terça-feira, 9 de junho de 2009

Vem Aí o Verão


Por mim poderia ser todo o ano. Aceitaria pôr um leve agasalho pela manhã bem cedinho e depois, à noite quando chegasse o cacimbo, durante três meses e nada mais. Mas agora já fico feliz com os três meses de verão! Como tudo muda.
Os dias sucederam-se a correr na mesma vertigem que já vem de longe e já estamos a meio do ano. Gostaria de ter conciliado os meus passos com tudo o que gostaria de ter feito e que fica aquém do desejado. Os meus amigos aconselham: põe tudo na tua agenda de carteira e programa as coisas. Acho-lhes graça! Será que eles conseguem? E os imprevistos, mais que muitos, como os contornam? Claro que tenho uma agenda mas apenas para não perder o fio à meada. O que aparece cada dia é muito mais do que aquilo que estava supostamente ordenado. E entro então numa roleta louca. À noite tenho a sensação de ter vivido mais. Mas é apenas uma sensação. Quando faço o balanço descubro que o cansaço está na razão inversa do produzido. Valerá a pena andar a correr?
Que saudades do tempo cheio de tempo da minha terra! Até era usual ouvir-se: “estou a matar o tempo”. Havia tempo para enchermos as manhãs de poemas, para cantar a liturgia do trabalho, para abrir a porta do nosso coração aos amigos, para nos espreguiçarmos deliciosamente ao sol, para fazer um bolo e partilhá-lo com alegria, para ler um livro e tomar apontamentos das passagens que mais nos marcaram, para adubarmos a esperança, para namorarmos (não através de mensagens e da internet…) e para trocarmos ternuras e carinhos, fazendo-nos sentir homens e mulheres e não robots pendurados apenas por um click de um botão.
Gostaria de ficar assim a vagar com as nuvens… A observar os botõezinhos a romper, determinados, o solo molhado por estes dois dias de chuva. Assistir ao acasalamento das borboletas. Escutar a harmonia da natureza aqui tão perto. Dançar a vida à volta de um canteiro. Brincar com o meu gato e os meus cães… Mas, mas o relógio bateu doze badaladas e o almoço? E a roupa por apanhar? E a consulta de logo à tarde? E o programa desta semana que vai exigir muito de mim? Meu Deus, como estou atrasada para tudo!
Já não posso “voltar aos dias sublimes e longínquos da minha infância”. Esqueço o rumorejar dos “Bons Sinais”, a visita à velha Igreja, o lanche no Riviera e o passeio até à praia…
A minha agenda transborda pelo peso dos dias. O Verão já não é o que era e a minha vida também não. E fico-me por aqui? Não sou eu que costumo dizer aos meus amigos que a minha casa é uma Tenda? Então é porque tenho noção de que sou apenas um peregrino. E o que faz o peregrino? Cada dia, ao alvorecer, constrói o seu dia com a alegria habitual do começo das coisas. Enche o coração com tudo o que traz da lonjura dos tempos e dos caminhos e espera o lento amadurecer dos frutos. Ao fim do dia sacode o pó das sandálias e olha as estrelas que falam da sua terra e entende que a sua riqueza está no muito que viveu e no muito que foi seu caminho.

(Fotos de Nuno Machado)

5 comentários:

  1. Olá Minha amiga do carreiro!

    Nós os peregrinos escutamos o silêncio! Caminhamos em reflexão, orando e meditando pela Paz. A nossa busca é interior. Os nossos passos cruzam no tempo um novo caminho místico na senda da alma que ilumina os lugares desconhecidos.
    Os nossos caminhos , são caminhos de renúncia e identidade, que vem de dentro para fora, e só os podemos transitar em solidão. São passos íntimos, secretos e espirituais que remontam do princípio dos tempos.
    Boa noite..e bom fim de semana...

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  2. Ontem tentei comentar aqui,mas não consegui.
    Não sei bem se foi problema da net,ou se falta de habilidade minha rssss...
    Já não é só por ´vir beber das suas memórias da nossa terra, mas...porque decobri...que aqui...encontro alimento para a alma através do que leio!Em suma:Gosto muito de a ler!

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  3. Olá Ana Paula
    O problema foi na net...A sua habilidade está bem e recomenda-se.
    Como já escrevi algures aqui no meu blog, eu vivo de e para os afectos. Não sei estar de outra forma na vida por isso, é natural que as nossas almas se entendam. Venha sempre e... tomaremos um chá, porque não? Graça

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  4. Isso mesmo:um chá e do Gurué certo?Então estamos combinadas assim!E...já agora...posso tratá-la por tu?É que assim, acho que puderemos sentirmo-nos mais próximas.
    Também para mim os afectos são prioridade e acho que por isso está explicada esta empatia.
    Paula

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  5. Curioso: ia pedir-te o mesmo! Não faz sentido tanta cerimónia entre duas patrícias...
    Os colegas eram: René Trindade, Mizé Costa,Florinda Carvalho, Leonor Campos, Gaby Galhardo, Belita Oliveira e muitos mais que neste momento não me vêm á memória. No Colégio do Gurué andaram também a Lidia e Teresa mendes, minhas amigas e vizinhas em Quelimane. Sabes do que tenho mais saudades do Gurué? Para além da imensidão verde do chá, apaixonavam-me aquelas hortense muito azuis... A Mizé e a Florinda, enviaram-me pelo Faria, um avião cheio delas na véspera do meu casamento e, foi com elas que decorei a Igreja toda...Posso esquecer o Gurué? Beijos Graça

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