Construí à minha volta uma muralha de silêncio para que ninguém visse as minhas lágrimas e fechei os meus ouvidos ao sussurro das árvores e ao cantar dos pássaros.
Sentei-me no meu canto e respirei aliviada: estava finalmente protegida. Mas enganei-me. As muralhas não nos protegem, antes isolaram-me de tudo aquilo que eu gostava.
Deixei de ver à noite o céu abrir uma transparente cortina e mostrar-me, como pérolas de um colar, uma imensidão de estrelas.
Deixei de ver os pequenos diamantes contra a luz que observo no chorão do meu jardim pouco depois de ter chovido… Deixei de sentir a magia das madrugadas que nascem com a sinfonia da aurora. Perdi o encanto das conversas sussurradas num café como quem fala de um mistério. O pôr-do-sol nunca mais pintou com tons de laranja a janela do meu quarto porque a muralha que construí era demasiado escarpada e nem a brisa cantarolava como de costume à minha volta.
Recusei-me a continuar de olhos fechados e acreditei que conseguiria voar como as gaivotas. Abri uma fenda na minha muralha e descobri que o mundo continuava o mesmo: insensível à minha dor. Um campo de papoilas anunciava-me que a primavera estava a chegar e o vento que passava pela fresta era cálido, morno como um beijo.
Tinha feito demasiadas despedidas de tudo e de todos e nem por isso me senti mais protegida da dor e da saudade. Era preciso preparar com urgência o reencontro das coisas e das pessoas. Faria com as minhas próprias mãos uma ponte. A ponte une as margens, a muralha isolou-me.
Nada acontece por acaso e tudo tem o seu tempo e é com a mordaça de hoje que amanhã cantaremos vitória acenando-a como bandeira de paz. Compreendi de imediato que seria eu a construir a minha vida e saberia levar o barco a bom porto, desde que soubesse o rumo e tivesse forças para em cada manhã cortar as amarras e partir de novo.
Voar com as gaivotas, saltar de flor em flor com as borboletas e beber em todos os regatos que bordam o verde do meu bosque de Damasco.
Não, não é demasiado tarde para aprender. Basta descobrir que as muralhas nos esmagam e as pontes levam e trazem alegria. Eu acredito que sou capaz de voar bem mais alto que a muralha que construí. O importante é que compreenda que só na partilha encontrarei um rumo novo na minha vida.
Texto lindo e escrito com sentimento... antes dizer, belo poema :)
ResponderEliminare às vezes é difícil encontrar como partilhar, mas não é impossível.
Beijinho para si Graça.
Olá!
ResponderEliminarEntão companheira?
Não gosto disso...
Esqueça as muralhas e cante Ivan Lins
Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido
Começar de novo e só contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Sem as tuas garras sempre tão seguras
Sem o teu fantasma, sem tua moldura
Sem tuas escoras, sem o teu domínio
Sem tuas esporas, sem o teu fascínio
Começar de novo e só contar comigo
Vai valer a pena já ter te esquecido
Começar de novo...
...e conte também com os seus amigos
Um beijo
POTT
Há instantes assim, em que nos sentimos invadidos por uma estranha incerteza. Noutros instantes, porém, evadimo-nos e vamos por aí, sem rumo.Nem remo…
ResponderEliminarQuerida amiga.
ResponderEliminarDizes bem, as pontes levam e trazem alegria.
Como amiga da adolescência, espero poder fazer parte dessa ponte, para podermos ainda partilhar de bons momentos que o futuro nos há-de proporcionar,.
Em breve enviar-te-ei algumas fotos do nosso tempo de juventude.
Um beijo
Querida Amiga
ResponderEliminarA ponte, irá ser este blogue que unirá todos os amigos espalhados pelo mundo! Conto sempre contigo. Quando puder irei fazer-te uma visita. Um beijo Graça.
Graça:
ResponderEliminarPassamos muito da nossa vida a construir muralhas ou a arremeter contra muros invisiveis, não deixando portas nas muralhas e não tentanto tornear os muros.
É uma luta inglória do nosso espírito no desassossego da existência, deixamo-nos aprisionar, de forma voluntária, nas angústias do quotidiano, em vez de procurar a saída, viver o que de belo tem a vida...
Beijos.
Carlos Gonçalves