega ao fim… Há quem faça balanço dos seus negócios e actividades profissionais e acho bem. Gostaria, no entanto, que todos fizessem outro género de contas. E nestas contas, talvez um pouco em desalinho mas com a doç
ura das recordações, lembro-me do Monsenhor Mira que, em Quelimane, sempre que eu ia à Confissão, a primeira pergunta que o bom sacerdote me fazia era: ”Gracita, tens sido feliz? Deus criou-te para a felicidade”. Percorro mentalmente o meu ano: fui realmente feliz? Que fiz dos meus sorrisos, das minhas mãos nem sempre abertas, da amizade oferecida e outra esquecida, dos meus sonhos semeados em terra nua? Nem sempre o céu foi azul! Por vezes aconteceram trovoadas, choques da energia desordenada, desilusões que não semeei mas com a chuva farta despertaram como o joio no meio do trigo… Aconteceram também canções como colheita talvez inesperada mas amassada em suor e generosidade.
Floresceram amizades no meu canteiro que foram sol e música em comunhão. Partilhei o pão da minha mesa num abraço sentido e saboreado. Num tempo em que o relógio parou, fizemos das palavras um jogo de paciência e compreensão. Os gestos divididos ficaram maiores e luminosos. Cada palavra dita devagar teve o sabor da eternidade.
É certo que nunca estamos totalmente saciados. Queremos mais… sempre mais e não entendemos que só o infinito nos pode preencher. Mas fui realmente feliz? E o que é a felicidade? Aquele momento inesperado, fugidio e que logo se dissipou? Aquele acontecimento recebido como prenda e que se apagou como as luzes brilhantes do néon?
A felicidade é a pátria da verdade em céu azul. Corajosamente fiz caminho durante este ano, onde o impossível foi possível, desafiando medos e dúvidas e na hora da derrota, contornei-a com um grande “R” de… recomeçar! Olhei a imensa floresta da vida onde o rosto de cada pessoa, principalmente das crianças, é uma promessa, e esperei pela dança inusitada das sílabas que, envolta num arco-íris, fez uma aliança de memórias com o outro lado do mundo.
Como esquecer?

Mas fui realmente feliz? Julgo que sim! Em cada ano desejo sempre a felicidade mas não a exijo porque ela não responde a ordens, nem a reivindicações, nem aos caprichos.
É dada a cada um sem distinção de pessoas ou de condições, sem preferência por tempos, lugares ou circunstâncias. Como o vento, não se sabe nem de onde vem nem para onde vai.
Surge de repente mas logo se escapa.

Para a não perder quando vier. É preciso prepararmo-nos…
O resto… o resto nos será dado por acréscimo!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Postal de Natal


Entrai Amigos, entrai! Na minha casa é NATAL. Desde as decorações até ao meu coração preparado para O receber.

Podeis parar diante do Presépio do Condomínio (sempre feito por mim) e que abençoa as quatro famílias deste prédio.



Ou então, no Presépio do meu hall, com figuras muito antigas misturadas com outras adquiridas em muitos lugares, oferecendo a universalidade deste quadro.



Na sala, a decoração é mais profana: a grande Árvore de Natal onde o Pai Natal tem posição de destaque e saúda a todos com o seu OH! OH!OH!



Por cima da lareira (quando esta oferece o seu fogo mágico…) há uma coordenação de encantamento, de histórias infantis que li já há muito tempo e com as recordações do outro lado do mundo e do tempo que se misturam com as de hoje e as do ontem mais recente.
E enquanto o fogo crepita, eu vou desfolhando este livro…
Entrai e ficai à vontade, vós, velhos e antigos amigos, os mais recentes e virtuais (nem por isso, menos verdadeiros) os seguidores, os que por aqui passam e os amigos espalhados pelo mundo inteiro… Colhei os meus votos de Natal!

QUE O VOSSO NATAL SEJA O DA ALEGRIA, FUNDADA NOS MOTIVOS EXTERIORES E HUMANOS, É CERTO MAS COM RAÍZES PROFUNDAS NO NOSSO CORAÇÃO.
COM ESTA ALEGRIA, A ESTRELA NATALÍCIA BRILHARÁ PARA NÓS!
MAS O NOSSO NATAL TEM SINAIS MAIS FORTES AINDA: FALA-NOS DE DIVIDIR, DE REPARTIR O QUE TEMOS E, SOBRETUDO, O QUE SOMOS!!!!

BOAS E SANTAS FESTAS DE NATAL A TODOS!


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Menino Jesus, Dá-me uma Estrela


Eu não te peço presentes,
Nem festa, nem consoada,
Nem sequer Missa do Galo,
Senhor,
Não te peço nada,
A não ser…
A não ser uma estrela
Uma estrela dourada
Para deitar no sapato
Dos que fazem do Natal
Um dia igual
A outro igual!


Dos que não têm Presépio
Nem fora, nem dentro da alma…
Oh, meu Jesus, dá-me a estrela
A mais linda, a mais brilhante
A mais quente, a mais distante
Para que saibam que há estrelas,
Calor, e Luz, e distância…
Para que saibam que há estrelas
Ao redor do mundo todo.
Há estrelas por trás do sol
Há estrelas no próprio lodo…
Senhor, não te peço prendas
Nem bonitos, nem confeitos,
Senhor, não te peço nada
Nada… a não ser…
Que me deites
Que me deites uma estrela.
E quando de madrugada
Forem calçar os sapatos
Encharcados
Pesados
Enlameados


E quando de madrugada
Virem uma luz
A brilhar dentro de casa,
Hão-de ficar espantados
Sem saber que foste tu
Oh Menino do Presépio
Que foste Tu quem lha deu…
E talvez, talvez, Senhor,
À procura de uma estrela
E de mais,
Iguais
Àquela
Pela primeira vez,
Numa noite de Natal Igual a outra igual,
Os que não têm Natal
Olhem o Céu!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Conto de Natal


A folhinha de 23 de Dezembro acabava de ser arrancada do calendário do escritório do Pai Natal. Este, com a sua longa barba branca, faces rosadas e uns olhos azuis onde moravam a doçura mas também a ansiedade, vociferava com voz forte:
- É véspera de Natal e há tanto ainda por fazer! - Saiu do seu escritório, apressado, batendo com as suas botarras negras pelos ladrilhos dos imensos corredores da sua fábrica de brinquedos, onde, durante um ano, os duendes fabricavam os brinquedos e os jogos pretendidos por todos os meninos do Mundo. Todos, não! Só os bem comportados. Os outros, os mal-educados, os que tinham reprovado e não gostavam de estudar, os arreliadores, etc., recebiam uma cartinha do Pai Natal, a convidá-los a serem melhores e a entrarem no imenso rol dos meninos que, na noite de 24 para 25 de Dezembro iriam receber a sua visita e, claro está, as lembranças há muito pedidas em milhares e milhares de cartas, que todos os anos, no mês de Dezembro, chegam ao Palácio do Pai Natal.
Antes de continuar a sua ronda parou na secção da correspondência. Em cima de uma longa mesa, as cartinhas amontoavam--se como castelos; A um canto, dois enormes sacos acabados de chegar, estavam ainda intactos. O Duende Sabichão, era quem abria a correspondência e a separava conforme fosse menina ou menino o autor da missiva. Entretanto, o seu ajudante, o gnomo Verde, dis
tribuía as cartas pelos sectores correspondentes. E como ele corria... Pobre gnomo! E de tanto correr, sufocar e protestar, ficava verde, verde como um pepino, e daí, o nome que todos lhe davam - o Gnomo... Verde! Mas não se ralava com isso, o que ele queria, acima de tudo, era que cada carta chegasse às mãos dos artistas, para que, na noite de Natal, não houvesse nenhum menino triste, de mãos vazias, sem o presente desejado. Até era simpático, este gnomo.
O Pai Natal perguntou ao Sabichão:

- Quanto tempo precisas para leres as cartas destes dois últimos sacos? Não te esqueças que já é manhã do dia 24 de Dezembro e logo, pelas onze horas da noite, iniciarei a minha viagem pelos céus da Terra.
- Fique descansado Pai Natal, dentro de uma hora, estará tudo lido e encaminhado para as respectivas secções. As meninas, a maioria, pedem bonecas e vestidos para as mesmas e um ou outro jogo. Os rapazes é que são mais sofisticados! Já não pedem o pião, o arco e flechas ou os soldadinhos de chumbo, agora querem aparelhagens sonoras, CD's, cassetes vídeo, e até, imagine, uma televisão pequenina para os seus quartos...
- Ah! Ah! Ah! - riu o Pai Natal com a sua voz forte que se ouviu pela casa toda. - São uns marotos, são uns marotos! E livros, livros de histórias maravilhosas, já ninguém pede?
- Não... - respondeu o Sabichão com voz triste - As crianças já não lêm e assim, também já não sonham! A nossa tipografia quase que fechou. O Erudito está desiludido; este ano, não chegam a três dezenas os meninos que pediram nas suas cartinhas um ou outro livro.
- Pois... - disse o Pai Natal pensativo - mas mesmo sem o terem pedido, junto às suas prendas encontrarão um livro de histórias que, apesar de toda esta nova tecnologia, é e será sempre, o melhor amigo que uma criança pode ter! Não podemos permitir que as crianças deixem de ler... Como pode o Mundo evoluir sem aquela pontinha de fascínio, de imaginação, de fantasia, que nos vem dos livros que lemos na nossa infância? Nã, nã, - repetia abanando a cabeça - em cada saco vai um livro que ajude a despertar a alma de cada um, para a imaginação e para o sonho. Bom, já é muito tarde e há que visitar ainda outras secções.
O Pai Natal abriu de repente a porta da sala das bonecas. Como eram vaidosas! Algumas frisavam os cabelos debaixo de um secador e sentavam-se cuidadosamente para não amarrotarem os vestidos. O Artista, o Duende encarregado daquele departamento, estava entusiasmado, viam-se os olhos a brilhar... Olhava para as suas bonecas com paixão, achando-as as mais belas do Mundo. E o vestuário? Era do mais sumptuoso que havia. Malinha a condizer com os sapatos, cintos de pedraria, jóias no pescoço e nas orelhas e toda a espécie de outros adereços. Até uma dama antiga havia. De repente, o Pai Natal descortinou ao fundo uma boneca diferente, muito calada e de olhar triste. Era de trapos, dois grandes botões luminosos a servirem-lhe de olhos, com os quais observava, atenta, o Mundo que a rodeava; Duas louras tranças de lã, a lembrar o trigo maduro, e um corpinho macio, mesmo para ser apertado de encontro ao coração, faziam dela uma boneca especial.
- Por quê só uma boneca deste género? - quis saber o Pai Natal curioso.

- Foi uma menina muito rica que a pediu. No seu palacete tem as bonecas mais belas e maravilhosas do Mundo, faltava-lhe uma boneca de trapos que pudesse ser a sua companheira de brincadeiras e conversas, sem ter medo de a partir ou de estragar a toillete. Por isso, lembrei-me de lhe enviar a Desejada - disse o Artista.
O Pai Natal olhou mais uma vez a boneca de trapos que parecia ler--lhe o coração.

-Sim, tens razão, a menina rica vai ficar feliz com a Desejada. - E, atirando-lhe um beijo com as pontas dos dedos, partiu para outra sala onde o ruído imperava.
O Trovão e o Faísca, montavam rádios, aparelhagens sonoras, televisões e até verificavam as gravações dos CDs. E as cassetes vídeo? Eram tantas, mas tantas que enchiam uma sala... Era a Guerra das Estrelas, os ET's, os Star Trek's, etc., etc.

- O Mundo está a mudar - dizia o Pai Natal muito pensativo.
De repente, ouviu-se um grande estrondo na sala do lado. O que se passaria? Numa só passada o Pai Natal pôs-se lá, e o que viu deixou-o hilariante e feliz.
- Afinal ainda há meninos que pedem cavalinhos de madeira, o pião que canta enquanto roda, a corda de saltar, os lápis de cor e o velho jogo do Dominó. Ah! Ah! Ah! - riu ele satisfeito - Estou a encontrar os meus meninos. Vá depressa, depressa, que o tempo urge. Antes de ir almoçar, o Pai Natal passou pela Casa das Renas. Mais de vinte gnomos escovavam o pêlo sedoso das doze renas que haviam de transportar o Pai Natal até à casa de todos os meninos da Terra. Outros, escovavam as grandes dentuças das renas para que brilhassem na noite como pérolas descendo pelo céu. E o trenó do Pai Natal? Era um brinquinho! Havia sido pintado e decorado. À frente, dois grandes lampiões amarelos, acabadinhos de serem polidos, faziam conjunto com lindas grinaldas de azevinho e laços de seda vermelha. Atrás da cadeira do Pai Natal ficava um grande, grande espaço que seria ocupado com os sacos coloridos, cheios de prendas, para encher os sapatinhos dos meninos bem comportados da Terra. Uma grande manta aos quadrados, verdes e vermelhos, dobrada sobre o assento, taparia mais tarde os grandes sacos, não fosse algum romper-se e perder o seu recheio no imenso espaço sem fim.
Depois de toda esta ronda, o Pai Natal estava cansado. A ansiedade não o deixou comer fosse o que fosse. Mas, Natali
na, sua mulher, preocupada como sempre e conhecedora dos gostos do seu marido, trouxe-lhe um grande pudim de frutas cristalizadas que ele tanto adorava e sempre comia antes de cruzar o céu de uma ponta a outra.
- Chega, chega! - ria-se ele, já bem disposto - Não posso comer mais, senão daqui a pouco não consigo abotoar os botões do meu casaco.

- E as botas? - perguntou Natalina também feliz - Acabei de as limpar agora mesmo, estão engraxadas e reluzentes, assim como a fivela do teu cinturão preto.
- Ah! Natal é só uma vez no ano, mas quero tudo a brilhar, a reluzir, para que o Mundo saiba, ao olhar para o céu na noite de 24 de Dezembro e ao ver um risco brilhante, que sou Eu que já vou a caminho de suas casas. Espera-os o Amor e a Alegria.
E o velho Pai Natal acomodava-se, trajado a rigor, no seu trenó engalanado, puxado pelas doze renas que mais pareciam doze estrelas iluminadas,
comandando as suas fiéis companheiras de Natal:
- Vamos, vamos minhas amigas. - E voltando-se para trás, olhando Natalina e todos os Duendes de sua casa, gritava com voz forte:

- Feliz Natal a todos, Feliz Natal!


quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A Visitante Inesperada


Era em Belém e ao romper do dia. A estrela deixara de brilhar, o último
peregrino abandonara o estábulo e a Virgem tinha remexido a palha. Finalmente o Menino ia dormir. A porta abriu-se levemente, empurrada, dir-se-ia, mais por sopro do que por mão humana, e uma mulher apareceu, coberta de andrajos, com o rosto da cor da terra, tão velha e enrugada que a sua boca parecia uma ruga também.
Maria teve medo quando a viu, como se tivesse visto uma fada malfazeja. Felizmente Jesus dormia! O burro e o boi mastigavam pachorrentamente a sua palha e viam a intrusa avançar sem mostrarem espanto, como se a conhecessem há muito. A Virgem, porém, não deixava de a fitar. Cada passo que ela dava parecia-lhe longo como um século.
A velha prosseguia e eis que chega à borda da manjedoura. Debruçou-se então sobre a palha, procurou com a mão nos seus andrajos qualquer coisa que parecia procurar há séculos. Maria olhava sempre com a mesma inquietação. Os animais olhavam-na também, mas sempre sem surpresa, como se soubessem de antemão o que iria acontecer.
Enfim, depois de muito tempo, a velha tirou dos seus andrajos um objecto escondido na mão e entregou-o ao Menino.
Depois dos tesouros dos Magos e das ofertas dos pastores, que presente seria agora? E onde estava, Maria não o podia ver. Via apenas as costas curvadas pela idade, que se curvavam mais ainda, inclinando-se para o berço. Mas o burro e o boi viam-no e continuavam tranquilos. Isto durou ainda muito tempo. Depois a velha endireitou-se como que aliviada do peso que a puxava para a terra. As suas espáduas já não vergavam, a sua cabeça chegava quase ao tecto e o seu rosto tinha recuperado a frescura da mocidade. E quando se afastou do berço para se dirigir à porta e desaparecer, é que Maria pôde finalmente ver o misterioso presente.
Eva – pois era ela – tinha acabado de entregar ao Menino uma pequena maçã, a do primeiro pecado (e de tantos outros que o seguiram!). E a pequena maçã vermelha brilhava nas mãos do recém-nascido, como o Globo do Mundo Novo que acabava de nascer com ELE.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Um Talher a Mais...


Madalena quase adormecera enquanto as velas da mesa se iam extinguindo aos poucos… também não lhe faziam
falta. Estava só. Talvez fosse melhor ir deitar-se mas sentia-se quente junto à lareira onde crepitava um fogo que fazia sonhar.
Olhou a mesa da Consoada, demasiado grande para tantos
lugares vazios. Contudo, tinha posto tudo a preceito como quando estavam todos juntos. Os dois talheres de prata brilhavam sobre a toalha de Natal. Não, não tinha convidado ninguém apenas pusera mais um talher para alguém que aparecesse assim, só, como ela. Ou talvez fosse para dar cumprimento a um velho costume da sua terra… pôr sempre um talher a mais na ceia do natal para alguém que partira, para um amor nunca esquecido… seria o Rodrigo? Não, o Rodrigo tinha sido o amor da sua juventude… Estava arquivado entre as coisas sorridentes e pálidas que não têm relação com o presente. Não decididamente não era para o Rodrigo. E os seus mortos não voltavam assim…
Voltavam numa lembrança doce e amarga, numa inspiração que às vezes lhe chega vã e também na pesada herança que lhe deixaram às costas… Mas só quem enlouqueceu é que põe na mesa talheres para os seus mortos queridos…

Também não era para nenhuma das amigas. Todas tinham casado e tinham esta noite a casa cheia de pais, de sogros, de filhos, de irmãos, de cunhados… As amigas tinham-se perdido, dissipado, confundidas em novas vidas que vieram enredarem-se nas suas…

Tinha havido um tempo luminoso e perfeito em que todas estavam sós, completas em si mesmas, disponíveis umas diante das outras para essa amizade exclusiva e arrebatadora como se mirassem a um espelho. Todas tinham criado novas vidas, menos ela.

Estava só e triste. As velas apagaram-se de vez… encolheu-s
e mais no cadeirão e compôs a manta. Uma modorra doce e sonhadora envolveu-a. Não sabia se estava a dormir ou a sonhar, deliciosamente aconchegada naquele quente mágico da lareira…

O pai trouxera-lhe uma caixa enorme com vários puzzles de histórias infantis… um grande laço de veludo vermelho fechava a caixa dos seus tesouros… A mãe dera-lhe um diário com direito a cadeado para guardar os seus segredos…
Da cozinha chegavam-lhe os odores próprios desta época… as rabanadas brilhavam loirinhas numa grande travessa… a aletria, hum, uma delícia, ainda se via a marca do seu dedo provando-a gulosamente… E que dizer do Bolo-rei? Já lhe tinha saído a fava várias vezes… seria mais uma vez a “castigada”?

Da sala, o irmão chamava-a:


- Anda ver a casuarina… já está toda iluminada. Fazemos agora o presépio?


A voz da mãe advertia-os:


- Despachem-se, vamos jantar cedo para chegarmos a horas à Igreja para a Missa do Galo…


“Noite feliz, Noite feliz…”


As portas da Igreja abriam-se de par em par e as pessoas saíam felizes…

- Feliz Natal! Feliz Natal!


Os abraços e os beijos saltitavam como estrelas de uns para os outros…

Sorria feliz mas começava a sentir frio… Madalena abriu os olhos e viu a última acha quase apagada na lareira…

Levantou-se e sentou-se à mesa da Consoada. Já sabia para quem era o talher que pusera a mais na mesa… Chamava-se Passado e reunia toda a felicidade que ela tivera no mundo.
Não, nunca mais estaria só num Natal.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Tenda de Natal


Gosto do espírito do Natal, embora o mês de Dezembro me tenha dado as três maiores cruzes da minha vida. Mas quem, na minha vida um dia, me deu tal encorajamento? Quem confiou tanto em mim? Retribuo como uma pobre vela que quis continuar sempre acesa… talvez um dia seja uma estrela porque Deus vê longe…
Procuro limpar as vidraças do meu olhar e do meu coração, para que nenhuma sujidade impeça os outros de verem a luz… Talvez caminhem sozinhos…
Tenho horror á escuridão, precisamente aquela que esmaga e que nos deixa tontos por dentro sem saber o que fazermos a tanto sofrimento…
Era o primeiro Natal…. E havia mais uma estrela no céu! Foi preciso apenas uma estrela para encaminhar os Magos até á Luz…. E eu tinha tantas… Que fazer com elas? A luz não se esconde…é preciso pô-la a brilhar bem alto, capaz de fazer superar todas as dores e todo o egoísmo… Afinal, Natal é amar e servir todos os outros…
Assim nasceu a ideia da minha TENDA DE NATAL. Era preciso um espaço grande que eu não tinha…mas os amigos também realizam gestos e pronunciam palavras que fazem brilhar e há pequenos milagres que os homens fazem no caminho dos outros…
Mal a ideia foi posta a circular, tudo apareceu: espaço, mãos para ajudar, sugestões para completar esboços de trabalho, publicidade de coração para coração e muita gente a visitar a TENDA. Foi apenas um mês porque se destinava a uma quadra especifica…mas deu-me tanta alegria pelo trabalho realizado e por ter conseguido erguer uma obra no meio dos escombros…e ser realmente, luz!
Desde o princípio de Outubro, fiz serões até madrugada… e as ideias vinham e não me deixavam pensar em mais nada. Chegava da Escola, pegava nelas e as minhas mãos trabalhavam com o pensamento e o coração…
Primeiro, vesti as grandes montras com cortinas vermelhas de papel crepon, “bordadas” com anjos e estrelas douradas… Estes últimos repeti-os na decoração interior….
Depois, trouxe o céu á terra… fiz e pintei anjos, velas, panos, sacos para os frutos secos, caixinhas e cestinhas com as cores natalícias, vesti garrafas, rolos, caixas em tecido verde e vermelho para os guardanapos, pais Natal de todo o género, postais com flores secas, arranjos para as mesas, decorações para as portas….uma infinidade de pequenas luzes.
A um canto, duas ripas que já lá estavam encostadas, deram-me ideia para o meu humilde Presépio… O Menino Jesus que era da minha Mãe, pequenino, quase não se vê na foto…mas está lá e fiz questão que fosse aquele… Nossa Senhora e São José em esferovite cobertos com papel autocolante dourados, eram os guardiães atentos…
No outro extremo do salão, uma pequena árvore de Natal, brilhava coberta de frutos e de pequeninos lacinhos em ráfia… Ao fundo, um cartaz, deixava a mensagem de Natal a todos os visitantes…. E foram muitos, muitos, muitos…
A partir daí, principalmente nesta quadra (mas não só…) há pedidos para fazer, para decorar, casas, lojas, cafés… E as ideias vêem em turbilhão como pontinhos de luzes a orientar o meu caminho e, seguramente a conduzir-me até aos outros que, tal como eu, têm horror à escuridão…
Entrem por favor…
















terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Zambeziana Convida...


O meu blog é assim uma espécie de casa virtual onde recebo, com muita alegria e prazer, todos os amigos que por aqui passam… Alguns gostariam de ficar mais tempo, conversando, dissertando, filosofando, articulando sobre vários assuntos, mas… eu só tenho uma assoalhada e por isso decidi, a partir de Dezembro, convidar uma/um Amiga/o por mês para falar (escrever) aqui o que entender com muito mais tempo de audiência da minha parte e de todos os amigos que habitualmente me visitam…

Este mês a convidada é a LUSIBERO que me deu a alegria de aceitar o meu convite, o que me deu muita honra!
Por isso, hoje, Zambeziana Convida……………… LUSIBERO!

De Tudo Um Pouco….

”PEDRAS… SERES INERTES QUE “FALAM”…

Ao ver a revista “Super Interessante” de Maio, deparei com a fotografia da capa que é a das estranhas pedras de STONEHENGE, na Grã-Bretanha. O pensamento, este valioso atributo humano, levou-me a uma divagação, no mínimo, estranha; vou falar de pedras! Sim…de pedras! Diz a mitologia que quem criou o Homem foram os deuses Deucalião e Pirra, ao atirarem pedras ao chão, por cima das suas próprias cabeças…Reparem que parto de um pressuposto mitológico… Talvez por isso sejamos um tanto duros, selvagens até, mesmo que civilizados. Mas não será o homem civilizado um puro selvagem, só que mais experiente e sábio? Calma que eu estou a pensar…E esse é que é um problema sério, porque chego à conclusão de que não existe um modo de pensar ou agir, por mais antigo que seja, que possa ser cegamente aceite! É evidente que sendo nós todos, (nós, os humanos) dotados de razão,”cada cabeça, cada sentença”…
Assim sendo, dei comigo a pensar nas pedras da capa da revista…esses bocados de matéria inerte, que arredamos do nosso caminho, quando nele se atravessam, despudoradamente…É bom não esquecer que essa matéria é uma imagem constante do Universo, plena de conotações e ligações à ideia do “BIG-BANG”, momento da explosão da vida, no nosso planeta. De onde vieram esses ancestrais seres sem vida, na verdadeira acepção da palavra, de origem granítica, basáltica, calcária que, ao longo dos milénios foram ganhando forma nas paredes das nossas casas, castelos, monumentos, catedrais, mosteiros, estradas? Se adquiriram vida, que não tinham! Foi porque nós, humanos, fomos dotados da capacidade de entender que as pedras, afinal, até “falam”… Falam? Como é isso? Para mim, elas falam através das vozes daqueles, cujas mãos, escorrendo sangue, as trabalharam, transformando-as nas belezas que os nossos olhos, hoje, contemplam e que acalmam as nossas ânsias e nos enchem os olhos de satisfação…Foi essa pedra, matéria informe de todas as partes do Universo que, por força da inteligência humana, fez aparecer obras majestosas como o Mosteiro da Batalha, o Convento de Mafra, as Pirâmides do Egipto, os monumentos das civilizações Inca, Maia e Azteca, as enigmáticas torres circulares dos Himalaias…Começo, então, a “viajar” pelas linhas geométricas da rectidão e do amor para conseguir “ver” toda a espécie de vida que os tais seres inertes, hoje, possuem…
Tão inertes e informes que, ao longo dos séculos têm sido objecto da atenção de escritores, poetas, escultores, músicos, filósofos e tantos outros criadores de arte. Não fosse assim e não teríamos, agora, perante os nossos olhos o “DUOMO” (catedral) de Milão,”Notre Dâme de Paris”, o Convento de Cristo, em Tomar, “a 9ª Sinfonia de Beethoven”, os jardins suspensos da Babilónia, a moderna Biblioteca de Alexandria, a Grande muralha da China, o Taj Mahal, os mosteiros dos monges budistas, dos Himalaias, encarrapitados nas montanhas desta região do Globo…Interrogamo-nos, sobretudo, sobre a capacidade humana de fazer FALAR estas pedras, a cada milionésimo de segundo. E pergunto-me: não sou eu, também, um pedaço de pedra, susceptível de aperfeiçoamento, nestas tremendas questões com que me debato?
Continuando a minha viagem pelo mundo das pedras, quero mostrar-vos como, até os poetas lhes rendem homenagem. O saudoso e difícil Teixeira de Pascoaes, escritor-poeta que viveu o SAUDOSISMO, na serra do MARÃO, no período entre 1877 /1952, no poema “NOVA LUZ”, e com a lucidez de quem se debate com as interrogações permanentes que configuram a luta entre a Verdade e a Mentira, a Clarividência e o Segredo, diz isto: (…) “Tudo o que é material como a rocha erma e calma/Querendo e desejando-o, é luz e sonho e alma… “. E PADRE VIEIRA, o “Imperador da Língua Portuguesa”, como lhe chamou Pessoa, ao defender os índios do nordeste brasileiro da escravatura e da exploração de que eram vítimas, por parte dos colonos portugueses que os consideravam “ PEDRAS”, escreveu o texto seguinte:”Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura e informe. E depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel e começa a formar um homem: primeiro, membro a membro e depois feição por feição, até à mais miúda; ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, (…) No fim, aí está um Homem perfeito, talvez um santo, que um dia se pode por num altar!” Era uma pedra antes, não era?
Isto demonstra que todos nós carecemos de aperfeiçoamento para nos tornarmos mais válidos podendo, depois, difundir, irradiando-a, a luz de cada um de nós. Nunca o faremos sozinhos, não nos iludamos…Toda a sociedade tem obrigação de contribuir, para que o ser racional e emotivo possa transformar-se num monumento. Devemos, por conseguinte, elevar a voz contra as pedras da corrupção, da injustiça social, da prepotência, do autoritarismo, dos cinismo e mentira, do enriquecimento ilícito e escandaloso, emergir do caos, em suma, para um combate feroz contra as trevas.
Nós, Homens, devemos ser luz irradiante, entre as “PEDRAS”…Deveríamos…
Mas basta ver o sacrifício desumano dos operários a quem se refere SARAMAGO, no seu “MEMORIAL do CONVENTO”, para encontrar as pedras no caminho do Homem: era de Pêro Pinheiro que os mesmos, em atitude épica, levavam as pedras, às costas, morrendo de fome e de doença, até Mafra, para cumprir o desejo megalómano-egoista de D.JoãoV…Outras pedras, como os “menires” e as misteriosas elevações de STONEHENGE, levam-me, em viagem contínua, até, por exemplo, à Ilha da Páscoa ou às Pirâmides do Egipto, na procura de novas- velhas verdades… Que “pedras “ por ali andaram? Qual SÍSiFO, conduz o Homem a sua pedra, montanha acima… Quando julga ter a tarefa concluída, lá vem o pedregulho montanha abaixo… E toca a recomeçar! É assim a VIDA: UM recomeço, sistemático e contínuo para chegar à “META”, que é a concretização do SONHO!
De quem é a culpa de toda esta estranha “viagem” que acabo de fazer?...De TALES de MILETO, inventor da Filosofia, como escola de pensamento! Que me perdoem os “filósofos”, se estiver errada…Apesar de tudo, discordo dele, eu “bicho da terra”, pequeno e insignificante, pois entendo que, desde que o Homem foi dotado da capacidade de pensar, aí começou a filosofar…

Maria Elisa Rodrigues Ribeiro
maria.elisa.ribeiro@iol.pt
http://lusibero.blogspot.com

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A Caminho do Natal...


Onde Nasceu o Menino?


Pelas ruas da cidade
Que grande azáfama vai!!...
Só se respira ansiedade
Nesse contínuo entre e sai
Em lojas, portas abertas
Expondo muitas ofertas…

Na montra, bordada a luz
Há todo um mundo risonho:
É o brinquedo que seduz
É o computador de sonho
De grande capacidade
Reclamando: Novidade!

E no Centro Comercial
Há gente em inundação…
Tudo nos grita Natal
Com desconto e promoção
E o convite repetido:
Compra, que vai bem servido!

Respira a nossa cidade,
Com o Natal a poucos dias,
Ânsias de felicidade
Pois quer achar o Messias
Mas aponta só um rumo:
O caminho do consumo.

Somos Magos, de passagem,
Na grande Jerusalém,
Queremos prosseguir viagem
Mas não atinamos quem
Saiba da estrela perdida
Que dará sentido à vida.

Todos trazemos gravada,
No fundo do coração
Essa pergunta sagrada
Dos Magos em aflição,
À procura do Divino:
Onde nasceu o Menino ??


(Januário Santos)

domingo, 22 de novembro de 2009

Parabéns Meu Filho



O Ciclo da Vida




[O Nascimento]


O bebé nasceu

Duma sementinha

Que o pai ofereceu

Em vez de uma flor

E a mãe recolheu

No seu próprio corpo

Num acto de amor.






[O Berço]

Mesmo que não ande,

Mesmo se sereno,

Faça o que fizer,

Que encanto tão grande

O bebé espalha

Num berço qualquer

Mesmo se pequeno,

Mesmo se de palha.







[Os Pais]

Não há em boa verdade

Tão grande felicidade

Como ser um dia mãe,

Como ser um dia pai

Dar ao mundo um novo ser

Vê-lo connosco crescer,

Connosco compartilhar

De alegrias e tristezas,

De grandezas e fraquezas

E connosco conjugar

E sentir o verbo amar.


[O Baptizado]

No dia do baptizado,

Com os pais muito contentes,

Os padrinhos sorridentes,

O bebé chora zangado

Por estranho que pareça.

Fiquem sabendo os parentes

Que não é do seu agrado

Água fria na cabeça…




[O Primeiro Passo]

Bebé gatinha, gatinha

Do corredor á cozinha,

Bebé, gateia, gateia

Pela casa todo o dia.

Não lhe passa pela ideia

Que pode dar alegria

Na hora que resolver

Dar o seu primeiro passo

Com natural embaraço

Envolto de emoção,

Nem que vá logo bater

Com o rabinho no chão.

















[Crescer a Brincar]

Brinca a criança

Quase todo o dia

Olhar de esperança

De infinda alegria.

Brincando ,correndo

Ela vai crescendo.


























[O Cavalo]

Brinca no cavalo

Num cavalo alado

De cartão prensado.

















[Quando Fôr Grande]

Eu quero ser escritor

Dizem alguns sem saber

Que é difícil profissão.

Tem que se ter muito amor

Estilo a escrever

E grande imaginação.















[Os Avós]

O tempo de contar uma história

É o tempo que fica na memória

E quantas vezes foram os avós

Que inventaram contos para nós.


























[O Carnaval]

Quem não gosta de brincar

Nos dias de carnaval..

O seu rosto disfarçar

Uma partida pregar

Já que ninguém leva a mal?




















[A Comunhão]

De luvas brancas e fita no braço

De lacinho de seda ao pescoço,

Olhando o altar mor, de espaço,

Também está lindo este moço.



























[Os Aniversários]

Todos desejam fazer anos

Quando ainda se é criança.

A idade não se contesta, tudo à volta é uma festa.

E há prendas, há alegrias

Que até chega a desejar-se

Fazer anos todos os dias.























[As Férias]

A criança adora férias.

O resto são tretas, lérias.

Gosta do campo, da praia,

Gosta do sol, de nadar,

Gosta de brincar na areia

Construir uma sereia

E castelos junto ao mar.









[A Escola]

A criança antigamente

Ia pra Escola contente,

Com sóbria mala ás costas

E a ardósia na mão.

Porem, regressava triste

Se não soubesse as respostas,

Se não soubesse a lição,

Põe causa da palmatória

(Acreditem, não é história!)



























[O Natal]

Há pinheiros enfeitados

Lindas bolas de cristal,

A família está presente

Nesta noite de natal..

Há olhares já cansados

Muitos doces e perú,

Há presépios bem montados,

Um Menino todo nú

Com a barriga bem cheia,

A criança só receia

Que a carta que escreveu

Não tenha chegado ao Céu…



































[Os Estudos e Os Cursos]

…E foi passando o tempo. Hoje, crescido

Bebé sobraça os livros de estudante

E um pouco atordoado e sucumbido

Lá vai fazer exame apavorante.












(Versos de Fernando Cardoso do livro “Ciclo da Vida)






“Bebé”... é já doutor

E às vezes escreve versos

Ainda por um amor

Que no coração, ficou preso.

Fêz-se homem honrado

Amigo do seu amigo…

Acode a todo o lado

E sem grande alarido.














Com o Pai é parecido

E do seu feitio também.

Mas é o filho querido

O amor de sua mãe!

Acima de tudo, filho amado

Meu desejo te faço saber

Que ao receberes a herança do passado

Tu sejas sempre um Homem a valer











MEU FILHO


Meu filho nasceu

Ganhou asas

Voou do ninho…

Mas o filho

Que Deus me deu

É o meu menino

Que embalei

No meu regaço,

Que tem a medida

Da vida que lhe dei.

Que o Senhor

Guarde seu passo

E o tenha na lei,

Que é amor.

Meu filho cresceu

Para o mundo

Para a vida…

Mas é meu,

Todo o tesouro

Que tenho na mão!

Meu Filho

Ganhou passos

Do tamanho do vento

Mas são meus braços

Que em pensamento

Lhe ensinam o caminho.

E ele diz-me baixinho:

-Mãe, vou indo

Mas estou contigo.

Vais ver que sou capaz!



Vou a todos mostrar

Que o teu rapaz

Aprendeu a lição…

-Vai meu querido

Conta comigo

O teu ninho

Será sempre

O meu coração.

Um beijo de Parabéns, NUNO

Da Mãe

Graça