Não sei bem quando foi, mãe. Apenas sei que havia um caminho, o céu, tu e eu.
Íamos andando silenciosamente pelo caminho liso, e nascia do ar uma música levezinha, feita do calmo encanto do vento sobre os campos. À nossa beira nasciam papoilas sorrindo. Vinha ter connosco o perfume branco e agreste que fugia dos campos escondidos, e, dentro de mim, deslizava um grande mar de emoção. E então, minha Mãe, então eu descobri em ti o sorriso trémulo da papoila mais leve e amarrotada pela música do vento. Então eu fui pelos caminhos lisos e desfeitos dos teus cabelos soltos, em busca da tal papoila contente que eu encontrara em ti.
E quando o sol deixou tombar os olhos cansados, de mansinho, eu descobri que a cada amanhecer dos teus olhos havia também um poente, mãe. E quando no pressentimento da noite, a luz quieta e pura veio descansar a sua claridade no silêncio triste do entardecer, então eu descobri o brilho fugidio e doce da tarde no teu olhar, a força pura das árvores solitárias nos teus gestos e a pureza calma dos lagos anoitecidos no teu coração.
Depois, mãe, quando a noite era já profunda e calma sobre nós, eu peguei na música do vento e no meu sonho e fiz daí um hino comovido ao mistério simples que nos une. E no fim, quando as estrelas vieram chorar os seus desejos brandos sobre o mundo, eu sentei-me junto de ti, encostei a cabeça aos teus joelhos e na paz doce da tua presença, na noite, eu chorei com as estrelas, feliz só de me lembrar que te tinha…
Tenho pai,tenho irmãos,mas não tenho mãe...
ResponderEliminarQuem não tem mãe,não tem familia....
Olá feiticeira!
ResponderEliminarEnternecedor o seu texto..
Sinto-o como se fosse eu a escreve-lo.
Simplesmente envolvente e belo..
POTT
Olá, meu amigo
ResponderEliminarSão engraçadas as conjecturas que fazemos acerca da vida ou da felicidade dos outros… Mas antes deixe-me dizer-lhe: gostei da sua flor, desenhada possivelmente a pensar na sua mãe. As mães merecem todas as homenagens do mundo, ainda que não estejam connosco. Elas são as ausentes mais presentes na nossa vida. Também eu lhe levei flores, as que ela mais gostava: gladíolos brancos e, junto à sua sepultura, senti a mesma aragem doce que nos unia naquele fim de tarde já distante. Não posso fazer o mesmo com o meu pai que dorme o seu último sono em terra moçambicana que ele tanto amava. Tenho dois homens na minha vida: um só irmão, maravilhoso, autêntica haste do mesmo pé e um filho único que é todo o meu tesouro. Também ontem tive direito a flores, prendas e muito amor. Contudo, as minhas mãos e a minha vida não estão vazias porque eles, os que partiram, me ensinaram a amar a vida, a sorver de cada momento como se estivesse a iniciar o meu caminho, a pôr a “mochila” às costas a cada alvorecer, soltar as amarras e pôr-me ao largo.
Obrigada por me dizer o que sentiu quando leu o que escrevi… Tem uns aninhos e foi publicado no Jornal Notícias de Lourenço Marques onde eu dava o meu contributo assiduamente… Tudo é recordar, com a certeza porém… de que tudo é viver!
bjs