As minhas emoções mais remotas estão ligadas à minha terra, quente e farta. Aos meus irmãos negros, trabalhadores no palmar, nos arrozais, nos campos de sisal e algodão… Vejo nas aldeias indígenas, junto às grandes mangueiras, uma profunda sugestão de pobreza e amo a pobreza acima de todas as coisas; não a pobreza sórdida e famélica mas a pobreza que é abençoada: simples, humilde como o pão escuro ou como os “tarragos” cheios de mangas que trazíamos das visitas às “tembas”. Vínhamos sempre mais ricos do meio de tanta pobreza… Era uma alegria serena que nos inundava o coração. Alegria plena, vida interior com sentido. Queria rever as mesmas coisas, a velha mangueira onde debaixo da sua sombra, eu falava de Deus às crianças… os nenúfares espalhados pelo verde dos arrozais, ali no quilómetro cinco; aquela casa distante no meio do nada e que sempre me encantou falando do tempo, de histórias imaginadas; aquele pequeníssimo cemitério indígena junto à estrada para Nicoadala que, no princípio, me metia medo por causa da sombra e do mistério mas que depois, reduzido à sua dimensão, me falava de pombas e de cantos de pássaros… Queria rever tudo e queria-o nos lugares de sempre.
Por entre o palmar, ficava a Palavra… Aqui era Momogoda, a caminho do Zalala.
Os nenúfares, tantos… nunca me cansavam!
CHUABO
De luar de prata…
CHUABO
Ai, a saudade mata…
De luar de prata…
CHUABO
Ai, a saudade mata…
Olá!
ResponderEliminarA Sorte foge de quem espera;o acaso revolta-se contra quem deseja;as coisas agradáveis acontecem quando não as esperamos;esperá-las equivale a impedi-las de vir.
Que alegria e surpresa senti ao ver e ler a sua mensagem.
Emoções!Belo texto o seu.Tocou-me.
Provavelmente pertencemos mesmo à mesma galáxia.
Olhe minha amiga,o Tempo fica:não é verdade que o tempo passe.Fica nas coisas para que um pouco de nós sobreviva à nossa desapropriação.As casas decrépitas,os móveis antigos,têm uma alma composta de emanaçôes do passado;conservam os
séculos na sua argamassa e nas suas fibras;são acumuladores de tempo,de ternura,de afectos estratificados que se volatilizam,que se nos oferecem quotidianamente,sem que o percebamos,e transformando os túmulos da história em poesia taciturna.
Espero por si...
POTT