Todos almejam o mesmo - a felicidade - ainda que seja por caminhos diferentes.
Mas a palavra felicidade é muito subjectiva, tal como uma árvore com muitos ramos. Engloba sentimentos, emoções, espiritualidade e tudo aquilo que não é palpável e navega num mar subtil.
É dentro de nós que encontramos o princípio do caminho a seguir. Platão dizia: “Um homem que não arrisca nada pelas suas ideias, ou não tem ideias que valham, ou não vale como homem.” O conhecimento de nós mesmos, aumenta a capacidade de chegarmos mais longe.
Ao darmos sentido à nossa existência, às coisas que nos rodeiam, a solidão é ultrapassada.
Contudo, o homem está sempre só. Nasce, vive e morre sozinho, ainda que seja amado e tenha filhos, família e amigos. A solidão é a vida! Mas a solidão com significado, sentido e interpretativa da existência é já a condição para nos conhecermos e ao mundo inteiro.
E a felicidade começa aqui: sem sentido, existe o nada. Então, é preciso dar sentido às pessoas e às coisas que nos rodeiam. Claro que este sentido varia de pessoa para pessoa: pode ser deturpado, pouco esclarecido e egoísta e a felicidade fica deste modo, comprometida.
O que para mim tem sentido e me faz feliz, pode não ser para os outros. Lembro-me de um caso que aconteceu comigo. Um dia, ao passar por uma montra de uma loja de mobiliário, vi um candeeiro de pé alto que me dizia: leva-me! Foi um amor à primeira vista. Talvez não fosse tão moderno como os sofás que tinha na sala mas era lindo e eu gosto de misturar peças antigas com as mais actuais desde que casem bem e tenham lugar (sentido) na nossa casa!
À noite, admirava-o de todos os ângulos e pensava como seria confortável ler um bom livro debaixo daquele largo abajur de folha de papiro, com uma luz coada coroando um pé alto de talha trabalhada. Estava feliz com a compra e mais: fazia sentido na minha sala!
Dias depois, recebi a visita de uma dama, meio snob, de nascimento pobre mas que subira na sociedade (reparem que não digo, na vida…) através de filhos bem colocados, de posições cimeiras e de bolsas recheadas. Olhou o meu candeeiro e disse: “É bonito para esta casa, na dos meus filhos, não ficaria bem!”

Não me importei com esta opinião! Amava aquele candeeiro que iluminava horas tão felizes na minha sala. Já lá vão mais de vinte anos. Mudei de casa e o velho candeeiro continua a fazer sentido na minha vida.
É para isto que estamos na vida: para dar sentido aos outros, a nós e às coisas que nos rodeiam. Logo a seguir fica a nossa decisão (livre) de viver. É uma opção individual. Podemos viver a vida ou deixarmo-nos arrastar por ela. E para que possamos vivê-la totalmente temos de aceitar o jogo, isto é, ver o outro lado do caminho: a morte. Sem ela não existe vida.
Não é afastando esta ideia de finitude por medo que nos torna imortais… É esta a grande, a verdadeira e única realidade na vida que torna os homens todos iguais. E então? VIVEMOS!
Mas quem conta com a própria morte, vive intensamente todos os momentos, principalmente consigo mesmo. Toma na mão o seu próprio EU e a vida ganhando um grande poder e vivendo com intensidade absoluta.
Conheço pessoas com uma alegria que parece absoluta, imperiosa e, contudo, calma como a lentidão da terra. Não espalham gargalhadas ruidosas mas oferecem sorrisos que irradiam e parecem florir como o tojo ou o alecrim entre as fendas do granito.
Mantêm uma tranquilidade de espírito no meio das maiores tormentas e são capazes ainda de estender a mão a quem sobe a encosta. Estas pessoas entenderam que, entre a alegria e o sofrimento, não há fronteiras e, por isso, vivem intensamente todos os patamares da vida.
Martim Descalzo escreveu: “A alegria não mora numa habitação distante da dor, mas no andar de cima do sofrimento”.
Quem entender e aceitar esta realidade, está a meio do caminho para ser feliz!