quinta-feira, 4 de junho de 2009

F.A.E.


“Do Chuabo Com Amor…


A FAE teve o condão de alterar radicalmente os hábitos das gentes locais… Desde que se iniciaram os trabalhos, que se foram acelerando à medida que a data da inauguração se aproximava, até depois do momento culminante da cerimónia oficial da abertura, o movimento de pessoas e automóveis atingiu limites nunca dantes vistos. Quelimane viveu e continua a viver momentos próprios das grandes urbes. Os acontecimentos sucedem-se vertiginosamente deixando atordoados os de passo mole: a inauguração, o critério automóvel, o circo Mariano que chegou na manhã da inauguração e à noite dava o seu primeiro espectáculo, o “Teatro do nosso Tempo” de Jacinto Ramos. O encontro de futebol entre a Selecção da Zambézia e a Selecção Provincial, o banquete gigante no dia da inauguração com a presença do Governador-geral, a exposição de pintura, a segunda tiragem do “NB”, posta a circular poucas horas depois da inauguração, com o suplemento diário da “Feira” que foi um sucesso, enfim, o pacato cidadão desabituado de tais velocidades é arrancado do marasmo em que vivia.
Tudo isto representa muito trabalho, um trabalho tão gigantesco como gigantesca é esta Zambézia que quis mostrar aquilo que as suas gentes serão capazes de fazer se lhes oferecerem essa oportunidade. Com raiva o Zambeziano despiu o casaco, lançou-o furioso ao chão e gritou: “Olhai senhores, do que seremos capazes se nos deixarem se não nos tolherem os movimentos com essa inútil burocracia, com esses milhentos tipos embirrentos das secretarias a impedirem-nos de andar para a frente. Senhores, soltem as amarras que nos tolhem os movimentos e vereis esta Zambézia impressionante de riqueza a dar trabalho e pão a milhares de necessitados. Mas, por favor, livrai-nos dos calaceiros, dos inúteis. Dos que nada fazem, excepto, nada deixar fazer aos outros.” (Revista da FAE, 24 de Agosto de 1969)

NOTA: Este grito é, infelizmente, ainda actual na portentosa Zambézia. A riqueza do seu solo, o manancial que deve ser explorado por todos os zambezianos, ficou lá! Os “retornados” (falo por mim e talvez por milhares) apenas trouxeram a saudade. No passado, mostrou-se a vontade de um povo de um modo grandioso.
Amigos da actual Zambézia, façam hoje quantas “FAE’s” sejam precisas mas façam-nas para que ao menos não tenham sido em vão tantos sonhos desfeitos, tantas despedidas dolorosas e tantas lágrimas dos teus filhos, zambezianos, de todas as cores.


Pavilhão da Associação Hindu da Zambézia. Muito bonito. Foi o único que não ficou pronto antes da inauguração, talvez pela riqueza e fausto pretendido para o seu interior. Sabe-se que da Índia vieram de avião centenas de “saris” para serem ali leiloados. Contudo o Governador-geral visitou-o e foi recebido pela Direcção da Associação Hindu.


Pavilhão dos Caminhos de Ferro. Simples mas muito original. Foi dos mais visitados na FAE. Ao lado, o Pavilhão do Entreposto que não deixou os seus créditos por mãos alheias.


A réplica do velhinho quiosque do Refeba, na Marginal que, entretanto, era deitado abaixo para dar lugar a uma obra nova de linhas modernas. Mas ali estava, na FAE, o pavilhão do Refeba, relíquia de tão gratas recordações e tradições para a gente da Zambézia e particularmente de Quelimane. Cumpriu a sua obrigação e algumas “borracheiras” ficaram aqui célebres. Agora, perpetua-se neste espaço a miniatura que fará recordar aos mais saudosistas, o quiosque da Marginal.


O Pavilhão do Grémio do Chá. Era realmente muito bonito. Dentro, com todo o requinte, era sempre servido a cada visitante uma saborosa e quentinha chávena de chá.


Pavilhão das Missões, onde foram expostas muitas e variadas obras de artesanato da Zambézia. Aqui, visita do Governador-geral Dr. Baltazar Rebelo de Sousa e esposa.


Pavilhão Ferreira e Faria – Vencedor do Grande Prémio do certame “pavilhão de melhor concepção e arrojo arquitectónico”.
Para o prémio de maior originalidade de concepção, classificaram-se os seguintes pavilhões: 1ºlugar- Sena Sugar; 2º- Madal e 3º- BNU. Melhor decoração: 1º lugar- BNU; 2º- Madal; 3º- Ferreira e Faria. Melhor pavilhão de Comércio: 1º lugar- Madal; 2º- Companhia da Zambézia e 3º- Companhia do Boror. Melhor pavilhão comercial: 1º lugar - Ferreira e Faria; 2º- Marropino e 3º- Sacras. O júri foi constituído pelo Engº João Chaby, Sérgio Guerra e António Sheppard da Cruz.


No pavilhão do BNU, expunha-se a maqueta do novo edifício, então, em construção.


Pavilhão da Lusalite, simples mas uma montra condigna de todos os seus produtos.


Pavilhão do NB onde se publicava diariamente o jornalzinho “A FEIRA” com duas tiragens gratuitas por dia e o povo que se pendurava em massa para levar notícias frescas para casa. Aqui também visitado pelo Governador-geral, Governador Distrital, pelo senhor Bispo, D. Francisco, e por muitas individualidades de todo o país.


Ficaram por mostrar os seguintes pavilhões: Companhia Têxtil do Pungué; Agências Mundiais; Zuid; Monteiro e Giro; União Comercial de Moçambique: Pendray Sousa; Gráfica Transmontana; Dorna Baião; Ana do Chinde; Steia; Cafum; 2M; e muitos outros de difícil enumeração. O número de visitantes ultrapassou os vinte mil nesta primeira edição da FAE.


5 comentários:

  1. Acabo de dar a volta a toda a Fae e fiquei feliz. Obrigado. O seu apelo é de certeza de todos os zambezianos que um dia deixaram a sua terra. Monhé

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  2. Que saudades da minha terra :(

    Um beijinho para si.

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  3. Já vem fazendo parte da minha rotina,visitar o teu "blogue".
    Aguardo sempre com alguma ansiedade as belas surpresas que me propocionas não só relativamente aos textos publicados como também às boas fotografias.
    Temos de combinar a tua vinda à minha quinta aqui no Douro. Tenho quase a certeza que vais gostar.
    Um beijo da amiga .

    Regina

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  4. Olá Ellen
    Benvinda a este blog zambeziano/moçambicano- está na sua terra e é tão bom escrever de coração para coração.Um grande beijo Graça

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  5. Olá Graça:
    Finalmente consegui arranjar uns minutinhos para agradecer tudo o que tens escrito no teu blogue, não falando nas fotos que acho excelentes. Então estas da FAEZ...é só saudades de tempos idos!...
    Continua!...
    Bjs.
    Luís Bulha

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