quarta-feira, 27 de maio de 2009

O Meu Jardim


Se há alguns anos atrás me dissessem que jardinar seria uma das minhas paixões, não acreditaria! Ainda bem que mudamos. É no meu jardim que eu reúno momentos tão dispersos da minha vida. Gosto dos apelos no seu silêncio. Enquanto corto a sebe a minha alma está aberta a todas as emoções.
Está um dia de sol aberto, maravilhoso. Todos se queixam: está calor! Eu respiro feliz: que delícia! Gosto do sol a morder-me na pele. As cores espalhadas pelo verde extasiam-me. Os aromas estonteiam-me e trazem-me recordações. A chilreada de centenas de passarinhos, que este ano invadiram todo o espaço exterior, é delícia para os meus ouvidos. Melhor que as partituras dos mais famosos, pelo menos mais natural.
Tesourada daqui, tesourada dali e os pensamentos são como os ventos, chegam à hora menos pensada. Como fugir deles? Não sei como fechá-los… Há um perfume de rosas (postas por ti) que reverdece as lembranças. Nesse dia tinhas aparado toda a sebe do jardim, as heras dos muros do quintal e do pátio. Foi um trabalho exaustivo, parecia-te que o mundo acabaria nesse dia e era preciso deixar tudo em ordem. Não acabou mas aproximava-se a curva da estrada. Atrás de ti ia juntando todos os ramos para ser depois mais fácil apanhá-los. Do fundo do quintal disseste-me: “Belo trabalho, miúda, belo trabalho”.
À noite, um vento gélido varreu as estrelas do céu e entrou-nos pela casa dentro. Começava a tua via-sacra. E eu, tal como Maria, acompanhava-te numa angústia, sem saber o que fazer. Mais uma vez tive a noção que a vida é a sala de espera para a eternidade. Escutara o teu canto de cisne, assistira ao teu desafio redobrado à volta da sebe, como andorinha estonteada à procura de fazer o seu ninho… Tudo eram sinais de esperança! No entanto, o teu passo acertava-se já com outros passos de um outro caminho. Partiste daí a um mês. Nem mais. Nem menos. Sempre foste rigoroso em tudo e por último não podias falhar.
É no jardim que eu sinto mais a tua presença e talvez por isso goste tanto dele e o cuide com tanto amor. Mas não há só lágrimas por cima das tuas rosas… Oiço rumores de beijos, risadas cúmplices de quem, apesar dos anos, ainda sabia namorar. A alegria de saber que no meu coração, e no teu, existia um lugar especial para nós dois.
Hoje, sem estares comigo, estás presente. Vejo-te nas flores que me rodeiam. A distância? Ela não consegue destruir aquele fio invisível que nos prende. Continuas ali, no nosso jardim… Apenas agora, quem poda a sebe sou eu.
De um lugar para onde todos nos encaminhamos, vais fiscalizando o meu trabalho e sinto no coração pequenas mensagens, como se, de facto, o nosso diálogo não tivesse ainda terminado. E o coração não me engana. Não sei dimensioná-lo, não sei descrevê-lo… mas esse lugar maravilhoso existe mesmo.
Gosto do meu jardim: nele colho sorrisos com que enfeito os meus lábios, recolho gotas de beijos e conheço novamente o gosto da felicidade. Leio e releio os livros que mais gosto. Estudo, pesquiso e, principalmente, reflicto… A Vida! Mas há mais vida? Então não é o passado todo e este presente? Não. Falta o amanhã. Nem que seja apenas um dia, mas há-de ser feliz, pleno e sem lamúrias.
Um dia, uma amiga que veio passar uns dias comigo disse-me: “Quem tem um jardim como o teu não tem o direito de estar triste”. E porque haveria eu de estar?

3 comentários:

  1. Olá!

    Acabei de ler o teu texto, "O jardim".Adorei...
    Eu também tenho um jardim, que felizmente a sua manutenção é acompanhada pelo meu marido, com todo o rigor, característica própria dos homens em geral.
    A nós, que tivemos o previlégio de vivermos a natureza do ´Indico e do rio dos Bons Sinais, penso que seria quase impossível não desfrutarmos dum jardim.
    Estou a responder-te,precisamente no meio do meu jardim na companhia dos meus cães, gato e ao som de uma voz maravilhosa que canta como um rouxinol. É o meu marido. Não estou a brincar , é mesmo verdade , tenho um homem, que
    adora cantar, tocar e sobretudo dedica-me lindos poemas e cações, com letra e música própria, é uma felicidade...
    Tens de vir cá, penso que irás gostar.Um beijo, Regina Vale Costa.

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  2. Espero que tenhas recebido o meu comentário,diz-me alguma coisa. Fico aguardar, eu agora também tenho este mail. Um beijo. Regina

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  3. Olá Regina, venho agora mesmo de lá de fora, do jardim, e encontrar este teu comentário foi uma delícia. O teu jardim está completo, não lhe falta flor nenhuma. Até tens uma flor especial. Cuida dela, trata-a porque é o maior bem que podes ter, acredita. Decididamente tenho de ir ouvir o teu rouxinol privativo. É lindo encontrar tanta sensibilidade num homem, que hoje esqueceram um pouco o ter coração.
    Beijos
    Graça

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