A maior parte das pessoas conhece Antoine de Saint-Exupéry através da sua obra “Le Petit Prince”, contudo ele escreveu vários outros textos entre 1925 e 1943: a sua primeira narrativa “Manon, Dançando”, prelecções, memórias de infância e da aviação, cartas diversas (a Louise de Vilmorin e a Natalie Paley), fragmentos de “Correio do Sul” e de “Voo Nocturno”.
Todos eles permeados por uma meditação sobre o que pode conferir sentido à viagem e nos ligar ao lugar de onde vimos, estes textos ajudam-nos a aproximar-nos da sensibilidade, das dúvidas morais e da obra de Antoine de Saint-Exupéry.

(Extracto de “Manon, Dançando”)
Porque nos põem tristes as pessoas demasiado novas? Não podemos amá-las, claro, ou quase não podemos, como um irmão mais pequeno: um jovem ainda não é nada…
- Manon… é a primeira vez.
- Meu homenzinho!
Os muito novos deslumbram-se sempre, abraçam-te, agradecem-te. Pensam que também eles dão muito prazer: deixamo-los acreditar nisso. Têm um mau jeito de jovens bichos, ensinamo-los:
- Uma mulher é frágil, é preciso ser doce…
Mais tarde, hão-de levar-te as carícias para as amantes a que quiserem bem.
- Estás triste, Manon?
Ela não tem margem.
Ele espanta-se com aquela nudez tranquilizante, apaziguadora, pois, a descer, desde o pescoço aos seios, até às ancas, é a mesma carne, a mesma pele, que vem do rosto.
- És encantadora…
Ele usa a palavra mais doce, a mais requintada. Sente-se expurgado das suas imagens perturbadoras de colegial: aquela mulher nua faz parte da sua própria carne. “ Ele acha que eu sou tão nova como ele…”
Manon dilui-se contra a cova do seu ombro. Caminham os dois na vida à mesma altura, mas por um tão curto espaço de tempo. Amanhã, ele há-de ultrapassá-la.
“Eu sou uma coisinha que se agarra. Uma franguinha num bar…”
Talvez ela abrace um irmão sem sequer o reconhecer, sem encontrar o sinal que lho dê a entender.
Ele fecha os olhos.
O seu rosto é um punho fechado, a vontade manifesta-se, repentina, na dobra dos lábios. Uma sombra nas faces: todo o desconhecido do homem, aí jaz.
“Meu homenzinho… porque ainda és nada, meu homenzinho, para além de uma carne protegida, toda tenrinha. Mas esta noite sentiste-te um conquistador e o teu rosto fecha-se como um punho. Tu és um homem.”
Manon…
- Descansa. Tem juízo. Tens a vida toda…