(Continuação de Viver De Novo)
- Maria, está tudo pronto lá fora? - Perguntou Marta ao passar pela cozinha.
- Com certeza menina.
Seria sempre a menina em todo o lado. A vida é demasiado curta para não saborearmos todos os mimos que nos oferecem.
- Desculpa a demora Carlos, mas fui ver os meus filhos.
- Ainda estão em casa? - Perguntou Carlos lentamente.
- Não, isto é, a Ana, já sabes como ela é, saiu cedo; e o furacão do meu filho foi agora vestindo ainda o casaco pelas escadas abaixo… - E ria como uma criança.
- Tu adoras os teus filhos como adoraste o pai.
- Eu adoro o José Manuel. - Marta mudara o tom da sua voz.
- Mas Marta, o Zé Manuel já não está entre nós. Não podes passar a tua vida a viver do passado, de recordações…
- E se elas me fazem feliz? - Perguntou agastada.
- Pronto, não se fala mais no assunto. Realmente tinhas razão, torradas com manteiga e mel são deliciosas.
- Não te dizia? - E voltava a ser a Marta de sempre, simpática, acolhedora, quase alegre.

Carlos era um amigo de infância, talvez mais do que isso, pelo menos da parte dele. José Manuel às vezes irritava-se com tantas deferências para com a sua mulher.
- Porque é que o Carlos te oferece sempre rosas vermelhas no dia do teu aniversário?
- Talvez porque desde menina e moça foi sempre a minha flor preferida e ele sabe disso.
- Mas sabes qual o seu significado? Rosas vermelhas são sinal de paixão…
- Idiotices que alguém inventou. Trata-se apenas de um gesto de delicadeza. Se eu gostasse desde sempre de gladíolos roxos, os meus amigos, por deferência, oferecer-me-iam ramos deles nas datas especiais da minha vida.
Sem dúvida o marido sempre tivera ciúmes do Carlos e estes avivaram-se mais quando ele se separou da mulher.
- Claro, como é que este casamento iria dar certo se ele gostou sempre de outra mulher?
Sabia onde ele queria chegar mas nunca alimentou esta discussão porque, no fundo, achava que era um reparo injusto.
É certo que, nos verdes anos, Carlos lhe fizera um cerrado “rendez-vous”, sem resposta da sua parte. Gostava dele como amigo e assim iria ser o resto da sua vida. Quando Carlos se casou com Maria do Carmo estava, pelo menos, deslumbrado. E Marta acreditava que fora um casamento para sempre no que respeitava a Carlos. Quando um dia ele lhe pedira opinião sobre a sua noiva, ficou calada. Preferiu o silêncio do que ter de lhe dizer que Maria do Carmo não era mulher para ele.
- Adivinho, não gostas dela. - Afirmou com a sua habitual sinceridade.
- Não, não se trata disso. Julgo é que vocês são o oposto um do outro. Tu gostas do ambiente familiar e ela de reinar em sociedade.
- Oh, o amor ultrapassa tudo. Não é o que costumas afirmar?
- Sim mas quando ele é recíproco.
- Porque é que o Carlos te oferece sempre rosas vermelhas no dia do teu aniversário?
- Talvez porque desde menina e moça foi sempre a minha flor preferida e ele sabe disso.
- Mas sabes qual o seu significado? Rosas vermelhas são sinal de paixão…
- Idiotices que alguém inventou. Trata-se apenas de um gesto de delicadeza. Se eu gostasse desde sempre de gladíolos roxos, os meus amigos, por deferência, oferecer-me-iam ramos deles nas datas especiais da minha vida.
Sem dúvida o marido sempre tivera ciúmes do Carlos e estes avivaram-se mais quando ele se separou da mulher.
- Claro, como é que este casamento iria dar certo se ele gostou sempre de outra mulher?
Sabia onde ele queria chegar mas nunca alimentou esta discussão porque, no fundo, achava que era um reparo injusto.
É certo que, nos verdes anos, Carlos lhe fizera um cerrado “rendez-vous”, sem resposta da sua parte. Gostava dele como amigo e assim iria ser o resto da sua vida. Quando Carlos se casou com Maria do Carmo estava, pelo menos, deslumbrado. E Marta acreditava que fora um casamento para sempre no que respeitava a Carlos. Quando um dia ele lhe pedira opinião sobre a sua noiva, ficou calada. Preferiu o silêncio do que ter de lhe dizer que Maria do Carmo não era mulher para ele.
- Adivinho, não gostas dela. - Afirmou com a sua habitual sinceridade.
- Não, não se trata disso. Julgo é que vocês são o oposto um do outro. Tu gostas do ambiente familiar e ela de reinar em sociedade.
- Oh, o amor ultrapassa tudo. Não é o que costumas afirmar?
- Sim mas quando ele é recíproco.

Tal como vaticinara o marido o casamento de Carlos não durou mais de um ano. Felizmente não havia crianças para a infelicidade ser maior. A partir daí Carlos tornara-se um solteirão empedernido com ligações fugazes que não deixavam marcas de nenhuma espécie.
- São apenas cometas. Vão e vêm sem deixar rastos. - Afirmava brincalhão.
- Não devias falar assim, e muito menos fazê-lo. O casamento e o amor são assuntos sérios.
- E eu levei o meu casamento a sério e vê o resultado…
- Ficaste fechado na tua dor, na tua revolta, e passaste a olhar as mulheres apenas como objectos de prazer. Que fizeste às tuas asas de poeta?
- Queimei-as nas desilusões. – Respondeu amargamente.
- Arrumaste os teus virtuosos princípios e ganhaste medo.
- Talvez… não tive a sorte do José Manuel.
- A sorte constrói-se e, por vezes, sabe a sangue. Um casamento é um combate constante, não um contra o outro, mas uma luta diária contra o tédio, a monotonia e o egoísmo. É preciso suar as estopinhas, dia a dia, reprimindo caprichos e impaciências.
- É assim com o teu marido?
- É assim com o José Manuel e é assim com todos os casais que querem fazer do seu casamento uma vida de amor.
- Não achas demasiado pueril essa tua definição de casamento? - Perguntou entre sarcástico e enlevado.
- Achas a cruz pueril, meu querido? Ela pesa e não são nada agradáveis os seus benefícios…
- Ainda assim…
- Ainda assim, esse sofrimento devolverá alegrias, ternura e a certeza de sonhar sempre. O casamento é o poema da minha vida.
- Já não sei se é virtude ou masoquismo…
- Se não mudas não conhecerás as delícias de um verdadeiro amor….

- Estás tão concentrada… Em que pensas? - E a voz de Carlos punha-a de novo na realidade.
- Em nada de especial. - Afirmava distante.
- Mas há sombras nos teus olhos…
- Talvez… e haverá sempre.
- Nada de tristezas! – Voltava a ser o Carlos companheiro e amigo. Vim buscar-te porque quero a tua opinião sobre um apartamento que vou comprar.
- Um apartamento? Que bom! E onde? - Perguntava entusiasmada.
- Junto ao mar como tu gostas. - Disse numa voz melosa.
Marta não ligou ao tom de voz adocicado de Carlos e respondeu um pouco friamente:
- Vou buscar a minha carteira e só vou contigo se me deixares decorar o teu novo apartamento.
- É evidente. Não ousava pedir-te mas, no fundo, era o que eu desejava ouvir. Conheço o teu bom gosto e tu sabes aquilo que eu mais aprecio.
- Sim, já sei: funcionalidade com algumas pitadas de romantismo…
E riram os dois como duas crianças.
(Continua)