Por mim poderia ser todo o ano. Aceitaria pôr um leve agasalho pela manhã bem cedinho e depois, à noite quando chegasse o cacimbo, durante três meses e nada mais. Mas agora já fico feliz com os três meses de verão! Como tudo muda.
Os dias sucederam-se a correr na mesma vertigem que já vem de longe e já estamos a meio do ano. Gostaria de ter conciliado os meus passos com tudo o que gostaria de ter feito e que fica aquém do desejado. Os meus amigos aconselham: põe tudo na tua agenda de carteira e programa as coisas. Acho-lhes graça! Será que eles conseguem? E os imprevistos, mais que muitos, como os contornam? Claro que tenho uma agenda mas apenas para não perder o fio à meada. O que aparece cada dia é muito mais do que aquilo que estava supostamente ordenado. E entro então numa roleta louca. À noite tenho a sensação de ter vivido mais. Mas é apenas uma sensação. Quando faço o balanço descubro que o cansaço está na razão inversa do produzido. Valerá a pena andar a correr?
Que saudades do tempo cheio de tempo da minha terra! Até era usual ouvir-se: “estou a matar o tempo”. Havia tempo para enchermos as manhãs de poemas, para cantar a liturgia do trabalho, para abrir a porta do nosso coração aos amigos, para nos espreguiçarmos deliciosamente ao sol, para fazer um bolo e partilhá-lo com alegria, para ler um livro e tomar apontamentos das passagens que mais nos marcaram, para adubarmos a esperança, para namorarmos (não através de mensagens e da internet…) e para trocarmos ternuras e carinhos, fazendo-nos sentir homens e mulheres e não robots pendurados apenas por um click de um botão.
Gostaria de ficar assim a vagar com as nuvens… A observar os botõezinhos a romper, determinados, o solo molhado por estes dois dias de chuva. Assistir ao acasalamento das borboletas. Escutar a harmonia da natureza aqui tão perto. Dançar a vida à volta de um canteiro. Brincar com o meu gato e os meus cães… Mas, mas o relógio bateu doze badaladas e o almoço? E a roupa por apanhar? E a consulta de logo à tarde? E o programa desta semana que vai exigir muito de mim? Meu Deus, como estou atrasada para tudo!
Já não posso “voltar aos dias sublimes e longínquos da minha infância”. Esqueço o rumorejar dos “Bons Sinais”, a visita à velha Igreja, o lanche no Riviera e o passeio até à praia…
A minha agenda transborda pelo peso dos dias. O Verão já não é o que era e a minha vida também não. E fico-me por aqui? Não sou eu que costumo dizer aos meus amigos que a minha casa é uma Tenda? Então é porque tenho noção de que sou apenas um peregrino. E o que faz o peregrino? Cada dia, ao alvorecer, constrói o seu dia com a alegria habitual do começo das coisas. Enche o coração com tudo o que traz da lonjura dos tempos e dos caminhos e espera o lento amadurecer dos frutos. Ao fim do dia sacode o pó das sandálias e olha as estrelas que falam da sua terra e entende que a sua riqueza está no muito que viveu e no muito que foi seu caminho.
(Fotos de Nuno Machado)
Olá Minha amiga do carreiro!
ResponderEliminarNós os peregrinos escutamos o silêncio! Caminhamos em reflexão, orando e meditando pela Paz. A nossa busca é interior. Os nossos passos cruzam no tempo um novo caminho místico na senda da alma que ilumina os lugares desconhecidos.
Os nossos caminhos , são caminhos de renúncia e identidade, que vem de dentro para fora, e só os podemos transitar em solidão. São passos íntimos, secretos e espirituais que remontam do princípio dos tempos.
Boa noite..e bom fim de semana...
Ontem tentei comentar aqui,mas não consegui.
ResponderEliminarNão sei bem se foi problema da net,ou se falta de habilidade minha rssss...
Já não é só por ´vir beber das suas memórias da nossa terra, mas...porque decobri...que aqui...encontro alimento para a alma através do que leio!Em suma:Gosto muito de a ler!
Olá Ana Paula
ResponderEliminarO problema foi na net...A sua habilidade está bem e recomenda-se.
Como já escrevi algures aqui no meu blog, eu vivo de e para os afectos. Não sei estar de outra forma na vida por isso, é natural que as nossas almas se entendam. Venha sempre e... tomaremos um chá, porque não? Graça
Isso mesmo:um chá e do Gurué certo?Então estamos combinadas assim!E...já agora...posso tratá-la por tu?É que assim, acho que puderemos sentirmo-nos mais próximas.
ResponderEliminarTambém para mim os afectos são prioridade e acho que por isso está explicada esta empatia.
Paula
Curioso: ia pedir-te o mesmo! Não faz sentido tanta cerimónia entre duas patrícias...
ResponderEliminarOs colegas eram: René Trindade, Mizé Costa,Florinda Carvalho, Leonor Campos, Gaby Galhardo, Belita Oliveira e muitos mais que neste momento não me vêm á memória. No Colégio do Gurué andaram também a Lidia e Teresa mendes, minhas amigas e vizinhas em Quelimane. Sabes do que tenho mais saudades do Gurué? Para além da imensidão verde do chá, apaixonavam-me aquelas hortense muito azuis... A Mizé e a Florinda, enviaram-me pelo Faria, um avião cheio delas na véspera do meu casamento e, foi com elas que decorei a Igreja toda...Posso esquecer o Gurué? Beijos Graça