segunda-feira, 13 de abril de 2009

Lia No Teu Olhar…


Lia no teu olhar noutro tempo. Continuará límpido, brando, sereno como o nosso rio correndo por entre os salgueirais e bebendo o pó da estrada velha para a praia? Foi assim que te conheci e nasceu a amizade. Eu bem sei que os tempos são outros e já não estamos do outro lado do mundo… As águas correram turvas e fortes mas tenho esperança que não te tenhas deixado levar pela corrente. Não queria encontrar-te diferente, preso em cachoeiras de cinismo e indiferença, com um pé quase no abismo. Quando te encontrar, não te quero dizer: Como mudaste! Pode o teu rosto estar sulcado de rugas como as da nossa mangueira, cuja sombra acompanhava o desfiar das nossas confidências… Mas os teus olhos, não! São faróis que olhavam a vida com esperança deitados até à barra quando vislumbrávamos navios entrando pelo rio e nós, debruçados na Pérgula, acenando como loucos… A prata caiu nos teus cabelos. É natural! Passou uma vida, o que querias? Mas não quero encontrar desencanto no teu olhar. Foram muitas as marés pelas quais o teu barco passou e tal como um comandante, saberás olhar com firmeza as ondas do mar alto e aportar com segurança em qualquer lugar. Mas aí, não fujas com o teu olhar. Pega na minha mão e vem comigo retomar as conversas que deixámos ontem, na Marginal, numa roda de amigos. É o passado de todos e por isso o teu olhar tem de ser o mesmo. Não fujas! Já oiço as discussões intermináveis que tínhamos sobre tudo e sobre nada, as apostas por um bolo no Riviera, as decisões sobre o filme a ir ver, conversas simples que teciam momentos maravilhosos em que os dias se tornavam maiores e o sol ficava connosco mais tempo até desaparecer por entre o palmar. Dá-me o teu olhar antigo. Não te peço mais nada… e a vida continuará como um rio, simplesmente…

(A todos os meus Amigos de Quelimane)

Aqui, começava a Marginal. O muro do quartel e do outro lado ficava a Pérgula onde se vinha dizer adeus até o navio ser apenas um ponto negro ou então, conversar, conversar e porque não? Namorar…


3 comentários:

  1. Anónimo disse:
    Não sou de Quelimane mas acho o texto tãobonito, tão cheio de sentimento que até tenho pena de não fazer parte desse grupo de amigos. Penso que ninguém pode ficar indiferente ao que escreveu. Parabéns. Um abraço.

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  2. fiquei encantanda... meia parva.. lançada assim para este passado que é meu.. que sempre cultivei com teimosia, sem, no entanto, fazer um blog assim tao bem feito... que é expressao maaxima do que eu poderia ter feito e nao fiz.. BEM HAJAS!
    Gostava de entrar em contaco contigo, Graça Pereira, lembro-me da tua cara.. que dizer.. tudo aconteceu procurando PAULINO ANDRé MOREIRA.. apareceu este imenso conto.. que é suspensao linda e real.. para mim, e toda a minha famiilia aq uem mandarei isto, que aliaas jaa' recebi do meu irmao, ha' uns 40 minutos.. foi ele que andou à procura do nosso tio .. a senhora linda e elegante no casamento da Olivia Freire é a nossa tia Arminha, mae da Laurinha.. para quem de imediato vou mandar isto tudo..
    Bejinho grande e OBRIGADA. Muito oBrigada Manuela Moreira
    manuelamoreira@hotmail.it

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  3. Olá Manuela
    Obrigada pelo teu comentário. Este cantinho,onde há uma palhota onde recebo os amigos,tem duas finalidades: reviver 33 anos que vivi na minha terra e encontrar todos aqueles que, de algum modo se entrelaçam na história da minha vida. Eu adorava a Arminda! Fui ao casamento dela tb, como não podia deixar de ser.. Meu mail mgmachado@netcabo.pt Espero pelos vossos comentários para continuar esta história que é tb a dos meus amigos. Abraços Graça.

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