Há momentos nesta caminhada em que me não apetece nada… mesmo nada! Sou como as velhas árvores… preciso de silêncio, de estender os meus braços e escutar a voz do vento! Há verdes novos que vieram na viagem da luz e na visita da chuva.

Há orquestras de som que é preciso ouvir, coisas preciosas que, sem tempo, não as descubro.
Há catedrais de tanto verde que me convidam a começar de novo a cada minuto mas… é preciso parar! Somos sábios se com o tempo aprendemos.
Quero usar a palavra como se fosse uma dádiva. E vê-la frutificar em dons de amor. Lavrar e semear no velho terreno de baixo das frondosas árvores onde cantam as rolas…
Mas hoje, não me apetece nada, mesmo nada… a não ser olhar os troncos onde o tempo ficou aninhado num sulco de finitude. Vou parar e buscar a memória que anda em esboços por diversos cadernos e rascunhos que não passaram daí. Há cansaços de tantas respostas dadas a mil solicitações. Esforços de pássaros que não aprenderam a voar…
O meu coração bate ao sabor dos dias agora cinzentos de uma primavera que se cansou, também ela, de tanto florir. Está bem oleado mas procura a capacidade de saber parar e escutar as perguntas que a vida lhe faz. Vive demasiado depressa, demasiado dinâmico. Tem o feitio de uma agenda onde só há datas, funções e dias a cumprir numa agitação doida, seguindo uma corrente de impulsos ao sabor das ondas que ele próprio agita.
Telefones, telemóveis, e-mails, direcções e contactos. Está retalhado de todas as indicações para estar em todo lado e afinal, em nenhum.
Quero ser como as velhas árvores que se quedam no mesmo sítio e todos os dias são surpreendidas pelas notícias do vento, pelos pássaros deslumbrados na folhagem renovada, pelo ruído de passos leves e de beijos trocados com amor.
Vou parar por alguns dias… Às vezes, precisamos apenas de ficar quietos e passar depois à etapa seguinte.
Talvez me encontrem por entre as velhas árvores, sem relógio, sem agenda, tecendo com paciência um outro tempo onde cada palavra tenha um sabor diferente e a vida se beba devagar.
“Ouve a canção que está no meu coração e canta-a para mim quando a memória me falhar!"
Na próxima curva, estarei à tua espera, partilhando sentimentos como os amigos fazem quando dão força às pequenas coisas e descobrem juntos o horizonte para além da estrada.