quinta-feira, 9 de abril de 2009

Os Nossos Domingos (II)

.
As Águas Quentes

Desde miúda que este era um local aprazível para muitos e muitos passeios que aqui fizemos. Primeiro com meus pais e família e depois com amigos. O cheiro forte a enxofre dava-nos conta que chegáramos ao nosso destino. Uma pequena clareira na densa floresta abria-se surpreendentemente aos nossos olhos: a água borbulhava entre as grandes pedras a uma temperatura onde se podiam cozer ovos. De onde a onde grandes cortinas de vapor subiam até ao céu. A vida corria ali sossegada, numa paz imensa. Era um matagal quase virgem que fazia de moldura a esta piscina natural. Sim piscina porque em determinadas zonas onde a temperatura era mais amena tomavam-se banhos deliciosos. E depois tal como as lagartixas, fazia-se sauna em cima dos rochedos… Muito perto daqui existia uma pequena ilha com uma flora exótica e que servia de meta para alguns afoitos que nadavam olimpicamente as suas braçadas e mariposas. As nossas conversas e gargalhadas repercutiam-se entre o verde cerrado assustando a passarada e alguma caça por ali existente. A muitos quilómetros dali havia um ou outro aglomerado indígena. Estávamos pois no fim do mundo longe de qualquer ajuda que precisássemos o que tornava a aventura ainda mais prodigiosa.

O arroz de frango que a minha mãe fazia, aprontava-se entre folhas e mais folhas de jornais que envolviam o grande tacho. Não faltava também a bola de carne e outros pitéus que eram o nosso deleite. Depois de atestados deitávamo-nos à sombra das árvores seculares, de papo para o ar e braços cruzados deixando vaguear o olhar atraído pela incomparável maravilha. O sol já um pouco oblíquo, acendia uma fogueira imensa no espelho das águas. Os mais velhos dormiam e os mais novos ouviam rádio, conversavam, puxavam do seu reportório de anedotas ou de cantigas. Outros ainda jogavam às cartas. Quadros de policromia variada e doce da minha Zambézia.

Ao lusco-fusco, com imensa pena regressávamos a Quelimane. Pela última vez alongávamos os olhos por aquela variedade de verdes entre fumaça, perpassando já na alma um sentimento de saudade. Interiormente comprometíamo-nos: “Havemos de voltar”.



Era o começo de uma série de visitas às Águas Quentes que só terminariam com a minha saída de Moçambique (Eu, de costas. Uma catraia…)



Dá para ver como era a picada… A areia fofa engolia as rodas dos automóveis. Desta feita ficamos enterrados… Pobre do nosso motorista (era o Adão, da Fazenda) viu-se aflito com a ajuda das duas sereias!



Se me saísse o euromilhões comprava uma ilha assim… mas que ficasse necessariamente mergulhada no Índico.


2 comentários:

  1. Anónimo disse:
    Conheci o Adão da Fazenda que casou com uma rapariga mista, parenta de um amigo meu. Nunca mais soube nada dele.
    Monhé

    ResponderEliminar
  2. O nome desse lugar, onde fui tanta vez era Inhafuga(?)ou nhafuga(?) As arvores frondosas que por ali havia, eram as tamarineira ou tamarineiro. o fruto é o tamarino ou tamarindo, que eu tanto gostava!
    Obrigada pelas recordações Graça,
    Um bjs. Lena

    ResponderEliminar